domingo, 27 de janeiro de 2013

Amstrong & ?... a desilusão!

Todos temos a consciência das capacidades sobrehumanas que um ciclista tem de ter para participar numa competição como a volta a França. Mais ficamos admirados quando existe um ciclista que o consegue fazer por sete vezes. Perante isto, uns ficam fãs incondicionais, outros admiradores, outros seguidores, outros indiferentes, outros invejosos e por aí fora… Quero acreditar que a maior parte das pessoas ficavam com um sentimento positivo, no que aos exitos de Lance Amstrog diz respeito.
Mas, o que parecia o sonho de um ciclista e de um conjunto de seguidores, deu lugar à queda de um mito e uma consequente desilusão. Depois da mediática entrevista a Oprah Winfrey, onde  confessou que usou substâncias dopantes durante a sua carreira,  desmorenaram-se todas as ilusões. O maior atleta da história do ciclismo, deu lugar à maior fraude da modalidade.
Apesar de tudo isto, a responsabilidade não pode ficar só em Amstrong! Ninguém poderá acreditar que sozinho, conseguiu ludibriar todo o sistema de controlo antidoping. Sendo assim, muitas “carapuças” devem estar por descobrir! O elaborado relatório realizado pela Agência Norte-Americana de Anti-Doping (USADA, na sigla inglesa), revela que existiam alegados informadores que a US Postal e Discovery Channel teriam, com a função de alertar os responsáveis das equipas, da realização de testes anti-doping surpresa, durante as provas em que participavam.
A referida entrevista a Oprah Winfrey, foi, com certeza, alvo de tão meticulosa preparação, ao ponto de Amstrong não querer falar de mais ninguém. Até se recusou a falar de Michele Ferrari, famoso médico italiano, que alegadamente era o pensador do esquema de dopagem estabelecido na US Postal. Por alguma razão o Sr. Michele Ferrari está impedido de exercer medicina no seu país! Amstrong mencionou que não se sentia “confortável” a falar de outras pessoas, uma resposta semelhante à que deu quando questionado sobre se outros ciclistas no pelotão da Volta a França se dopavam. Espero que todos os coniventes, nomeadamente colegas ciclistas, médicos, dirigentes, sejam todos expostos na praça pública e paguem duramente, por todos estes anos de mentira!
Apesar de considerar que não é uma entrevista de umas horas que desculpará anos de mentira, temos de admitir, que Amstrong chegou mais uma vez em primeiro lugar, no que à coragem de assumir os seus erros diz respeito. A tudo isto ser verdade, e tendo em conta os prejuízos morais e materiais, espero que os responsáveis não se livrem da pena de prisão, já que nos Estados Unidos o perjúrio (falso juramento) é um delito penal, e em 2005 Armstrong declarou sob juramento que nunca se havia dopado. Espero também que todas as empresas patrocinadoras peçam a devolução do investimento feito nas suas participações nas provas, US Postal, o serviço postal, seguradora SCA (pagou-lhe 10 milhões de euros pelas sete vitórias no Tour), entre muitas outras. Que as consequências desta forma de estar enganadora, sirva de exemplo para todo o mundo do desporto.
Apresento a seguir algumas substâncias utilizadas por Amstrong:
Eritropoetina (EPO) – hormona que aumenta o número de glóbulos vermelhos, aumentando assim a capacidade do sangue transportar oxigénio para os musculos, produzindo um consequente aumento da resistência ao esforço.
Esteroides – Associado ao crescimento de massa muscular e ganho de força. Estudos revelam que têm adversos efeitos secundários.
Transfusões de sangue - Este método de dopagem consiste na recolha de sangue em períodos de treino e na sua armazenagem. O sangue armazenado volta ao organismo nas principais provas. Na atualidade os testes efetuados, detetam uma percentagem de glóbulos vermelhos mais elevada, mas como não se encontra quaisquer substâncias proibidas, os desportistas escapam se não ultrapassarem os 50%.
Segundo a imprensa, outras substâncias foram consumidas pelo ciclista. Para que todos ficassem sensibilizados, seria importante pesquisar, que influência teve o consumo dessas substâncias dopantes, no desenvolvimento do cancro contraído por Amstrong.
Para terminar, gostaria de deixar as declarações de Luís Horta, presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), que contraria as declarações do ciclista, referindo: "Penso que é possível correr uma Volta à França sem utilização de substâncias proibidas, mesmo com o traçado que a prova tem neste momento. O que eu penso que é impossível é correr a Volta a França com o traçado e os dias que tem às médias que são realizadas", apontou, indicando que são feitas médias acima dos limites fisiológicos dos atletas.
REMATE DA SEMANA: ”Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.” Mahatma Gandhi
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 22.01.2013
 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ansiedade condiciona… e de que maneira!

O tema que vos trago esta semana relaciona-se com a ansiedade. Na sequência do clássico Benfica - Porto do passado domingo, podemos constatar que alguns jogadores cometem erros neste tipo de jogos que noutros, com equipas consideradas mais acessíveis, não cometeriam. Além de ter sido um encontro entre rivais, era um jogo que poderia posicionar uma ou outra equipa, no topo da tabela classificativa. Por esses motivos e mais alguns, com certeza que a carga emocional da competição aumentou, proporcionando um consequente aumento da ansiedade sentida pelos intervenientes, que resultou nalguns erros de ordem técnico-tática.
Segundo Cruz (1996), a ansiedade nas atividades desportivas, é uma resposta à perceção de ameaça, que pode ocorrer tanto nos momentos de aprendizagem (treinos), como nos momentos onde essa aprendizagem é posta em prática (jogos). Alguns investigadores internacionais, especialistas em psicologia do desporto referem que a ansiedade na competição é despoletada por dois elementos, a incerteza sobre o que irá acontecer e a importância do resultado. Sentimentos como medo, nervosismo, tensão, apreensão podem levar a estados de ansiedade, que proporcionam um nível de ativação excessivo dos jogadores, impossibilitando que desempenhem a sua tarefa, tal como são capazes de o fazer em situação mais tranquilas.
Nestes momentos, o treinador e equipa técnica deverão fazer uma análise emocional do estado dos jogadores, no sentido de realizarem uma intervenção, através do diálogo ou outra forma de comunicação, levando a que o jogador volte a estar num equilíbrio emocional que proporcione o máximo rendimento durante a competição. Alerto que este trabalho realizado por parte da equipa técnica, é executado ao longo de toda a semana. Uma equipa técnica competente conhece tão bem os seus jogadores, que consegue prever de certa forma, como poderão encarar um jogo com as caraterísticas de um clássico, realizando assim uma intervenção pré competitiva individualizada e coletiva, para eliminar ou reduzir o seu estado de ansiedade.
A literatura da especialidade refere que poderão ser múltiplos os sintomas de ansiedade, como por exemplo, as palpitações, tensão muscular, sensação de fadiga, irritabilidade, boca seca, mão e pés suados, desejo de urinar, tremuras e contrações musculares, hiperventilação, perda de memória, dificuldade de concentração, etc. Basta um deste sintomas aparecerem, que naturalmente a probabilidade do jogador tomar uma decisão errada aumenta. Dando um exemplo, imagine que o movimento para realizar um passe para um colega de equipa, necessita de uma determinada tensão muscular, para que o realize em precisão. Se existe um fator que aumenta essa tensão muscular, neste caso a ansiedade, obviamente que a consequência será uma diminuição da precisão desse mesmo passe, por haver uma tensão muscular desregulada. Segundo Román, S. (2003), a tática e a técnica não mudam de uma semana para outra, mas as reações psicológicas sim.
 
Com base no referido anteriormente, verificamos que o treinador deve ser um gestor de níveis de ativação de jogadores, encontrando estratégias para diminui-la quando é excessiva e aumentando-a quando é reduzida. 
FRASE DA SEMANA: “Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças.” Sêneca
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 15.01.2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Defender para não Perder ou Defender para Ganhar?


Apesar das equipas fazerem tudo para não sofrer golos, a defesa não deverá ser o fim, mas o início de um caminho para a vitória. Defender, deve ser encarado como o primeiro passo do ataque, que proporcionará o golo e o consequente momento de êxtase entre jogadores, adeptos, …

Defender bem é sem dúvida importante, mas atacar bem, tem uma importância igual! A equipa deverá fazer com que estes dois momentos sejam dependentes/consequentes, sendo a maneira de defender uma consequência da maneira de atacar e vice-versa.

Recuperação da posse da bola

Existem várias formas de encarar o momento da defesa e transição para o ataque! Em determinadas equipas todos defendem, noutras, alguns jogadores ficam desresponsabilizados da ação de defender e ainda, em algumas equipas existem jogadores que defendem quando a bola está em determinada zona do campo, mas quando sai dessa zona de responsabilidade, a sua preocupação é posicionar-se, para que esteja prontamente preparado para atacar, no momento da recuperação. Todas elas são válidas e legítimas, dependendo da ideia de jogo do treinador, das caraterísticas dos seus jogadores, inevitavelmente do adversário que defronta…

Segundo Garganta (1997) “é importante que a equipa recupera a posse de bola garantindo a continuidade para o jogo ofensivo, criando de seguida desequilíbrios e surpreender o seu adversário.”

Outro aspeto que me parece relevante é o local onde a equipa recupera a posse de bola. Este fator condiciona a forma como a equipa a seguir vai transitar para o ataque. Segundo Rui Quinta (2003) “se eu recuperar a bola numa zona, ataco de uma maneira, se recuperar noutra, ataco de outra forma”.

Transição defesa ataque

Porque estes dois momentos (ataque e defesa) estão conectados pelos denominados momentos de transição, uma equipa quando defende, deve estar preparada para transitar com a possível segurança, de modo a comportar-se de acordo com prossupostos definidos. A equipa deve ter definido um conjunto de comportamentos, ordenados por prioridades, que devem ser operacionalizados no jogo, em função do contexto onde se insere. Por exemplo, a equipa quando recupera a posse de bola 1) coloca-a rapidamente num jogador que fique em posição de finalizar, sem que dê tempo ao adversário de se organizar, ou caso não o consiga fazer 2) tira a bola da zona de pressão, levando a que consiga preparar um ataque, ganhando vantagem, através da exploração de espaços com menor densidade de adversários, em determinada parte do terreno de jogo. Saliento ainda que equipas altamente especializadas ex. FC Barcelona, conseguem manter a posse de bola e preparar o ataque, mesmo circulando a bola em zonas de pressão, daí a relatividade destas formas de transição que enunciei. É imprescindível que se considere a qualidade dos intervenientes, o modelo de jogo e estratégia da equipa, etc.

No meu ponto de vista, todas as estratégias são válidas desde que sejam devidamente enquadradas naquilo que são as pretensões da equipa para o jogo. O mais importante é que estes aspetos estejam previstos no modelo de jogo e devidamente treinados, para que a equipa faça da defesa, uma poderosa arma de ataque!

REMATE DA SEMANA: “Às vezes, quando considero as tremendas consequências advindas das pequenas coisas ... sou tentado a pensar ... não existem pequenas coisas.” Bruce Barton

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 8.01.2013

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Princípios Organizacionais de um Clube de Futebol

Sabemos de antemão que a utilização de jogadores de formação é mais rentável, comparativamente com a aquisição de jogadores já formados e com experiência competitiva profissional. Normalmente os jogadores provenientes de fora, acarretam custos com cláusulas de transferência, ordenados mais volumosos, tempo de adaptação, etc. Quando se recorre a jogadores de formação para integrar os planteis séniores, baixa-se os custos, para além de se rentabilizar o investimento que os clubes fazem nos escalões mais jovens.
Para que isto aconteça a organização do clube deve estar bem preparada, no sentido de articular todos os seus escalões, para que haja uma lógica progressiva, no cumprimento de objetivos das diferentes etapas que o jogador deve superar, até chegar à equipa onde sempre sonhou atuar, a equipa sénior. O projeto de um clube de futebol deve contemplar “um modelo de jogo que, por sua vez, orientará a conceção de um modelo de treino, de um complexo de exercícios, de um modelo de jogador e mesmo de um modelo de treinador.” Leal & Quinta (2001). Acrescento o exemplo que refere Giráldez (2010) “…o Real Madrid forma os seus próprios técnicos, através de sessões onde se explicam e clarificam um conjunto de conceitos, isto também tendo em vista a unificação dos critérios dos treinadores.” Hoje em dia, só com uma organização bem estruturada, se consegue que os jogadores de um clube, ganhem a tão desejada identidade, à semelhança do que acontece nos clubes de referência, na área da formação e integração de jogadores em carreiras profissionais.
Alerto também para o facto da formação de jogadores, não poder ser confundida com a formatação de jogadores! Quando tornamos modelos de jogo, modelos de treino, modelos de exercícios… demasiado estaques e invariáveis, proporcionar-se-á uma formatação do jogador. No futuro, esta formatação inibirá a capacidade do jogador se adaptar a outro clube, a outro treinador, a outro modelo de jogo, etc. Acrescento ainda que esta capacidade de adaptação é frequentemente posta à prova, ao longo da carreira de qualquer jogador profissional. Assim sendo, torna-se necessário proporcionar momentos suficientemente ricos em variabilidade, mas sólidos em princípios orientadores
Mas nem só da organização do jogo depende a formação de um clube de futebol! A preocupação com as capacidades psicológicas, torna-se imprescindível. José Mourinho refere mesmo que tem prazer em “encontrar um jogador com debilidades táticas, receber um jogador cru a nível tático. Mas não tem pachorra para jogadores com debilidades psicológicas ao nível do sacrifício, da crença e da entrega.” Neste sentido o clube deve ter a capacidade de conhecer e caraterizar os seus jogadores, estabelecendo estratégias de atuação individuais, para potenciar de forma diferenciada as suas capacidades psicológicas.
Outro aspeto que considero vital, é que o clube forme Homens que jogam futebol. O que quero dizer com isto? Quero dizer que a responsabilidade de formação é integral e não apenas futebolística! Segundo José Carvalho (2002) “a cobertura mediática realizada aos futebolistas profissionais torna muito atraente esta carreira para os jovens jogadores. No entanto, esta opção, por vezes, tem como consequência a falência da carreira académica, o que se revela negativo, principalmente se o jovem por qualquer motivo não atinge o profissionalismo.” Diria eu, que é normal que o jovem não atinja o profissionalismo pelos mais diversos motivos, pois no mercado português não há muito espaço para lançar jogadores. Neste sentido, é também responsabilidade do clube assegurar as condições de formação integral do jovem, proporcionando que o seu futuro tenha alguma margem de segurança. Importante ressalvar que o desenvolvimento cognitivo, propiciará uma melhor capacidade de interagir com os mais diversos contextos onde um jogador de futebol tem de interagir. Segundo Mil-Homens (2004) “as pessoas cultas e melhor formadas pensam, entendem e desempenham melhor qualquer atividade.”
REMATE DA SEMANA: “A formação é um processo longo e onde o tempo coloca cada jogador no seu lugar” Giraldez
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 2.01.2013