sábado, 29 de outubro de 2011

Mas o meu filho é feliz??? Felicidade e responsabilidade de mãos dadas!



A pergunta pode parecer descabida, e realizada de uma forma descontextualizada até o pode ser, mas penso que é uma pergunta que qualquer encarregado de educação já deve ter realizado a sim mesmo.

Realmente existem actividades, como a escola, que são obrigatórias, mas existem muitas outras, como é o caso da prática desportiva que não o são. Nos inúmeros jogos de futebol de crianças e jovens que regularmente vou acompanhando, muitas vezes questiono-me se algumas das crianças que por ali aparecem, estão a ter prazer na prática daquela actividade desportiva, ou simplesmente estão a fazer um favor aos seus pais que se encontram nas bancadas, com um comportamento fervorosamente desmedido.

É grande a oferta de actividade desportiva existente, cabe ao encarregado de educação, em conjunto com o seu educando, perceber qual a melhor escolha, no sentido de fidelizar o jovem praticante à actividade desportiva em questão. Defendo até o princípio, que numa fase inicial da sua vida desportiva, a criança deverá vivenciar várias modalidades, no sentido de conseguir conhecê-las, através de um contacto directo com elas. Numa fase posterior, e com ajuda dos seus pais, deverá escolher aquela que mais se adequa às suas características, estabelecendo um compromisso, que o leve a participar de uma forma regular na sua modalidade de eleição. Nesta prática regular, penso que será importante que o jovem perceba que deverá organizar a sua vida, para que nunca falte aos compromissos da modalidade seleccionada. Sinceramente custa-me compreender que crianças com 12/13 anos, ou até menos, faltem sistematicamente a treinos das suas modalidades, sempre que têm testes no dia seguinte. Será que tem alguma coisa a ver, com a falta de preparação das matérias a estudar com a devida antecedência? Outra questão que me intriga, é o facto de perceber se alguma criança ou jovem aguenta estudar 3 horas seguidas! Se a criança precisa de intervalos para que o estudo seja rentável, porque será que o “intervalo” não pode ser o treino? São questões que aprofundaremos noutras alturas, mas a verdade é que devemos incutir às crianças, o mais cedo possível, hábitos de organização do tempo e uma aquisição funcional dos métodos de estudo.

Mas se por um lado existem pais, que tudo fazem para que o seu filho permaneça a todo custo numa actividade desportiva, por outro, existem alguns, que à primeira dificuldade ou momento de frustração que o filho encontre, comportam-se de uma forma super protectora, tirando-o rapidamente do contexto de dificuldade, que pode ser o clube ou a modalidade. Não acredito que existam actividades, onde se consigam obter resultados positivos sem sacrifícios, frustrações, desilusões, etc. Para sermos melhores do que aquilo que somos hoje, precisamos perder, falhar, cair. Virar as costas à luta será um acto de protecionismo exagerado. Devemos incutir aos nossos jovens, que a derrota servirá para analisar aquilo que temos de melhorar, não devemos desistir à primeira contrariedade. Será importante definir-mos com os mais jovens objectivos que sejam atingíveis, dando-lhes permanentemente feedbacks se estão no caminho certo, para que eles tenham uma percepção de sucesso. O diálogo é mais uma vez fundamental.

Gostaria de transmitir a ideia que se poderá aproveitar a oportunidade da criança ou jovem interagir com uma actividade, onde está motivada para a sua prática, para lhe transmitir valores e comportamentos que mais tarde, sejam úteis para que tenha uma vida de sucesso numa sociedade competitiva como a nossa. No futuro, o jovem que antecipadamente foi preparado para os constrangimentos de uma sociedade competitiva, estará preparado para lidar com ferramentas e valores como a organização do tempo, o compromisso, a responsabilidade, os métodos de trabalho, o espírito de sacrifício, a autonomia etc. … Tudo será natural e a sua vida terá um conjunto de ingredientes que contribuirão para a sua felicidade.
O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem, pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.” Thomas Huxley
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 25.20.2011

sábado, 22 de outubro de 2011

Para os jovens que sonham ser jogadores de futebol!

Meus caros, como dizia o poeta, “o sonho comanda a vida”. E isto é mesmo verdade! Vocês que sonham ser jogadores de futebol e sentem que terão capacidade para um dia mais tarde mostrar as vossas qualidades em grandes palcos desportivos, têm de ter a noção que estão perante uma difícil missão. Mas nunca deverão esquecer que “querer é poder”! Sabendo que a maioria das crianças e jovens sonham diariamente com o facto de poder alcançar este enorme desafio, deixo aqui algumas considerações:

1 – Mesmo sabendo que tens uma grande qualidade para chegar ao futebol profissional, deverás ter a noção que não existe espaço para todos os bons jogadores. Existem inúmeros factores que podem influenciar a entrada de um jovem com muita qualidade, neste mundo do futebol. Mesmo sabendo que é difícil continua a trabalhar e a sonhar para o teu objectivo!

2 – Um jogador de futebol que só perceba de futebol, terá ainda mais dificuldade em entrar neste mundo. Não basta treinar! Hoje um jogador deverá saber comunicar em várias línguas, para poder dialogar com jogadores, árbitros, treinador, dirigentes, jornalistas de outras nações. Deverá ter uma cultura geral que lhe permita interagir com pessoas de outras áreas. Neste sentido o facto de ser bom estudante, facilitará com certeza o seu sucesso desportivo. Mesmo sabendo que é difícil, não desperdices a oportunidade de estares bem preparado, aproveita a oportunidade que tens, em poder estudar!

3 – Nem só o treino ajuda a que tenhas uma boa performance em jogo. Factores como a alimentação e o repouso são fundamentais. Hoje em dia muitos jovens pensam que diversão é ingerir bebidas alcoólicas, fumar, sair à noite, etc. Se queres fazer a diferença dentro de campo todos os pormenores vão contribuir para seres o melhor. Por uma fracção de segundo se perde um jogo, por uma fracção de segundo se ganha um jogo. Pode ser o facto de não teres dormido bem, ou alimentado de forma conveniente que te faça perder esse segundo, que consequentemente te afaste do êxito. Mesmo sabendo que é difícil, não deixes de ter um estilo de vida saudável!

4 – Durante o jogo terás muita coisa a desenrolar-se à tua volta, os teus pais, amigos e até a namorada a ver o jogo e a apoiar-te, o treinador a dar instruções, colegas a discutir com adversários, colegas a discutir com os árbitros, colegas a discutir contigo, etc. Lembra-te que é fundamental saberes escolher a informação mais importante para que não fiques desconcentrado nem confuso, respeitando sempre todos. Mesmo sabendo que é difícil, concentra-te na tua missão no jogo, ouve quem mais te pode ajudar e tenta abstrair-te do restante, no final, se a tua missão for um êxito, poderás festejar e dedicar a vitória a quem tu quiseres!

5 – Muitas das vezes o teu treinador irá ter atitudes contigo que não vais gostar. Irá deixar-te sem jogar, irá ser duro contigo, irá fazer exercícios que não gostarás. Lembra-te que nenhum treinador quer o mal da equipa e dos seus jogadores. Tudo o que fará, por muito que te custe é para teu bem e para o bem da tua equipa. Mesmo sabendo que é difícil, aceita as decisões do treinador, dando sempre o teu melhor!

6 – Sem humildade, trabalho e sacrifício não existe evolução. Deverás ter sempre a noção que poderás ser melhor do que aquilo que já és. Se és o melhor da tua equipa, luta para seres o melhor do distrito, se és o melhor do distrito, luta para seres o melhor do país, se és o melhor do país luta para seres o melhor da Europa, se és o melhor da Europa luta para seres o melhor do mundo, se és o melhor do mundo continua a lutar para que ninguém seja melhor que tu. Mesmo sabendo que é difícil, quando treinas ou jogas trabalha para que amanhã sejas melhor do que aquilo que és hoje!

 Remate 1 - Se jogas futebol e já respeitas estas considerações todas, procura saber em que outros factores podes melhorar.

Remate 2 – Se já foste jogador de futebol e mesmo respeitando estas considerações não conseguiste chegar ao futebol de alto nível, repara que a actividade desportiva ajudou-te a ser um(a) grande Homem/Mulher. Com certeza que noutras áreas da tua vida conseguiste atingir a alta competição, com os ensinamentos retirados do mondo do Desporto.

Grandes resultados requerem grandes ambições (Heráclito).




sábado, 15 de outubro de 2011

Motivação… todos puxam para o mesmo lado!

Na actividade desportiva, inúmeros factores contribuem para um aumento do rendimento. Ao contrário daquilo que muito desvalorizam, a actividade desportiva é praticada por Seres Humanos, não por, máquinas que batem recordes, peças de um puzzle que se dispõem em 4x3x3, máquinas que arremessam objectos, nem tão pouco, objectos em trajectória aérea que voam mais longe ou mais alto. Muitas vezes, porque é mais fácil e mais cómodo, evita-se pensar que desportistas são seres humanos que analisam, interpretam, sentem, ambicionam, influenciam e são influenciados… que actuam de forma a responder racionalmente às exigências do contexto, onde desempenham a sua actividade desportiva.

Dado que estamos a falar em Seres Humanos, os factores de carácter psicológico deverão ser tidos em conta, em todos os momentos da intervenção do profissional do desporto, desde a conversa informal tida com o desportista, passando pela situação de treino, até ao feedback dado na mais importante competição. Toda a intervenção do profissional, para além das questões técnicas, deverão ter o objectivo motivar o desportista, para que alcance o seu máximo rendimento desportivo.

Cada desportista é motivado por um factor ou conjunto de factores diferentes, podendo ser influenciado para o êxito por factores intrínsecos como bater um recordes, marcar um golo, ganhar um jogo, ganhar um campeonato, etc., ou por factores extrínsecos como ganhar dinheiro, conquistar visibilidade através dos média, vencer um prémio, etc. Neste sentido, considero preponderante que o treinador conheça cada um dos seus desportistas, procurando compreender quais são os factores que os condicionam para alcançar o êxito desportivo. Na minha opinião poderemos ter dois tipos de intervenção: (1) ou estimulamos os desportistas levando-os a acreditar que a sua fonte de motivação possa ser alcançada ou, (2) caso percebamos que não é uma fonte de estimulação atingível, teremos que audazmente realizar um plano de mudança, pois se os desportistas sentirem que não conseguem atingir o que anteriormente os estimulava para a prática da modalidade, irão sentir uma drástica redução da sua motivação, podendo mesmo terminar no abandono da modalidade. É fundamental que as fontes de motivação sejam mais intrínsecas do que extrínsecas. Como refere Weimberg, Gould, (2001) “… quando um indivíduo percebe que está intrinsecamente motivado, sente-se mais feliz para praticar um devido desporto, já quando a pessoa percebe que a causa da sua motivação é extrínseca vai-se desmotivando da prática do mesmo”.

Para que o leitor perceba que a motivação do desportista vai muito para além do contacto verbal, deixo-lhe dois exemplos de estratégias que José Mourinho adoptou para outrora motivar os seus jogadores.

- “Eu sabia que o Camacho – treinador benfiquista –, sempre que estava a perder, trocava o Zahovic pelo Sokota. Ora, quando iniciei os treinos fi-lo exactamente no sentido de preparar a minha equipa contra as investidas atacantes do Sokota” (Mourinho in Lourenço 2004). Através do exercício de treino, José Mourinho passa a mensagem de que no jogo seguinte, irá estar em vantagem no marcador, passando em simultâneo uma mensagem de confiança para o seu grupo de trabalho.

- “Quando Vilarinho tornou público o seu sonho (ganhar 3-0 ao FCP) de imediato pensei: «aí está a provocação que eu preciso para agitar o orgulho dos meus jogadores. De imediato mandei fazer uma fotocópia da entrevista do presidente do Benfica e coloquei-a na parede do balneário das Antas durante toda a semana, para que ninguém se esquecesse do “sonho” de Vilarinho. Aos jornais disse apenas que na nossa casa ninguém nos ganha por 3-0. E fomos para o jogo de alguma forma espicaçados” (Lourenço 2004)

Como pode ver, todas as estratégias poderão ser utilizadas, desde que o objectivo final seja mobilizar forças para que o desportista ou a equipa atinjam determinado objectivo. Na minha opinião a criatividade e capacidade de liderança do treinador, são fundamentais neste processo motivacional.

"Motivação é a arte de fazer as pessoas fazerem o que você quer que elas façam porque elas o querem fazer." (Dwight D. Eisenhower)


Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 11.10.2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Hidratar no Futebol... um Pequeno Grande Pormenor

A água assume uma importância fundamental no nosso organismo, o nosso corpo é maioritariamente constituído por água e para o seu saudável funcionamento, a água assume um papel essencial.

Devido à necessidade de manter a temperatura corporal, o corpo liberta água através do suor, provocando a sua evaporação na superfície da pele. Estudos relacionados com a modalidade futebol, dizem-nos que jogadores em estados de desidratação, podem perder cerca de 30% da sua capacidade de trabalho. Ao contrário do que se possa pensar, esta diminuição de performance, não está só relacionada com a capacidade de correr, saltar, rematar etc., está também relacionada com a tão solicitada capacidade cognitiva. Para que tenha uma ideia mais concreta, a perda de líquidos através do suor, num jogo de futebol, pode variar entre 1 a 3,5 litros, dependendo da intensidade e duração do esforço, condições ambientais, etc. A única forma de repor esta perca de líquidos, é através da ingestão de líquidos! Mas QUANDO deve ser ingerido? A resposta está no antes, durante e depois. E COMO? Certamente se encher o seu estômago de uma vez só e praticar actividade desportiva, irá provocar algum desconforto gastrointestinal, podendo despoletar mesmo sensações de desconforto abdominal. Neste sentido o líquido deve ser ingerido de forma faseada.

Poderá iniciar a ingestão de pequenas quantidades de água 2h horas ANTES da actividade, diminuindo esta ingestão na meia hora que antecede a competição, evitando iniciá-la de estômago cheio. Esta ingestão de água antes da competição tem o importantíssimo papel de prevenir antecipadamente as perdas. Note-se que equipas mais organizadas, disponibilizam água aos seus jogadores em todos os locais onde eles passam, nomeadamente nos balneários, nas zonas de aquecimento, no banco de suplentes, etc.

DURANTE o exercício a reposição de líquidos é extremamente importante. No caso do futebol, dado o seu regulamento que não contempla pausas de volume temporal significativo, a não ser ao intervalo, as equipas deverão criar estratégias para possibilitar que os seus jogadores se hidratem nas pequenas paragens do jogo, por exemplo disponibilizar água junto ao banco de suplentes e perto da própria baliza.

Se pratica actividade desportiva, com certeza que mesmo DESPOIS do final da mesma, continua a sentir calor e o seu corpo continua a suar! É natural! O organismo leva bastante tempo a chegar ao estado de repouso, depois de um esforço. Quanto mais intenso e prolongado for esse esforço, mais tempo demora a chegar ao inicial estado de repouso. Neste sentido é importante que o desportista continue a ingerir líquidos, no sentido de ajudar o organismo a recuperar o mais rapidamente possível os níveis iniciais.

Como controlar os líquidos ingeridos pelos jogadores:

Com o objectivo do departamento responsável controlar o volume de líquido ingerido por cada desportista, sempre que possível, o jogador deverá ter ao seu dispor a sua própria garrafa com água, ou outra bebida.
 

Alguns sinais que evidenciam a desidratação:

- Aumento da frequência cardíaca;

- Aumento da temperatura corporal;

- Aumento da sensação de fadiga, podendo provocar o aparecimento de cãibras e tonturas;

- Diminuição do rendimento;

- Aumento concentração da urina (cor escura);

- Diminuição da micção urinária;

- Secura nas mucosas da boca e do nariz.


Remate 1: A sede não é um correcto indicador de necessidade de ingerir água, quando nós sentimos sede é porque o nosso organismo há já algum tempo necessitava dela.

Remate 2: Beber água a mais também é prejudicial, além do aumento do peso desnecessário, provoca que a concentração de sódio na corrente sanguínea seja baixa, despoletando dores de cabeça, fadiga vómitos, etc. Assim, deve saber a quantidade média de água que perde durante o esforço, para que a possa repor com exactidão. Existem formulas relativamente simples para calcular a sua taxa de sudação.

Remate 3: Relativamente à ingestão de bebidas alcoólicas e cafeína depois do esforço é, na minha opinião, limitadora da reposição de líquidos no organismo, devido ao seu poder diurético.

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 4.10.2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Exmo. Sr. Pedroto - Revolucionário do processo de treino!


«O verdadeiro calcanhar de Aquiles do nosso futebol reside no simples facto de quase todos pensarmos que, quando saímos dos estádios, já não somos profissionais de futebol»