quarta-feira, 12 de junho de 2013

Investimento em Eventos Desportivos… É mesmo rentável?


Pelo país fora decide-se a organização de eventos desportivos. Uma pergunta que frequentemente faço a mim mesmo, é se quem decide a realização desses eventos, utiliza algum instrumento de medição para aferir o retorno económico desse evento, ou se apenas decide com base na sensibilidade que tem e opiniões generalizadas sobre o mesmo.

É que alguns eventos apresentam um investimento avultado, como por exemplo foi o caso do Euro 2004, considerado uma boa oportunidade para dar visibilidade internacional ao nosso país. Evidentemente que não tenho dados para fazer uma análise sistemática da rentabilidade da utilização dos dinheiros públicos canalizados para a realização deste tipo de organizações, mas também gostaria de fazer a questão… Será que alguém tem?

Se alguém os tem será fundamental passa-los para a comunidade em geral, através de uma linguagem percetível a todos, criando assim um sentimento de justiça, através da compreensão da rentabilidade da utilização dos dinheiros dos cidadãos neste tipo de eventos. Quando a linguagem não é clara, ou simplesmente não existe informação, todos têm o direito de especular com as expressões que habitualmente ouvimos, p. ex. “ deu prejuízo!”, “alguém ganhou dinheiro com o evento!”, “serviu para projetar a imagem deste ou daquele!”, etc.

Seja o evento de pequena ou grande dimensão, quer se invista 1 euro ou 1 milhão de euros, se esse dinheiro é público, todos devem saber o que se ganhou com a aplicação desse dinheiro e não apenas saber quanto foi gasto.

Em Inglaterra existe uma entidade não-governamental intitulada UKSport responsável por medir o impacto económico dos eventos desportivos. O UKSport tem como estratégia global, quanto aos eventos desportivos, apoiar aqueles que tenham relevância estratégica e que produzam, ao mesmo tempo, um conjunto de benefícios duradouros de caráter desportivo, económico e “social-cultural”. Esta entidade considera que o “… impacto económico de um evento desportivo é a mudança económica líquida na economia local resultante do acolhimento do evento. O efeito económico líquido pode ser expresso como a despesa adicional local, o emprego adicional local, ou o rendimento adicional local gerados pelos visitantes do evento provenientes de fora da economia local. O impacto económico total de cada evento é composto por três componentes: o impacto direto, o impacto indireto e o impacto induzido”. Importante salientar que com base nos estudos realizados em diferentes eventos entre 1997 e 2003, a UKSport criou um “Modelo de Previsão Económica” que usa para prever o impacto económico dos eventos, tendo em conta a especificidade de cada um, evitando a generalização.

A UKSport é crítica quanto a alguns estudos de impacto económico referindo no documento Game Plan 2002 Não apenas os resultados de muitos estudos de impactos económicos são mal interpretados…para suportarem…crenças de políticas, mas os resultados são muitas vezes mal calculados pelos economistas, algumas vezes deliberadamente para agradarem aos patrocinadores do projeto de investigação, outras vezes sem intenção, sendo que o número de insuficiências na estimativa dos benefícios líquidos de um investimento público são numerosas”. Daí, esta organização recomende a ação especializada das candidaturas dos eventos desportivos, garantindo a boa aplicação de recursos públicos.

Tendo em conta o exposto, cabe-me terminar este artigo com algumas questões:

- E em Portugal não deveria existir uma entidade que medisse e estudasse eficazmente o impacto dos eventos desportivos?

- Tendo a sensibilidade para perceber que os eventos desportivos poderão proporcionar retorno económico, essa entidade não deveria ser responsável por propor eventos rentáveis para aplicar os dinheiros públicos?

- Essa entidade não deveria dar suporte ao poder local para estudar a viabilidade de eventos de menor dimensão? Alerto que eventos organizados localmente, muitas vezes apresentam uma maior “taxa de esforço” que eventos organizados de dimensão nacional ou internacional.

REMATE DA SEMANA: "A economia é uma virtude distributiva e consiste não em poupar mas em escolher.” Edmund Burke

 

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 7.05.2013

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