domingo, 12 de maio de 2013

Jogar Fora Vs Jogar em Casa


 
Existem várias condicionantes que são analisadas quando se faz a abordagem a um determinado jogo. Uma que ouvimos falar com regularidade é se o jogo é no campo da própria equipa (casa) ou no campo do adversário (fora). É de conhecimento do senso comum que normalmente a equipa que joga em casa tem alguma vantagem sobre o adversário. O tema que vos trago hoje, prende-se com uma pequena pesquisa que fiz ao longo da semana, que vai ao encontro desta ideia. Investigadores de diferentes modalidades, através de tratamento estatístico, demonstraram esta tendência.

Segundo os autores que fui consultando, a adaptação às dimensões dos campos podem ser consideradas como um fator condicionante. De acordo com a FIFA (2005), as medidas do campo devem estar entre 90 a 120 metros no comprimento e 45 a 90 metros na largura para jogos de caráter nacional. Assim sendo, de campo para campo existe uma variabilidade ao nível das medidas. Normalmente a equipa está melhor adaptada às dimensões do seu campo, pelo número de vezes que lá compete e pelo número de vezes que lá treina. Segundo Pollard (2002) o aspeto da familiaridade com o próprio campo será outra condicionante, pois existe uma maior consciência espacial do jogador permitindo-lhe uma orientação/reorientação mais eficaz nas ações decorrentes e exigidas na partida. A equipa da casa poderá também controlar as condições do relvado em função da estratégia utilizada para o jogo, por exemplo, campo molhado ou a altura da relva.

Mas as condicionantes de jogar fora, não se prendem só com as caraterísticas do terreno de jogo, ou com a familiaridade com o estádio. O fato de haver uma deslocação para longe do espaço de conforto, proporciona uma alteração de rotinas e hábitos. Dando um exemplo, por vezes ouvimos falar que determinada equipa, na sua deslocação teve dificuldades em pernoitar de forma tranquila, pois existia barulho no exterior do hotel, provocado por adeptos da equipa visitada.

Outro fator, é a evidente presença de uma massa humana de apoio ao clube que joga em casa. Se por um lado alguns jogadores conseguem abstrair-se dos ruídos envolventes, outros terão mais dificuldade em ignorá-los, assim de certa forma poderemos considerar que condicionam. Veja as declarações de Schaars num dos jogos Benfica – Sporting da época passada Foi impressionante! Estavam 60 mil pessoas, adeptos do Benfica, a assobiar-nos. Foi tal o barulho que não conseguíamos ouvir-nos uns aos outros. Tive de gritar para falar com o Ricky. Mas a verdade é que isso motivou-me ainda mais, pois foi uma espécie de adrenalina extra”, referiu. Outro exemplo que podemos dar é o fato de José Mourinho entrar em alguns estádios adversários antes dos seus jogadores, para provocar os assobios e vaias, poupando os seus jogadores desta carga negativa. Duas evidências que 12º jogador (o adepto) não deve ser ignorado.

Outro aspeto que investigadores consideram importante é a forma como o árbitro fica condicionado nas decisões mais dúbias. Segundo Nevill et al. (2002), quando se trata de decisões importantes no aspeto arbitral, eles exercem forte influência a favor das equipas da "casa".

Se estivermos atentos às estratégias de algumas equipas quando jogam fora e casa, percebe-se claramente que têm formas distintas de abordar o jogo, em função do local da competição. É um fato, mas que na minha opinião não apresenta muitas vantagens devido ao risco de perda de identidade que pode proporcionar. Dando um exemplo, no distrito de Castelo Branco o campo da Atalaia do Campo (Concelho do Fundão) apresenta dimensões tão reduzidas, que podem justificar a alteração de alguns comportamentos, no sentido de adaptar a estratégias ao contexto onde a competição se insere. Não querendo dizer com isto que a equipa tenha de fazer uma alteração tão grande que a leve a perder a identidade.

Apesar de tudo isto, acredito que equipas profissionais bem preparadas, com uma estrutura organizativa forte, conseguem reduzir substancialmente o impacto que o fator casa ou fora tem sobre a equipa. Uma equipa profissional consegue estudar tão bem esses fatores, ao ponto de prever alguns acontecimentos e neutraliza-los, fundamentalmente através da preparação psicológica dos jogadores.

Jorge Silvério defende que ao nível das grandes equipas mundiais existe uma redução da vantagem de jogar em casa, argumentando que acontece devido à existência de cada vez mais estrangeiros nos clubes, perdendo-se a motivação inerente ao "amor à camisola".

O autor defende mesmo que a "vantagem de jogar em casa possa ser contrariada pela equipa visitante e ultrapassada enquanto fator limitativo de um desempenho de excelência".

REMATE DA SEMANA: "No dia em que sentir que o mundo inteiro é a sua casa, que o céu é o seu teto, que a terra é o seu chão, e que cada árvore é o seu jardim, então estará completamente em casa." Ravi Shankar

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 16.04.2013

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