quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Tecnologia na Análise de Jogo…

Vale o que Vale

Conseguimos verificar que com o passar dos anos a Análise do Jogo evoluiu de tal forma que, as equipas técnicas sentiram a necessidade de recorrer a meios, audiovisuais e informáticos para melhorar a sua capacidade de trabalho, fazendo uma recolha de informação minuciosa, rigorosa e precisa. Neste sentido, Garganta., J, (2001) refere que com “o advento dos meios informáticos, os analistas do jogo têm assistido ao alargamento progressivo do espectro de possibilidades instrumentais colocadas à sua disposição. Nos anos mais recentes tem-se verificado uma aposta clara na utilização de metodologias com recurso a instrumentos cada vez mais sofisticados, e.g. a análise do jogo apoiada por computador, os quais pelas suas elevadas capacidades de registo e memorização tendem a constituir-se como um equipamento importante para o treinador e para o investigador (Franks, 1987; Grosgeorge, 1990; Dufour, 1993).”

A capacidade de fazer uma rentável análise de jogo, é sem dúvida uma fundamental arma para que o treinador conduza a sua equipa rumo ao êxito desportivo. Cada vez é mais usual os treinadores associarem recursos humanos à sua equipa técnica, no sentido de retirar informação das características dos adversários e da própria equipa, para que tenha uma mais rentável intervenção junto da sua equipa, condicionando também a prestação da equipa adversária. “Dispondo hoje em dia de uma vasta gama de meios e métodos, aperfeiçoados ao longo dos anos, treinadores e investigadores procuram aceder à informação veiculada através da análise do jogo e nela procuram benefícios para aumentarem os conhecimentos acerca do jogo e melhorarem a qualidade da prestação desportiva dos jogadores e das equipas.” (Garganta, J., 2001). É importante salientar que o uso das tecnologias, não é por si só uma garantia que a análise seja realizada de uma forma correta. É fundamental que a equipa técnica seja capaz de fazer uma funcional utilização dos dados disponibilizados por esses meios auxiliares de análise do jogo. “Mas a tecnologia pode aumentar significativamente a qualidade e a celeridade do processo de observação e análise desde de que dela se faça o uso adequado.” (Garganta, J., 2001). O conhecimento do jogo é fundamental para que se possa ter uma intervenção nele mesmo, através da utilização da informação cedida pelos meios tecnológicos, sempre relacionada com os dados e indicadores que o treinador retira do jogo, pois estamos a analisar comportamento humano e não um mero comportamento exato, numérico ou informático. Neste sentido, o conhecimento que provém das Ciências do Desporto - Ciências Sociais e Humanas torna-se determinante para a análise do jogo e consequente tomada de decisão por parte do treinador.

REMATE DA SEMANA:  “O verdadeiro perigo não é que os computadores comecem a pensar como homens, mas que homens comecem a pensar como os computadores.” Sydney J. Harris

Votos de Boas Festas!

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva em 18.12.2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dulce Félix triunfa em Budapeste


Implicações da prática desportiva sob baixas temperaturas



Dulce Félix tem um curriculum invejável. Parece até que todas as competições em que participa, a organização lhe reserva sempre um lugar no pódio. Vejamos os seus últimos resultados: Bicampeã Nacional
de Estrada (2011 e 2012), Vice Campeã Europeia de Corta-Mato (2011), Campeã Europeia dos 10.000 m (2012). No passado fim-de-semana presenteou todos os portugueses com um segundo lugar na competição europeia de Corta-Mato, em Budapeste, Hungria. A atleta portuguesa repetiu a posição alcançada em 2011, depois de ter conseguido o terceiro lugar em 2010.

Para quem participa pela primeira vez numa competição na neve, o resultado é brilhante e as suas declarações evidenciam isso mesmo: “Acreditem, estou mesmo feliz. Foi a primeira vez que competi na neve, quase não via nada... Fez tanto frio, mas gostei da corrida. Dá para imaginar o tempo quente que faz em Portugal?!"Custa-me a acreditar que conseguir defender o título. Foi muito difícil no fim, não consigo expressar por palavras o que senti quando ouvi os adeptos a gritar: ‘ela vem aí, ela vem aí’. Corri o mais rápido que consegui”, disse a bicampeã.
A portuguesa terminou a dois segundos da irlandesa Fionnuala Britton, a primeira mulher a ganhar dois títulos consecutivos, que concluiu a prova em 27.45 minutos, tendo a holandesa Adrienne Herzog (27.48) completado o pódio.
E as baixas temperaturas?
Para quem observa de uma forma fugaz, pode parecer que desenvolver uma atividade desportiva sob baixa temperatura é apenas um pormenor mas, na verdade, é uma condição que obedece a particularidades especiais. Sabendo que na nossa região podemos estar expostos a temperaturas muito perto dos zero graus, achei de todo pertinente fazer algumas considerações acerca deste aspeto, para que possa alertar todos aqueles que não abdicam de uma prática desportiva saudável ao ar livre.
Sob baixas temperaturas, o corpo tende a estar mais frio, facto que aumenta o riso de lesão. Para que salvaguarde esta situação deverá ter mais atenção com a fase preparatória dos seu treino (aquecimento) e até com alimentação, pois o organismo tende a aumentar o consumo calórico. Sabendo que o organismo vai ter um gasto calórico com o próprio exercício, acrescido de um aumento para que possa manter a temperatura corporal, será importante fazer um cálculo, para saber se necessita ou não de se alimentar durante a prática do exercício (aconselha-se alimentos ricos em hidratos de carbono).
A hidratação é outro aspeto que me parece fundamental. Com as temperaturas baixas, a sensação de sede, torna-se mais difícil de se sentir, ainda que a perda de líquidos seja menor, será necessário repor os níveis de hidratação.
Relativamente ao vestuário, deve ter alguns cuidados. Antes de mais, este deve ser leve, confortável e sobretudo adaptado ao desporto que irá praticar. Condição fundamental é que o vestuário usado não ponha em causa o sobreaquecimento do organismo, nem tão pouco deixe que a humidade proveniente da transpiração fique acumulada entre a roupa e o corpo. O excesso de vestuário poderá levar a que seja pior a emenda que o soneto! .
Outro aspeto que me parece importante ressalvar é a proteção das extremidades do corpo, prevenindo a ulceração produzida pelo frio. Nas etapas iniciais poderá perceber uma sensação de calor na pele cuja cor ficará vermelha, roxa e por último branca. Se notar uma área sensível, com coloração branca, saia do frio imediatamente e tente aquecer-se. A zona do pescoço e da cabeça são áreas que também estão sujeitas a uma grande perca de calor, devendo deste modo ficar bem protegidas. Existem alguns sinais que evidenciam hipotermia, nomeadamente a sensação de desorientação, perda de coordenação, fala confusa e dificuldade em deslocar-se, sendo a tremor o indicador mais conhecido.
Quando a temperatura baixa, para níveis perto do zero graus, toda a humidade que se encontra no local onde o exercício é praticado, tende a criar um pelicula de gelo no solo, aumentando a probabilidade de escorregamento. Faça uma preparação do percurso e seja cuidadoso, evitando assim o risco de lesão.


Por fim, em condições adversas nunca pratique desporto sozinho em locais isolados, pois numa situação de dificuldade não tem meio de pedir auxílio.

 
FRASE DA SEMANA: “A verdadeira medida de um homem, não se vê pela forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas sim  como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.” Martin Luther King Jr.
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 11.12.2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Evolução do equipamento desportivo utilizado no futebol

O termo tecnologia, de origem grega, é formado por tekne (“arte, técnica ou ofício”) e por logos (“conjunto de saberes”). É utilizado para definir os conhecimentos que permitem fabricar objetos e modificar o meio ambiente, com vista a satisfazer as necessidades humanas.

No desporto rei a evolução tecnológica não fica para trás, entre muitos exemplos, podemos constatar que na comunicação entre árbitros se recorre a equipamentos tecnológicos, assim como, na análise de jogo, em instrumentos de treino, em equipamento desportivo, entre muitos outros. O tema que hoje vos apresento relaciona-se com a evolução do equipamento desportivo, nomeadamente vestuário, calçado e bola.
 
Ex. 1 - Camisolas de jogo
 
Apesar de ter um design muito simples, aparentemente nada de especial, a camisola da seleção brasileira possui particularidades invisíveis a olho nu. Uma das suas características é o fato de ser 100% ecológica, tendo sido concebida por material reciclável. Cada camisola é composta por fios de poliéster, proveniente de oito garrafas de plástico.
Outra particularidade das camisolas é o fato de não ter costuras, sendo os tecidos unidos por uma cola, à semelhança do que acontece com os fatos de Fórmula 1. Assim, o peso da camisola é reduzido em cerca de 15%. Por fim, a camisola possui uma capacidade de ajuste dinâmico, adaptando-se às curvas do corpo de quem a veste.
Relativamente a esta peça de vestuário desportivo, encontram-se em curso várias investigações, no sentido de viabilizar a utilização de uma camisola inteligente, provida de sensores que transmitam vários tipos de informação acerca do estado do jogador, nomeadamente frequência cardíaca, temperatura corporal, níveis de sudação, etc.
Ex. 2 – Chuteiras
 
Alguns jogadores patrocinados por uma conhecida marca desportiva têm ao seu dispor uma chuteira capaz de analisar o relvado que pisam, ajustando automaticamente a altura dos pitons, para que o jogador tenha o nível de aderência otimizado, evitando, tanto o excesso de resistência ao solo, como o escorregamento desnecessário.
Uma outra marca de equipamento desportivo, concebeu uma chuteira equipada com chips que interpreta e armazena dados acerca das movimentações dos jogadores em campo. Segundo a marca em causa, o equipamento é capaz de transmitir informação no sentido de diminuir o risco de lesão por parte do utilizador. O chip é colocado na sola da chuteira sendo também capaz de armazenar dados como velocidade média, distância percorrida, frequência das corridas, quilómetros percorridos, potência do remate, entre outras.
 
Ex. 3 - Bola
A Citrus é a mais recente inovação tecnológica, no que às bolas de futebol diz respeito. No sentido de auxiliar a tarefa das equipas de arbitragem, esta bola é capaz de mudar de cor quando passa a linha de golo, quando ultrapassa as linhas que delimitam o campo ou quando um jogador a recebe numa posição de fora de jogo.
A referida bola, funciona envolta de uma panóplia de tecnologia composta por GPS, sensores, sistemas de conexão sem fio, etc. Para que seja utilizada nas suas máximas potencialidades, o estádio precisa de sofrer algumas alterações, como a criação de uma central de controlo. Uma caraterística curiosa é que a bola não necessita de ser enchida com ar, garantido a marca toda a consistência e flexibilidade do material, assemelhando-se a uma bola convencional. Ainda não há previsão de uso da  da Citrus em jogos oficiais da FIFA.
 
Como referi no início do artigo, a tecnologia servirá para satisfazer as necessidades do ser humano. Assim sendo, a rentabilidade dos diferentes materiais desportivos, dependem da capacidade do ser humano que o utiliza. De que vale ter p. ex. informações acerca de distâncias percorridas, frequências de corridas, parâmetros biofisiológicos, etc, se não se toma decisões, ou não se está interessado em tomar decisões em função desse tipo de informações. Entenda-se que a tecnologia só pode ser considerada como tal, se para nós for útil.
 
REMATE DA SEMANA: Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim à coisa em que você vai se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas ideias que existem. Você precisa de saber selecionar cuidadosamente.” Steve Jobs, em 2008, para a revista Fortune.

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 4.12.2012

domingo, 2 de dezembro de 2012

Pelado e relvado: influência no percurso formativo


Segundo alguns investigadores na área do futebol, é fundamental que em escalões de formação, se dê oportunidade aos praticantes de vivenciarem vários tipos de condicionantes, nomeadamente, diferentes tipos de bolas, diferentes tipos de pisos, diferentes tipos de equipamentos. Esta variabilidade de materiais levará a que o jovem desportista tenha a necessidade de se adaptar à instabilidade, otimizando assim a sua relação com a bola. “É fundamental em idades mais tenras proporcionar aos jovens jogadores essas diferenças de pisos, para melhorarem a relação com a bola, dado que essas idades são uma etapa crucial para o seu desenvolvimento.” (Frade, 2008).

Considerando que as competições nos diferentes escalões são realizadas nos diferentes tipos de piso, relva natural, relva sintética e pelado, o jovem jogador deverá ter a capacidade de se adaptar, obtendo rendimento em qualquer um dos pisos. Um jogador talentoso deverá revelar uma boa apetência para disputar o jogo, independentemente das condições onde se desenrola.

Ainda reforçando a ideia anterior, deixo aqui a opinião de Cruyff (2002) que considera “…as razões da falta de qualidade técnica de muitos jogadores está associada ao local onde aprendem a jogar futebol”. O ex-jogador refere ainda, que a “…Academia mais popular para desvendar os segredos do futebol era a rua, onde as carências eram supridas com a imaginação e ilusão.”

Não quero com isto passar a ideia de que o pelado é o piso ideal para a formação de jogadores, até porque, a nível de conforto e higiene, nomeadamente poeira no verão e lama no inverno, em nada beneficiam o desenvolvimento das capacidades futebolísticas dos jovens jogadores. Estou de acordo, que a relva sintética é um piso por excelência para que os jovens treinem com qualidade. No entanto, considero fundamental colmatar a ausência do futebol com caraterísticas de rua, para que o praticante seja forçado a desenvolver as suas apetências em contextos instáveis, tendo o treinador a obrigação de criar essas condições de instabilidade, mesmo quando treina na relva, quer seja ela natural ou sintética. Segundo Lobo, (2007), “…se pensarmos na origem dos melhores jogadores do mundo, neles não existem grandes academias, campos relvado e botas fantásticas.”

Se por um lado é necessário instabilidade, nas fases de formação mais precoces, quando nos aproximamos das etapas finais de formação, será necessário pisos mais estáveis, pois, a intensa componente tática de treino e jogo assim o exige.

Considerando que a esmagadora maioria das competições, ao nível do futebol profissional, se desenrolam em campos de relva natural, se estivermos a falar de um clube de formação, que tem a intenção de colocar no plantel sénior os jogadores provenientes da sua formação, penso  que se justifica que o escalão júnior (pré-profissional), seja realizado maioritariamente em relva natural.

FRASE DA SEMANA: “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” (Horácio)

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 27.11.2012