terça-feira, 23 de novembro de 2010

Encontros desencontrados com a Rentabilidade Pedagógica

No início da época foi aprovado a realização de Encontros Desportivos, no escalão competitivo Benjamins para o ano 2010/2011, em detrimento do Campeonato realizado na época transacta. Nesta reunião de aprovação de Quadros Competitivos, apenas dois clubes discordaram da realização da competição nestes moldes, foram eles a Associação Desportiva da Estação e a Associação Paúl Cultural e Desportivo.

Para realizar um balanço e equacionar a possibilidade de realizar um campeonato em paralelo a estes Encontros, foi promovido esta semana, pela Associação de Futebol de Castelo Branco, um debate entre os clubes acerca dos Quadros Competitivos do referido Escalão. Não querendo fazer deste artigo uma arma para me manifestar contra os Encontros, pois respeito os princípios da democracia, aceitando o que foi aprovado pela maioria, pretendo fazer uma análise crítica a este tipo de Competição.

Para os menos esclarecidos, os encontros são competições isoladas, realizadas de 15 em 15 dias, onde se junta num recinto desportivo 4, 5 ou 6 clubes, que disputam jogos entre si, podendo realizar numa manhã 4, 5 ou 6 jogos de 20 minutos.

Considerando que a introdução na competição formal não deve ser feita de uma forma repentina, respeitando assim o Principio da Aprendizagem intitulada de Progressão, que refere que os estímulos deverão ser progressivamente mais intensos e complexos ao logo do tempo, penso que deve haver uma mistura ponderada entre encontros competitivos festivos e a competição apresentada de uma forma mais formal (o campeonato), permitindo que o jovem futebolista entre assim, no escalão seguinte (Infantis) com uma adaptação realizada de uma forma progressiva e gradual.

A minha posição, nada tem a ver com a necessidade de classificar equipas ou com a luta obsessiva por quem ganha ou perde. Apesar de ter a noção de que qualquer que seja o Quadro Competitivo, a criança vai ter um instinto natural para se comparar com o(s) seu(s) adversário(s), pois a competição é instintiva e acontece em todos os momentos da vida, seja no desporto, na escola ou num outro contexto social.

Para que pudesse realizar uma análise mais fidedigna e responsável deste tipo de eventos, desloquei-me no passado dia 13 de Novembro a um encontro realizado na região. Ainda tive o cuidado de realizar alguns contactos telefónicos para saber como correram outros encontros realizados em simultâneo. Conclui que quem pensava que iria tirar carga emocional à competição, pelo facto de se realizar encontros, esteve iludido este tempo todo, pois verificou-se que crianças de 9 e 10 anos também choram nos encontros, porque perder jogos, pois para eles perder não é motivo de alegria, naturalmente! Assisti ainda a crianças a fazerem contas para saber se ficaram em 1º, 2º, 3º ou 4º lugar! Portanto o problema não será a classificação! O problema será os adultos? Será o medo de cair em tentação, de não se controlar dando demasiada importância ao resultado, em vez de estarem preocupados com a formação qualitativa das crianças? Será a tentação de olhar para o jornal e gabarem-se da classificação da sua equipa? Problema também, será saber se alguns adultos têm capacidade pedagógica de gerir a vitória e a derrota, diminuindo o reflexo do resultado do jogo na carga emocional das crianças. Estamos a resolver o problema das crianças ou dos adultos?

O problema do mais e do melhor! Nos encontros organizados, estava contemplado que existissem equipas a disputar jogos durante 120 minutos, divididos por 6 períodos de 20 minutos (numa manhã), estou a falar em crianças de 9 e 10 anos. Lembro ainda, que o jogo de escalão sénior (Adultos) dura apenas 90 minutos. Neste sentido: (1) Considerando que cada criança realiza metade do tempo regulamentar, o fisiologicamente aceitável, para que crianças desta idade consigam manter um nível de jogo aceitável – 60 minutos (tempo de competição praticado num dos encontros de Benjamins realizado no distrito); (2) que as crianças competem de 15 em 15 dias. Conclui-se assim, que totalizam um tempo de jogo mensal de 120 minutos.

Comparando com a competição do ano passado: (1) que dividia o jogo em 4 partes de 12 minutos, que perfaziam um total de 48 minutos por jogo; (2) que as crianças competiam todas as semana; Conclui-se que totalizavam um tempo mensal de 192 minutos.

Sabendo que 192 é maior que 120, e que actualmente tanto se apregoa que as crianças tem cada vez mais, um estilo de vida sedentário e que o contacto com a bola e com a modalidade é cada vez mais importante para a formação do jovem desportista, parece-me que existe alguma falta de ponderação, na decisão do melhor caminho para os nossos jovens. Espero que a decisão de competir de 15 em 15 dias não seja reflexo da inconsciente falta de vontade dos adultos em acompanhar as crianças todas as semanas. Ainda para aqueles que caírem em tentação de dizer que os encontros são de 120 minutos, e que a criança pode praticar futebol durante 120 minutos por encontro, eu previamente respondo que MAIS não é MELHOR! E ainda, mais uma vez refiro, que a partir da uma hora de prática, a qualidade do jogo decresce drasticamente, e por muita vontade que a criança tenha em participar no jogo não consegue, porque não possui capacidade biofisiológica para tal. Concluindo, a criança neste quadro competitivo deixa de jogar cerca de 10 horas por ano. Futebol de rua? Parece que já não faz falta! Estilo de vida sedentário. Já não é problema!

REMATES:

- Sem qualquer receio das criticas eu assumo publicamente a minha opinião. Triste é saber que existem pessoas, com responsabilidade em clubes na região, e que se manifestaram defensoras dos actuais quadros competitivos, por verem que muitos agentes desportivos e sociais não concordam com a competição nestes moldes, vêm cobardemente para a praça pública dizem que foi o Prof. João Sá Pinho, que intercedeu para que os encontros fossem uma realidade. Pena que personalidade, responsabilidade e ética profissional não se vende nem se compra!



Artigo Publicado em Jornal Tribuna Desportiva 23.11.2010


        João Sá Pinho

joaocspinho@hotmail.com

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Modelo de Jogo

O Modelo de Jogo (MJ), é o núcleo de toda a organização dos comportamentos que a equipa deve adoptar dentro de campo, em diferentes situações. Estes princípios dão suporte à intervenção do treinador, que o operacionaliza, através de exercícios propostos nas sessões de treino. José Mourinho (2006), afirmou que ter um modelo de jogo definido é o mais importante para uma equipe de futebol, e tal modelo é um conjunto de princípios que dão organização a sua equipe por isso deve ter relevância especial desde o primeiro dia de trabalho. O senso comum, vulgarmente confunde o MJ com o sistema táctico, que representa apenas uma estrutura orientadora da distribuição dos jogadores pelo terreno de jogo (ex. Gr-4-3-3 ou Gr-4-4-2). Este Sistema apesar de ser parte integrante do Modelo de Jogo, visto por si só, transmite uma imagem bastante redutora da dinâmica que uma equipa pode apresentar dentro de campo, pois ele não está directamente associado a comportamentos adoptados pela equipa, nem tão pouco à relação que uma equipa estabelece com a outra. Segundo Castelo, J., 2009 (p. 37) o  Modelo de Jogo adoptado deverá derivar das concepções de jogo do treinador, das adaptações relativas às capacidades reais dos jogadores e, das suas possibilidades de evolução num futuro próximo (margem de progressão). Assim, a equipa com o modelo de jogo, deverá perceber como se deve comportar nas diferentes fases dos jogo, de forma a que todos saibam qual o papel que desempenham, isto para que a dinâmica da equipa se dê pela participação “sincronizada” de todos os elementos que a constituem. A equipa, através do seu MJ, manifesta um projecto, um traçar de caminhos devidamente planeados, caso se depare com a situação X, Y ou Z. Neste sentido, existe uma série de informação previamente tratada para reduzir o tempo de resposta da equipa, quando se depara com os diferentes contextos, escolhendo o caminho mais rentável para a situação do momento, à semelhança do que foi treinado. Segundo Campos, C., 2008 quando a dinâmica é caótica, o número de resultados comportamentais é infinito. Consequentemente quando a equipa se depara com uma situação contemplada pelo MJ e previamente treinada, tende a reduzir o tempo de resposta e a aumentar a eficácia de actuação perante essa mesma situação.

Pretendo com isto referir que o modelo de jogo dá a conhecer os caminhos/hipoteses à equipa, dando-lhe a possibilidade de escolher aquele que considera mais vantajoso, nunca sendo uma estrada apenas com sinais de obrigatoriedade. Caso isso acontecesse, iria inibir comportamentos de decisão, criatividade e adaptação ao contexto.

Carvalhal, C. (2002) refere que o guião de todo o processo deverá ser o Modelo de Jogo Adoptado. O modelo de jogo está dependente de um sistema de relações que vai articular uma determinada forma de jogar, não uma forma de jogar qualquer, mas baseada numa estrutura específica.

O Modelo de jogo deve ser encarado como um conjunto de informações adaptáveis à equipa, aos jogadores, aos jogos, à competição e à evolução de todos estes factores durante a época desportiva.

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!”


Artigo Publicado em Jornal Tribuna Desportiva 16.11.2010

      João Sá Pinho
joaocspinho@hotmail.com

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Relação: Treinador ↔ Jogador ↔ Equipa

A relação jogador ↔ treinador ↔ equipa, deve sustentar-se numa base de valores sociais como a honestidade, fidelidade, companheirismo, entre outros, nunca esquecendo que o caminho a seguir deve ser definido e conduzido pelo treinador, através da sua capacidade relacional de liderança. Para que haja um sentimento de verdade, os objectivos definidos devem ser considerados e “sentidos” como atingíveis por TODOS, só assim conseguiremos mobilizar um grupo para trabalhar rumo a esses mesmos objectivos.

O primeiro momento de contacto entre treinador e jogadores poderá ser determinante para iniciar e marcar a liderança do técnico, desde este momento, formam-se opiniões de ambas as partes. Todos sabemos que esta primeira abordagem é fundamental para o treinador definir a sua forma de actuar, as suas metodologias e a sua forma de abordar o treino e o jogo. Podemos dizer que haverá uma afinação desta relação à medida que os contactos entre todos vão sendo despoletados, podendo mesmo ser necessária uma adaptação ou readaptação de objectivos. Penso também, que um aspecto importante na liderança, é a capacidade do treinador “fazer sentir” o seu pensamento e que este é o mais adequado ao momento/contexto. José Mourinho (2004) dá-nos um exemplo disso mesmo quando refere: “…tenho exercícios de dominante psicológica, quando os exercícios que se apresentam são premeditadamente muito fáceis de realizar para que, sem que eles se apercebam, consigam fazer tudo bem.” Como refere Goleman (1995), A liderança é a arte de convencer as pessoas e eu acrescentaria através de linguagem corporal, verbal e no caso do desporto através das vivências proporcionadas pelo exercício, que é um meio por excelência primordial para que se convença o desportista a trabalhar de forma atingir os objectivos, interiorizando assim, a mensagem do treinador. Além desta componente persuasiva do líder, o reconhecimento de competência por parte de quem é liderado é fundamental para aumentar o efeito da liderança. Outro aspecto que considero preponderante é a capacidade de adaptação e decisão por parte do treinador, segundo Goleman (1999) “…se há alguma competência que define os tempos que estamos a viver é a capacidade de adaptação…”, e quando falo nestas capacidades não me refiro apenas a situações técnico-tácticas, refiro-me também à capacidade de conhecer os jogadores individualmente e a equipa, mais uma vez, como um todo, adaptando o seu comportamento e a sua intervenção a cada situação específica, para que tire o máximo partido de cada uma delas.

O treinador deverá ser capaz de criar um sentimento de justiça no grupo. Qualquer decisão tomada pelo líder, deve ser considerada justa pela maior parte dos elementos da equipa, pois, se por diversas vezes, não compreendem o motivo de determinadas decisões, proporcionar-se-á um clima de desconfiança, podendo mesmo despoletar que os jogadores tenham uma imagem de liderança incompetente. Os jogadores, devem também, sentir que qualquer decisão tomada, não serve para prejudicar este ou aquele, mas sim, uma decisão que valoriza o grupo de trabalho, potenciando as suas características, levando a equipa para o sucesso.

Quando a equipa acredita que é possível atingir os objectivos, a coesão com certeza que vai aumentar, e se no decorrer do caminho todos vêm que o sucesso acontece, jogo após jogo a coesão aumenta exponencialmente, até se atingir o grande objectivo. A coesão do grupo dá-se com maior facilidade quando os jogadores percebem que o seu sucesso individual depende da prestação da equipa e o seu nível de desempenho não depende apenas da sua performance individual. Assim, se a equipa tem sucesso e o jogador contribui activamente para tal efeito, o jogador está a autopromover-se e simultaneamente promover a equipa, contribuindo ainda mais para a coesão do grupo.

Ao longo do artigo referi situações que através da liderança do treinador e da forma como pode actuar, leva a que a coesão da equipa seja cada vez maior, mas o factor que para mim é mais facilitador, é sem dúvida a vitória! Um grupo ganhador será cada vez mais coeso, e à medida que existe uma maior percepção de êxito pela conquista dos objectivos, mais esse sentimento é evidenciado.

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!”

Artigo Publicado em Jornal Tribuna Desportiva 2.11.2010

                    João Sá Pinho
            joaocspinho@hotmail.com