segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Rentabilizar o aquecimento

Na passagem por diversas instalações desportivas, frequentemente assistimos à orientação de treinos de futebol, liderados por variados treinadores. Ainda hoje encontramos profissionais que iniciam o seu treino com corrida contínua à volta do terreno de jogo, estruturada com alguma mobilização articular. Este facto leva-me a questionar as vantagens de tal forma de iniciar a unidade de treino, inicio este mais conhecido como “aquecimento”.

Fiz uma pequena pesquisa sobre a temática e encontrei as seguintes citações: “Nos tempos actuais, uma sessão de ensino/treino do Futebol segue este modelo: 1ª parte: aquecimento com ou sem bola (habitualmente sem bola)…” (Garganta J., FCDEF-UP, 2002);

“Em tempo muito frio pode ser uma loucura permitir uma actividade muscular explosiva sem fazer previamente jogging e exercícios de alongamento com suavidade.” (Cook, M., and Whitehead, s/data);

"Sob aquecimento entende-se todas as medidas, que antes de uma carga desportiva - seja para treino ou competição -, servem para a preparação de um estado psicofísico e coordenativo-cinestésico ideal, assim como para a profilaxia de lesões" (WEINECK, 1991)

Caso o treinador, tenha como objectivo o aumento: da temperatura corporal, da elasticidade dos tecidos, do fluxo sanguíneo nos grupos musculares envolvidos no movimento, do recrutamento das unidades motoras neuromusculares, da melhoria do metabolismo, da função do sistema nervoso e de todas as outras componentes enunciadas na bibliografia de referência; eu questiono: se o movimento do corpo promove todas as adaptações anteriormente referidas, qual a razão para ser feito com corrida contínua?

Caso a nossa visão de aquecimento, seja vista para além do incremento das variáveis anteriormente enunciadas, encarando o aquecimento como uma preparação global do jogador para o trabalho a realizar posteriormente, talvez justifique realizar outros tipos de exercício, deixando de lado a ideia de que a corrida continua seja assim tão importante. Na minha opinião, o aquecimento deve contemplar uma progressão ao nível de todas as intensidades do esforço, sejam eles físicos, fisiológicos, cognitivos, psicológicos ou outra qualquer, apesar de ter muita dificuldade em ver todas estas componentes separadamente. Assim, o “aquecimento” deve preparar o jogador para a parte principal do treino, contemplando deslocamentos, passes, recepções, movimentação tácticas, indo ao encontro de todos os objectivos propostos para a unidade de treino, podendo mesmo, serem reproduzidos os momentos de jogo a trabalhar na mesma unidade de treino. O “aquecimento”, no meu ponto de vista, é o espaço ideal para a assimilação de novas tarefas tácticas. Porquê? Porque a assimilação destas tarefas requerem algumas pausas para explicações, levando muitas vezes a que se façam de uma forma mais lenta, até chegar à automatização dos processos. Muitas das vezes, o facto de não existir oposição, tornam estes exercícios mais seguros, reduzindo o risco de lesão por choque. Por este motivo, estas situações de aprendizagem de rotinas tácticas, podem ser rentávelmente utilizadas na parte inicial do treino, preparando o futebolista em todas as suas dimensões. Pelos constrangimentos anteriormente enunciados verifica-se uma diminuição de intensidade do exercício, levando-nos a atingir todos os objectivos anteriormente referidos.

Penso que para o aquecimento ser rentável, deverão ser cumpridos alguns pressupostos específicos, nomeadamente: (1) Contemplar a diversidade de movimentos, para que solicite a intervenção de todos os grupos musculares, articulares, vasculares, etc, sem sobrecarga e com um aumento gradual de intensidades; (2) Atingir uma especificidade, de forma a facilitar a realização de exercícios, que sejam realizados seguidamente; (3) Ser o mais próximo possível adaptáveis às situações posteriormente treinadas, de preferência, utilizando o mesmo espaço, material, solicitações técnicas, movimentações tácticas, etc.

Claro que nesta fase, para uma preparação eficiente, será fundamental alguns exercícios complementares, como os alongamentos.



REMATES

- Federação Portuguesa de Futebol não chega a consenso, facto que condiciona a participação dos nossos jovens desportistas nas selecções. No mínimo preocupante para quem trabalha na formação. Mais uma vez guerras de adultos em que as “balas” são os jovens. Vamos ver o que decide o Comité Executivo da FIFA!

- Poderá estar para breve um Núcleo de Treinadores de Futebol no distrito de Castelo Branco, o organismo terá uma forte ligação à Associação Nacional de Treinadores de Futebol.

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!”

2 comentários:

Cami disse...

Gostei do que li! Fizeste-me pensar!! Também era esse um dos objectivos que tens com certeza... beijos e continua

João Sá Pinho disse...

Obrigado Cami, é bom receber palavras de apreço, de alguém que contribuiu para a minha formação académica.
Beijinhos