segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Tanto como treinar… é importante saber parar!


Muitas pessoas pensam que quanto mais treinarem, melhor vai ser a sua performance desportiva, o que em nada se aproxima à verdade! O corpo humano tanto necessita de uma prática desportiva regular, como precisa de uma equilibrada alimentação e um repouso em dose suficiente, para que se propicie um eficaz funcionamento das suas funções vitais.
Neste sentido o artigo desta semana vai incidir sobre um aspeto enunciado anteriormente, que é considerado crucial para a obtenção de um eficaz rendimento desportivo, o repouso.
Sempre que o nosso corpo desempenha qualquer função, seja ela andar, pensar, ou simplesmente respirar, proporciona um gasto energético. Quando realizamos uma atividade desportiva, o mesmo acontece, só que em maior escala. O exercício provoca elevados desgastes energéticos e destruição de fibras musculares, que a certo nível, só são recuperadas no repouso. Este período de repouso é fundamental entre exercícios de uma sessão de treino e entre sessões de treino, sendo que a necessidade de descanso está dependente das características do treino e do próprio desportista. Quando os desportistas não cumprem com os requisitos mínimos do repouso, após esforço intenso, entram num nível de fadiga, denominado pelos especialistas da área do treino desportivo como overtraining. O overtraining proporciona que o indivíduo tenha cada vez mais dificuldade em realizar a recuperação de uma sessão de treino, e uma incapacidade de ter o mesmo desempenho em sessões seguintes. Mas os prejuízos vão muito para além dos que referi, existe uma maior probabilidade de contrair lesões, de se instalar um mal-estar, uma falta de motivação pelo treino, insónias, perda de peso, alterações de humor e irritabilidade.
Assim sendo, quando o treino é muito intenso, ou o volume ultrapassa a capacidade de recuperação do organismo, o resultado da prática desportiva é mais prejudicial que benéfica.
Uma das fazes essenciais da recuperação é o respeito pelas horas de sono. Desportistas de alta competição têm horas de recolher a casa, não podendo ser vistos em espaços públicos a partir de determinada hora do dia, sob o risco de serem severamente penalizados pelos clubes que representam. Estas medidas impostas pelos clubes, surgem da necessidade de se assegurar que os desportistas respeitem as horas de repouso. No meu ponto de vista pouco asseguram, porque como referi anteriormente em determinadas horas do dia, o repouso significa dormir as horas necessárias para que se tenha no dia seguinte, um estado ótimo de predisposição para a prática desportiva.
Ainda relativamente às horas de sono, deixo aqui algumas referências da repercussão que têm nos desportistas. Segundo a revista “Sleep”, dormir 12h poderá ser excessivo, aumentando 25% a 35% a probabilidade de ficar obeso. A universidade de Standford, refere também que dormir 10h poderá ser benéfico, no treino de velocidade e na otimização dos reflexos. O Journal of Clinical Investigation publicou um estudo que revela que a hormona de crescimento (GH), responsável pela recuperação muscular, é libertada durante o sono. Acrescenta também que um desportista deverá dormir entre as 8 e 10 horas. Se dormir menos de oito horas, poderá privar os músculos de receber estímulos suficientes para que recuperem. Para terminar, podemos verificar num estudo publicado no European Journal of Applied Physiology que a resistência dos desportistas diminuirá entre 15% a 40%, inibindo também o seu crescimento, nos desportistas que não respeitam o número mínimo de horas de sono.
Por todos os motivos que acabei de referir, sempre que pense em treinar, não se esqueça de assegurar o devido repouso, assim como uma adequada nutrição.
REMATE DA SEMANA: “O dever cumprido é a melhor maneira de fazer da própria consciência o mais alto lugar de repouso.” Emmanuel

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 26.11.2014

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

R.I.P. Pantera Negra (25.01.1942 – ETERNIDADE)

Não o vi jogar em direto, mas as imagens que fui vendo na RTP memória e na Internet são elucidativas. As imagens e não só! O respeito e admiração de gerações mais velhas, não me deixam dúvidas, era mesmo um desportista de excelência, uma leda do futebol mundial. Faleceu Eusébio da Silva Ferreira, mas viverá eternamente na história do desporto, na história da nossa nação e na história da humanidade. Hoje, dia de reis, é também dia deste Rei… ingressou mais um mortal no mundo dos imortais!
Com o Pantera Negra, tudo foi diferente! Muitas vezes os humanos morrem e só se lembram da importância que eles tiveram em vida quando por cá não estão! Eusébio, por ser mesmo especial, foi homenageado sucessivamente ao longo da sua vida! Foi-lhe dado mérito, foi-lhe reconhecido significado. Por este aspeto temos de reconhecer a importância da instituição Sport Lisboa e Benfica, que em devida altura se serviu dele, mas posteriormente também o serviu permanentemente e perpetuou o seu nome e a sua história de vida! Como sinal do que refiro, em 1982 foi-lhe atribuído pelo clube lisboeta a “Águia de Ouro”, o mais alto galardão do Benfica, em 1982. O clube da Luz, colocou uma estátua de Eusébio à porta do estádio. Passo a redundância, reconhecido terá de ser o reconhecimento feito por esta instituição ao Pantera Negra, com estas significativas provas de gratidão! Para mim a maior prova, até nem foram as distinções, foi o acompanhamento que fez da sua vida, assumindo o papel de família!
 
Se o Benfica usufruiu deste eterno craque, a nação não o fez por menos! Eusébio levou bem alto o nome de Portugal. Salazar considerou-o património do estado, ao ponto de não o deixar sair para outros clubes, segundo ele, impossibilitou que auferisse melhores ordenado. Só após o 25 de abril é que conseguiu disputar outros campeonatos.
 
A nação e o mundo souberam reconhecer o seu inexcedível valor. Eusébio terminou a sua vida como embaixador da Seleção Portuguesa, pois a sua relevância atingiu a sociedade, ultrapassando os limites do mundo do desporto, sendo considerado um símbolo da nação. Eusébio recebeu várias distinções nacionais e internacionais, destacando-se os colares de Mérito Desportivo (1981) e de Honra ao Mérito Desportivo (1990). Para que constate a transversalidade deste símbolo, Eusébio viu a sua imagem inspirar cronistas, realizadores, bandas de música, escultores ou outros criativos. Por Eugénio Silva, foi criada uma banda desenhada – Eusébio, o Pantera Negra, por Manuel Arouca uma mini série, da autoria de Manuel Arouca, um dos aviões da TAP tem o nome de Eusébio e até uma lontra no Oceanário foi batizada com o mesmo nome.
 
Estatisticamente a vida desportiva de Eusébio traduz “simplesmente” ao seguinte: em jogos oficiais marcou 671 golos pelas seleções e clubes. Pelo Benfica, foram 473 em 440 jogos oficiais. Foi 7 vezes o melhor marcador do campeonato português, 3 vezes o melhor marcador da Taça dos Campeões. Em determinada altura da sua carreira consegui marcar 32 golos em 17 jogos consecutivos. Referir que por 3 vezes marcou 6 golos num jogo. Foi 11 vezes campeão em 15 anos. Conquistou 17 títulos pelo Benfica: 11 campeonatos, cinco taças de Portugal e a Taça dos Campeões. E para terminar este resumo numérico, arrepia saber que só no joelho esquerdo sofreu 6 operações, um verdadeiro indicador de espírito de sacrifício, de capacidade de luta, de persistência, de ambição, de vontade de ser feliz através da sua atividade profissional! A sua vontade de vence tornou-o o primeiro português a ser considerado o melhor jogador da Europa, em 1965.
 
Fico triste porque partiu, mas por outro lado sossega-me o facto de ter sido acarinhado depois da sua vida fora das 4 linhas. Apesar de tudo, proporcionara-lhe sempre uma boa vida perto das 4 linhas! Eusébio, partiste…mas ficaste, não viverás…mas cá estarás! Eusébio, jogarás eternamente na equipa dos melhores de sempre! R.I.P
 
REMATE DA SEMANA: “Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça.” Leonardo da Vinci

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva

domingo, 24 de novembro de 2013

Bandeira Nacional nos Jogos Olímpicos de Inverno!


Na passada semana, fomos presenteados por mais uma notícia que nos deve encher de orgulho! Vamos ter dois portugueses a participar nos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi 2014 - Rússia, disputando as provas de slalom e slalom gigante. Camile Dias e Artur Hanse são dois esquiadores, que residem no estrangeiro pelo simples facto dos seus pais serem emigrantes. Camile Dias, de 17 anos, reside em Leysin, na Suíça, enquanto Artur Hanse, de 20 anos, mora em França. Ambos estão neste momento na Noruega, a treinar para uma prova que faz parte da preparação para Sochi 2014.

Como em muitas outras modalidades, o nosso país não tem condições para que o treino de alto rendimento em esqui seja realizado. A variação das condições climatéricas, as caraterísticas de pistas, infraestruturas que permitam treino em horários pós-laboral ou pós-escolar, entre outras, infelizmente não possibilita que esquiadores de topo, desenvolvam a sua preparação para a competição no nosso país! Neste sentido treinar em Portugal, tendo esporádicas oportunidades de treinar no estrangeiro, são condições escassas para atingir patamares competitivos superiores, sendo uma luta desleal competir com esquiadores que residem em permanência nas imediações das grandes estâncias de esqui. Apesar de tudo, deve ser reconhecido o trabalho desenvolvido pela Federação, pelos clubes, treinadores e esquiadores, que mesmo com condições que se afastam e muito das ideais, continuam a dignificar as cores nacionais.

Seria importante proporcionar condições aos esquiadores que residem em Portugal, para que pudessem passar mais tempo em centros de treino de esqui, vindo esporadicamente a Portugal, e não o contrário. Só assim se poderia criar condições para que os esquiadores treinassem todos os dias e competissem todas as semanas, como acontece com outras modalidades desportivas. Tenho a consciência que este seria um interessante salto qualitativo ao nível do rendimento desportivo, sei também que seria um salto nas despesas das organizações responsáveis. Muito sinceramente, tenho duvidas que o importante pilar das financeiro, aguentaria um projeto desportivo desta envergadura. Apesar de ser um grande entusiasta do futebol, existem alguns senhores das decisões que ainda não perceberam que nem só futebol é desporto! Que os bons resultados nos Jogos Olímpicos, trazem retorno para a marca Portugal! E que os nossos desportistas merecem esses reconhecimento!

Inédito também é o facto de termos dois esquiadores apurados para os Jogos Olímpicos, o que nunca aconteceu na história do esqui. Por esse motivo os responsáveis pelo feito, estão de parabéns!

Desejo de boa sorte para os nossos esquiadores! Certamente nos vão obrigar a acompanhar o seu trajeto nos Jogos Olímpicos! Que este salto no número de representantes em Sochi, seja o empurrão para que se trabalhe cada vez mais e melhor na modalidade. Se temos taletos em Portugal, se temos técnicos competentes, se temos estruturas humanas de apoio, já não nos falta tudo para chegarmos a um patamar de treino superior, que nos abra os caminhos do pódio! Definir uma estratégia a 8/ 12/ 16 anos será fundamental.

REMATE DA SEMANA: "Um homem livre é aquele que, tendo força e talento para fazer uma coisa, não encontra barreiras a sua vontade." Thomas Hobbes

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 18.11.2013

“Jovens-Velhos” e o Desporto!


É um facto inegável que cada dia que passa envelhecemos mais um pouco. Este é um processo natural e irreversível. Apesar disso, é inegável também que a forma como envelhecemos difere de pessoa para pessoa, dependendo fundamentalmente do nosso estilo de vida. Manter um estilo de vida ativo torna-se fundamental na manutenção de capacidades funcionais do individuo. É certo que as perdas destas capacidades, inevitavelmente, vão acontecendo gradualmente, mas o facto de se manter ativo, retarda, e muito, a sua perda.

Estando certo que a qualidade de vida, está associada a um bom desempenho motor, a prática de atividade física torna-se um aspeto fundamental. Uma pessoa que perca a força, coordenação, flexibilidade e equilíbrio, fica condicionada ou mesmo impedida de realizar atividades do quotidiano tais como, ir às compras, levantar-se de uma cadeira, vestir-se, cozinhar, entre outras, tornando-se assim uma pessoa dependente. Sabemos nós que a dependência de outro para viver, é uma condição que afeta o idoso em todas as suas dimensões (psicologicamente, socialmente, ...).

Assim sendo, torna-se fundamental contrariar a ideia de que quanto mais velho é a pessoa, menos ativo se torna. Nos dias de hoje, com a quantidade de informação que passa nas nossas vidas, já todos nos apercebemos dos benefícios para a saúde associados a uma prática desportiva regular, nomeadamente na prevenção de doenças cardíacas e AVC’s, redução da pressão arterial, aumentar os níveis do “colesterol bom” (HDL), diminuição do nível do “mau colesterol” (LDL), estimula a vascularização, redução dos riscos de obesidade quando combinada com uma boa alimentação, etc.

Cabe-nos a todos encontrar estratégias para que os idosos, tenham um estilo de vida que os leve a sentirem-se “jovens velhos”! Jovens - pela forma como disfrutam da vida e velhos - pelo saber de experiências feito! A atividade física será um meio importantíssimo para atingir esse fim, pois os benefícios para a saúde que lhe são associados, os momentos de diversão e entretenimento que proporciona, facilita o processo de envelhecimento saudável e fundamentalmente, feliz.

Se por um lado conseguimos ver inúmeros benefícios neste tipo de atividades, por outro, deveremos ter a consciência de que uma prescrição mal realizada, uma atividade desenquadrada com as capacidades do praticante pode ter prejuízos devastadores, colocando mesmo em causa a sua integridade. Neste sentido, é situação incondicional que o exercício seja prescrito e controlado por profissionais habilitados para o efeito.

Tendo tudo isto em conta, seria uma excelente iniciativa, a criação de organizações que promovam a cooperação entre instituições, no sentido de proporcionar aos jovens velhos um conjunto de atividades desportivas, orientadas por profissionais devidamente habilitados. Tendo em conta as infraestruturas desportivas que estão subaproveitadas, p. ex. pavilhões, porque não se proporciona autarquicamente ou associativamente, que profissionais utilizem essas mesmas infraestruturas para melhorar a qualidade de vida de quem não tem acesso a outra forma de prática desportiva? Porque não se criam redes de transporte que permitam que os jovens velhos possam disfrutar por exemplo de uma piscina municipal? E temos uma grande vantagem, é que esta faixa etária tem, normalmente, disponibilidade de tempo ao longo do dia, permitindo que utilizem as infraestruturas em períodos de baixa utilização.

REMATE DA SEMANA: "A tragédia da vida é que ficamos velhos cedo demais. E sábios, tarde demais." Benjamin Franklin

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 4.11.2013

sábado, 9 de novembro de 2013

Desporto, um nobre instrumento de inclusão social


Todos nós sabemos que a prática desportiva tem grandes benefícios para o praticante. Mas também sabemos que muitas vezes nos esquecemos que apresenta grandes vantagens ao nível da sociedade onde o praticante se insere. A inclusão social é um aspeto que pode ser trabalhado através do desporto. Este reconhecimento do desporto como um nobre instrumento de inclusão social, é realizado por grandes organizações mundiais. Por exemplo, a alínea H.2 da resolução do Parlamento Europeu sobre Desenvolvimento e Desporto aprovada em Dezembro de 2005 “salienta as valiosas funções educativas e sociais do desporto... em termos da sua capacidade para promover valores sociais como o espírito de equipa, a competição leal, a cooperação, a tolerância e a solidariedade”.

Se analisarmos também os valores mais altos do desporto que estão estabelecidos nos ideais olímpicos, verificamos que constam o “fair play”, intercâmbio cultural, igualdade, tradição, honra, paz e a solidariedade que sustentam o objetivo de “unir o mundo”, valores que possuem uma forte associação à harmonia social.

São estes valores que permitem olhar para o desporto como um fantástico instrumento de inserção social. Sempre que a prática desportiva seja devidamente orientada, permite que os valores referidos sejam levados para a vida social. Sabemos que entre excluídos e pessoas que tendem a excluir, existe uma relação de reciprocidade. Tendo em conta que o desporto é uma atividade que exige trabalho cooperativo dentro de uma equipa, sendo que, isto se nota com maior relevo nos desportos coletivos, para que haja êxito desportivo, é necessário que a relação que se estabelece seja de certa forma próxima e até cúmplice. Assim, leva a que aquele que tem tendência a excluir o outro, seja conduzido a aceitá-lo através de uma força motivacional positiva, permitindo também a integração de elementos que à partida seriam excluídos, eliminando de certa forma barreiras ou preconceitos. Sob o ponto de vista do elemento que é excluído, que normalmente é identificado como um elemento desrespeitador das normas sociais, a dinâmica estabelecida com outros elementos, ajuda-o a alterar os seus comportamentos, permitindo a assimilação de valores, em que o desporto é exímio em retratá-los.

Podemos assumir claramente que o desporto promove o desenvolvimento de capacidades com grande transferibilidade para o dia-a-dia, nomeadamente o autocontrolo emocional, aceitação das regras partilhadas, o respeito pelo outro, a persecução dos objetivos, a necessidade de cumprimento de prazos, a resolução de problemas, a necessidade da comunicação, aprender a lidar com sucessos e com fracassos, o trabalho em equipa, entre outros. Considero estes importantes fatores que inibem os comportamentos de exclusão social, atuando diretamente sobre cada desportista, mas tendo um evidente resultado na comunidade onde se relaciona.

Para além de tudo isto, é fundamental perceber que o desporto por si só nada faz no que à inclusão social diz respeito. É um importante instrumento, assumo que sim, mas existe uma série de condicionantes que deverão ser controladas para que seja bem sucedido.

Lamenta-se que apesar do reconhecimento desta grande potencialidade do desporto por grandes instituições de dimensão mundial, que ao nível local, salvo raras exceções, poucas vezes este seja utilizado como meio de harmonizar relações em bairros problemáticos, incluir pessoas com deficiência, equilibrar relações entre elementos de diferentes classes sociais, promover a igualdade, entre outros.

REMATE DA SEMANA: “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.” Karl Marx
 
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 22.10.2013

“UEFA Advanced” (Grau III) este não é para nós!


Depois de muito tempo sem termos notícias dos cursos de treinadores de futebol, eis que surge fumo branco! A Federação Portuguesa de Futebol anunciou a abertura de curso “UEFA Advanced” (Grau III). Esta formação é realizada por três fases Formação Geral, Formação Específica e Estágio. Segundo o regulamento do referido curso a Formação Geral dos dois cursos decorrerá de 21 de outubro de 2013 a 5 de maio de 2014, em Lisboa, e de 28 de outubro de 2013 a 12 de maio de 2014, no Porto, todas as segundas-feiras e em regime pós laboral.

A formação específica dos dois cursos será realizada no final da época desportiva 2013/2014 – de 26 de maio de 2014 a 18 de junho de 2014 e de 9 de junho de 2014 a 2 de julho de 2014 – em regime de internato (alimentação e dormida incluídas).

O estágio de cada treinador será realizado durante a época 2014/2015 (ou seguintes, nos termos das normas do Instituto Português do Desporto e da Juventude) em clubes de acolhimento.

Analisaremos agora os preços: preço da taxa administrativa de candidatura - 15 euros/ preço da Formação Geral – 700 euros / preço da Formação Específica – 2.750 € / preço do Estágio – 250 €, só aqui já temos um total de 3715 euros, que entraram nos cofres da F.P.F. por cada participante.

Permitam-me que faça um à parte: as propinas numa universidade são de cerca de 1000 euros anuais! Não sei se é correto fazer comparações, mas um curso de três anos numa Universidade tem um preço mais baixo do que este promovido pela F.P.F.

Mas há mais! Imagine que um treinador, por ser ambicioso, querer trabalhar bem, querer saber mais, querer progredir na sua carreira profissional, querer ter melhor capacidade de intervir junto da sua equipa, ou simpresmente por querer, decide ir tirar o curso supra citado! Imagine que esse treinador vive na cidade da Covilhã! O que precisa de ter para tirar o curso? Dinheiro!

A formação geral realiza-se em Lisboa, todas as segundas feiras, de 21 de outubro de 2013 a 5 de maio de 2014, estamos a falar em cerca de 29 segundas-feiras, 29 deslocações a lisboa, 29 dias a gastar muito dinheiro! Fazendo as contas muito por baixo, considerando um meio de transporte bastante económico, consideremos que a deslocação a Lisboa custa-nos 50€, ou seja ir e vir 100€. Revolta-me a ideia de que só em despesas de deslocação, para a formação geral gaste 2900 euros.

Não considerando que o interessado tenha de se alimentar, ou ter outros gastos adicionais, um treinador da Covilhã gastaria no mínimo dos mínimos 6615 euros, o que me parece acessível a qualquer um! Será?

Mais alguns pormenores, esta formação geral, decorre em regime pós laboral, presumo eu deve começar por volta da 18/19h. Isto quer dizer que alguém do interior do país, terá ainda de perder uma tarde de trabalho, para frequentar as aulas!

Conclusão, o nome do curso deveria chamar-se “UEFA Advanced” (Grau III lisboetas/portuenses)! Depois dizem que olham para o interior do país com os mesmos olhos! Não atirem areia para os olhos, somos do interior, não somos saloios!

Mais uma indiscreta comparação… Esta é uma federação que conduz a formação num sentido completamente contrário ao percurso escolhido pelo Ministério de Educação! Uns querem habilitar toda a gente com licenciaturas e mestrados! Outros querem que só alguns estejam habilitados a treinar!

Para já deixando de lado uma discussão centrada na importância de se possuir estes cursos para se ser bom treinador! Mas isso seria mais uma longa conversa!

REMATE DA SEMANA: “Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são”. William Shakespeare

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 15.10.2013