domingo, 26 de maio de 2013

Competição para Crianças… a construção dos Futuros Homens


O que para muitos pode ser considerado um mero passatempo, ou um estilo de vida saudável, para aqueles que encaram o desporto infantil com um olhar mais atento e profundo, esta é uma atividade que apresenta um papel muito importante na construção dos Homens do amanhã.
Para Kurz (1988), o desporto de rendimento tem significado pedagógico e pode ser estruturante para a formação e desenvolvimento da criança, desde que organizado de forma adequada e ajustada às condições e caraterísticas da criança, ao seu mundo.
Darei alguns exemplos que retratarão as afirmações que referi anteriormente. É sabido que crianças expostas a situações de pressão competitiva cuidada e criteriosa, poderão no futuro lidar mais facilmente com as situações de pressão. No entanto, se a pressão ultrapassar os limites que a criança é capaz de suportar, poderá por em causa a estabilidade psicológica dos futuros adultos. Assim, o resultado da formação de uma criança, deverá revelar-se a longo prazo, deixando de fazer sentido os resultados desportivos imediatos.
Um exemplo de pressão que podemos abordar é a avaliação de desempenho, com que muitos profissionais se deparam nos seus empregos. Não tendo dúvidas que a competição representa uma situação de avaliação/comparação entre desportistas de elevada responsabilidade. Assim, a criança que compete, no futuro terá maior facilidade em encarar a avaliação como um processo natural, sofrendo menos “stress” quando se deparar com situações do género.
Outro aspeto associado ao desenvolvimento de competências nas crianças, através das competições em que participam, é a habitual procura da excelência e da capacidade de superação. O fato do espírito competitivo fazer parte da vida da criança, pelas suas vivências na prática desportiva, proporciona que no futuro a necessidade de superação e excelência seja transferida para outras situações de carater pessoal, académico ou profissional.
Segundo Bento (2004), “o desporto é uma cultura de reações e condutas humanas, um código de normas de trato humano duramente posto à prova em situações de tentação e dificuldade, como são as do jogo e da competição. O desporto pertence ao conjunto dos domínios culturais em que nos reconhecemos como seres humanos, em que aprendemos estilos de respeito e gestos de circunspeção humanizadores que temos uns para com os outros”. O autor revela claramente que o desporto tem um papel importante na construção de valores e ética, que proporcionará à criança uma aquisição útil para o seu futuro, assimilando a grandeza das relações humanas.
A integração social é outra valência que o desporto deverá potenciar. Quantos de nós não mantemos no grupo de amigos, elementos que integravam a nossa equipa de futebol, voleibol, basquetebol, etc.? A razão é a identificação com os valores e regras de convivência daquele grupo desportivo, que se tornou tão forte que durou até aos dias de hoje! É este sentimento de pertença a um grupo, que nos facilita que enquanto adulto sejamos capazes de trabalhar em equipa, fator tão importante na maioria das organizações de sucesso.
De uma forma geral, a competição desportiva na criança, ajuda-a a preparar para a competição de alto nível, com que se deparará quando atingir a idade de adulto. P. ex. a competição para encontrar um emprego, competição para progredir na carreira profissional, competição para ser mais feliz… Na sociedade atual, só “sobrevivem” os mais aptos para a competição!
REMATE DA SEMANA: A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” (Peter Drucker)

sábado, 25 de maio de 2013

Expetativas desmedidas levam ao fracasso

 
Quando fazemos referência a um jovem jogador, devemos em todos os momentos medir as palavras que utilizamos, pois todas elas têm consequências tanto na sua prestação desportiva presente, como no futuro.
 
Quantas vezes já ouvimos dizer que este ou aquele jovem jogador vai ser o futuro Cristiano Ronaldo ou Messi!
 
Se por um lado estas palavras poderão ser encorajadoras e motivadoras, no sentido do jogador ganhar confiança e continuar a treinar, pois reúne as condições para ser um jogador de elevado rendimento, por outro, poderão ser palavras que deitarão tudo a perder.
 
Como deverá compreender, se o jogador interiorizar palavras que o classificam com uma capacidade desmedida, poderá desenvolver uma perceção de competência irreal e uma autoconfiança excessiva.
 
Níveis excessivos de autoconfiança poderão ser tão prejudiciais com a falta dela. Quando um jogador apresenta níveis elevados de autoconfiança, poderá acreditar que não necessita de um esforço significativo para atingir um elevado rendimento, situação esta que na maioria das vezes tem como desfecho o insucesso. Ao nível do relacionamento com treinadores e colegas, o excesso de autoconfiança poderá levar a que o jogador não admita os seus erros, tenha uma opinião distorcida da sua competência, situação que despoletará o conflito e consequentemente o fracasso.
 
No futebol atual temos vários exemplos que retratam esta situação. Freddy Adu, jogador que passou pelo Sport Lisboa e Benfica, admitiu que com ele passou-se isso mesmo, referindo que “…chamarem-me Pelé desde os 14 anos, que significou o princípio do fim da minha carreira enquanto jovem.” Referiu ainda que tinha sonhos mas que as expectativas criadas em seu redor eram demasiado altas. “Quando dizem que és o novo Pelé, as pessoas esperam que chegues e domines, que brilhes como nenhum outro, que marques golos atrás de golos”, confessa o jovem de agora 23 anos. Adu mostra-se consciente do seu ‘fracasso’ mencionando: “depois de isso não acontecer, como aliás é normal que não aconteça com um miúdo de 16, 17 ou 18 anos, olham para ti como um falhado, uma desilusão”.
 
Fábio Paim, jogador da formação do Sporting Clube de Portugal é outro exemplo de um jovem que não vingou, apesar de reunir todas as condições para que o seu talento o levasse para um destino diferente. “Dizem que fui dos melhores jogadores jovens que apareceu no futebol português e a construção dessa ideia foi um mérito meu. Hoje olho para colegas como Rui Patrício, Daniel Carriço ou Bruno Pereirinha e penso que podia estar no lugar deles, mesmo num patamar superior”, começou por destacar, acrescentando: “Mas eles trabalharam sempre no duro, enquanto eu cometi vários erros. Fico feliz por eles, não tenho inveja, rancor. Nem mesmo quando me dizem na rua que poderia ser melhor que o Cristiano Ronaldo. A verdade é que não consegui lidar com o fato do futebol passar de hóbi para profissão."
 
Depreendemos com estes dois exemplos que a carreira dos jovens jogadores de futebol, vai muito para além das competências técnico táticas. A adaptação do discurso dos agentes desportivos que intervêm e têm influência junto das jovens promessas, deverão ser diferenciadas e bem medidas, no sentido de garantir uma estabilidade psicológica, para que possam estar reunidas todas as condições que proporcionam uma carreira de sucesso.
 
REMATE DA SEMANA: "Você ganha força, coragem e confiança através de cada experiência em que você encara o medo de frente.”Eleanor Roosevelt
 
Artigo publicado no Jornal tribuna Desportiva de 23.04.2013
 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Nem sempre quem procura defender mais evita os golos!


Esta semana tivemos um emocionante clássico entre F.C. Porto e S.L. Benfica. Para além de ser uma partida rodeada da habitual expetativa, teve uma carga acrescida pois, o seu resultado poderia ter decidido o vencedor do campeonato. Apesar das poucas situações de golo, muito devido ao equilíbrio defensivo que a equipa de Jorge Jesus tentou colocar no jogo, considero que foi um jogo rico em inteligência tática por parte de ambas as equipas, que se foram anulando ao longo dos diferentes momentos da partida. Na minha opinião, Jorge Jesus balizou o objetivo da partida pelos mínimos, o empate, e não pelos máximos! Uma equipa que quer ser campeã deveria ter apresentado uma outra estratégia de afirmação competitiva. A estratégia quase que resultava, como resulta em muitos jogos, mas quando se leva aos limites as precauções, como foi o caso, o feitiço poderá virar-se contra o feiticeiro. Apesar da maior percentagem de posse de bola para a equipa do Porto, o jogo até estava equilibrado, tão equilibrado que os primeiros golos provieram de situações de ressaltos. Até aqui, a sorte também esteve em igual proporção para as duas equipas.

Ponto crítico do jogo foi quando Jorge Jesus exagerou nas precauções, como referi anteriormente, reforçando o meio campo defensivo. Ao invés, Vítor Pereira reforçou o setor ofensivo. Este período em que jogadores entram, tendo que se adaptar ao jogo, poderá ser considerado um momento crítico no jogo, onde os desequilíbrios podem surgir devido ao tempo habitual de adaptação. Não são só os jogadores que entram têm de se adaptar, mas também os jogadores que até ao momento tinham as suas funções definidas e “automatizadas”, terão que se adaptar. Ou seja, toda a equipa terá que se adaptar, ou por situações estratégicas sugeridas pelo treinador, ou pelas caraterísticas dos jogadores que entram, ou até por ambas! Para evidenciar o que refiro, basta centrarmo-nos nas substituições que foram feitas na equipa do Benfica, nomeadamente a entrada de Roderick Miranda para o lugar de Gaitan, no sentido de aumentar a consistência defensiva, blindando o corredor central. Também se verificou a entrada de Aimar para o lugar de Ola John, presumo eu, para tentar garantir mais posse de bola. Na verdade, estas duas substituições mudaram claramente a dinâmica de jogo do Benfica. Até considero que tenha subido um pouco as linhas de pressão, mas ficou mais vulnerável pelas alterações de funções de grande parte dos jogadores, colocando em causa a dinâmica da equipa, nomeadamente nos momentos de transição defensiva. Evidência disso mesmo é o lance do 2º golo do Porto que passo a esmiuçar, através das seguintes imagens:




 
 
Considerações finais:
1-      Claro que se a estratégia do Benfica tivesse dado certo, com certeza que não estaríamos a pôr em causa as decisões de Jorge Jesus.
2-      O campeonato ainda não está decidido! Felizmente iremos ter campeonato até à última jornada.
3-      Não considero que o deslise do Benfica tenha sido contra o Porto, mas sim contra o Estoril.
4-      Apesar de ser simpatizante do F.C. Porto, considero que tendo em conta a época que o Benfica está a fazer, e a qualidade que tem demonstrado, não vejo injustiça nenhuma em que seja campeão. Por outro lado, considero que a justiça no desporto é relativa!
5-      Lamento as declarações do jogador Kelvin, quando afirma o seu desejo que o Chelsea vença na próxima quarta-feira. Apesar de não ser português, deverá respeitar o país que lhe dá oportunidade de desenvolver a sua atividade profissional. Um jovem com uma grande margem de progressão enquanto jogador, mas também enquanto homem.
6-      Qualquer das equipas que seja campeã, desejo que todos os agentes saibam perder ou ganhar com elevação, e fundamentalmente com educação!
 

domingo, 12 de maio de 2013

Jogar Fora Vs Jogar em Casa


 
Existem várias condicionantes que são analisadas quando se faz a abordagem a um determinado jogo. Uma que ouvimos falar com regularidade é se o jogo é no campo da própria equipa (casa) ou no campo do adversário (fora). É de conhecimento do senso comum que normalmente a equipa que joga em casa tem alguma vantagem sobre o adversário. O tema que vos trago hoje, prende-se com uma pequena pesquisa que fiz ao longo da semana, que vai ao encontro desta ideia. Investigadores de diferentes modalidades, através de tratamento estatístico, demonstraram esta tendência.

Segundo os autores que fui consultando, a adaptação às dimensões dos campos podem ser consideradas como um fator condicionante. De acordo com a FIFA (2005), as medidas do campo devem estar entre 90 a 120 metros no comprimento e 45 a 90 metros na largura para jogos de caráter nacional. Assim sendo, de campo para campo existe uma variabilidade ao nível das medidas. Normalmente a equipa está melhor adaptada às dimensões do seu campo, pelo número de vezes que lá compete e pelo número de vezes que lá treina. Segundo Pollard (2002) o aspeto da familiaridade com o próprio campo será outra condicionante, pois existe uma maior consciência espacial do jogador permitindo-lhe uma orientação/reorientação mais eficaz nas ações decorrentes e exigidas na partida. A equipa da casa poderá também controlar as condições do relvado em função da estratégia utilizada para o jogo, por exemplo, campo molhado ou a altura da relva.

Mas as condicionantes de jogar fora, não se prendem só com as caraterísticas do terreno de jogo, ou com a familiaridade com o estádio. O fato de haver uma deslocação para longe do espaço de conforto, proporciona uma alteração de rotinas e hábitos. Dando um exemplo, por vezes ouvimos falar que determinada equipa, na sua deslocação teve dificuldades em pernoitar de forma tranquila, pois existia barulho no exterior do hotel, provocado por adeptos da equipa visitada.

Outro fator, é a evidente presença de uma massa humana de apoio ao clube que joga em casa. Se por um lado alguns jogadores conseguem abstrair-se dos ruídos envolventes, outros terão mais dificuldade em ignorá-los, assim de certa forma poderemos considerar que condicionam. Veja as declarações de Schaars num dos jogos Benfica – Sporting da época passada Foi impressionante! Estavam 60 mil pessoas, adeptos do Benfica, a assobiar-nos. Foi tal o barulho que não conseguíamos ouvir-nos uns aos outros. Tive de gritar para falar com o Ricky. Mas a verdade é que isso motivou-me ainda mais, pois foi uma espécie de adrenalina extra”, referiu. Outro exemplo que podemos dar é o fato de José Mourinho entrar em alguns estádios adversários antes dos seus jogadores, para provocar os assobios e vaias, poupando os seus jogadores desta carga negativa. Duas evidências que 12º jogador (o adepto) não deve ser ignorado.

Outro aspeto que investigadores consideram importante é a forma como o árbitro fica condicionado nas decisões mais dúbias. Segundo Nevill et al. (2002), quando se trata de decisões importantes no aspeto arbitral, eles exercem forte influência a favor das equipas da "casa".

Se estivermos atentos às estratégias de algumas equipas quando jogam fora e casa, percebe-se claramente que têm formas distintas de abordar o jogo, em função do local da competição. É um fato, mas que na minha opinião não apresenta muitas vantagens devido ao risco de perda de identidade que pode proporcionar. Dando um exemplo, no distrito de Castelo Branco o campo da Atalaia do Campo (Concelho do Fundão) apresenta dimensões tão reduzidas, que podem justificar a alteração de alguns comportamentos, no sentido de adaptar a estratégias ao contexto onde a competição se insere. Não querendo dizer com isto que a equipa tenha de fazer uma alteração tão grande que a leve a perder a identidade.

Apesar de tudo isto, acredito que equipas profissionais bem preparadas, com uma estrutura organizativa forte, conseguem reduzir substancialmente o impacto que o fator casa ou fora tem sobre a equipa. Uma equipa profissional consegue estudar tão bem esses fatores, ao ponto de prever alguns acontecimentos e neutraliza-los, fundamentalmente através da preparação psicológica dos jogadores.

Jorge Silvério defende que ao nível das grandes equipas mundiais existe uma redução da vantagem de jogar em casa, argumentando que acontece devido à existência de cada vez mais estrangeiros nos clubes, perdendo-se a motivação inerente ao "amor à camisola".

O autor defende mesmo que a "vantagem de jogar em casa possa ser contrariada pela equipa visitante e ultrapassada enquanto fator limitativo de um desempenho de excelência".

REMATE DA SEMANA: "No dia em que sentir que o mundo inteiro é a sua casa, que o céu é o seu teto, que a terra é o seu chão, e que cada árvore é o seu jardim, então estará completamente em casa." Ravi Shankar

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 16.04.2013

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Cabeça também Joga!


Investigadores da Universidade de Brunel, na Inglaterra, estudaram as razões que levam os jogadores de alto nível como Lionel Messi, do Barcelona, e Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, a serem tão bons em recuperar a posse de bola.

Este estudo foi publicado na prestigiada revista científica "Journal of Sport and Exercise Psychology", evidenciando que jogadores de top ativam mais áreas do cérebro nas suas ações técnico-táticas defensivas que jogadores de competições de menor dimensão. Este facto torna-os capazes de antecipar os movimentos dos rivais.

De acordo com os investigadores, os jogadores altamente especializados, desenvolvem uma espécie de "sistema de verificação" que impede o impulso de reagir instintivamente, tornando-os menos vulneráveis a serem ultrapassados ou enganados pelos adversários.

Para encontrar a base neural da "superioridade cognitiva" dos jogadores mais talentosos, os investigadores equiparam 39 participantes de diversos níveis competitivos, com um scanner de ressonância magnética. A atividade cerebral de cada um deles foi analisada através de vídeos representativos, em que jogadores de nível internacional se dirigiam com a bola na sua direção.

Durante este estudo os jogadores analisados deveriam movimentar-se em função da ação do atacante representado no vídeo. Os resultados revelam que os jogadores mais qualificados agiam em sintonia com as ações dos seus adversários que os menos qualificados.

Além disso, a pesquisa encontrou evidências de uma forte ativação de um sistema de "neurônios-espelho" quando os jogadores antecipavam a ações do oponente. Segundo os investigadores, esse sistema não é ativado apenas quando executamos uma ação com o nosso reportório pessoal, mas também, ao vermos a mesma ação a ser realizada por outros jogadores. Por isso, há uma clara evidência de "reconhecimento" dos movimentos dos adversários nos jogadores mais talentosos.

Segundo Danel Bishop “Os dados mostram claramente uma maior ativação de estruturas no cérebro de jogadores profissionais em comparação com os amadores, ao antecipar os dribles dos adversários”.

Referiu também que “acreditamos que esse maior nível de atividade neural é algo que possa ser desenvolvido por meio de treino de alta qualidade, de modo que o próximo passo será olhar para a forma como o cérebro pode ser treinado ao longo do tempo para antecipar os movimentos do adversário”.

Este estudo é a evidência que o treino desportivo, não pode ser um processo de imitação sem intencionalidade. O treinador quando programa o seu treino, tem a obrigação de perceber que alterações ele vai provocar nos intervenientes. Assim, deverá preparar os seus jogadores, através de situações práticas, contextualizadas no terreno de jogo, para serem capazes de analisar não só situações táticas, mas também os movimento dos seus adversários, dotando-os de instrumentos que proporcionem uma otimização da sua tomada de decisão.

REMATE DA SEMANA: "Quando o cérebro humano se distende para abrigar uma ideia nova, nunca mais volta à dimensão anterior." Oliver Holmes

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 2.04.2013