sexta-feira, 18 de março de 2011

DESABAFO: Aqui há talento!

No ciclo infernal em que vivemos nos dias de hoje, o sentimento do medo de cair sem controlo num abismo chamada crise é um facto constante. Sente-se a insegurança do povo e dos líderes políticos, transmitindo a ideia de que ninguém sabe como se dá a volta à situação. União é fundamental? Como alguém disse outrora “a união faz a força”. Cá no interior, pode haver dois sentimentos relativos à situação em que vivemos: 1) a crise aqui vai demorar mais tempo a chegar! 2) Se os do litoral não se estão a safar, coitadinhos de nós! Desculpem o desabafo e a frontalidade, desde que estou por estes lados das encostas da Serra da Estrela, senti muitas vezes a existência de uma ligeira apatia, à sombra da conversa da interioridade! “Estamos cá, longe de todos!”, “Cada vez isto está mais deserto!”, “Não nos apoiam!”, “…”. E vocês perguntam-me: E não é verdade? Eu sou obrigado a concordar! Todos nós sabemos a distância a que estamos de Lisboa, Porto, Espanha, etc. Todos nós sabemos que cada vez há menos gente. Todos nós sabemos que cada vez há menos apoios do poder central! São factos muito difíceis de mudar. No entanto, ficar de braços cruzados à sombra da conversa da interioridade, não me parece a melhor opção! Há soluções? Não sei, nem tão pouco me considero a pessoa especializada para falar sobre o assunto. Mas uma coisa tenho a certeza, no interior há talento, há capacidade, há competência e gente capaz de melhorar a situação. Desde que não se passe a vida a bater nos NOSSOS de cá. Às pessoas que podem impulsionar a NOSSA região, nós passamos a vida a destruir-lhes a imagem, não lhes dando o apoio merecido, como se diz na gíria, passamos a vida a “dar tiros nos pés”! Batemos nos nossos - Batemos em nós! Porque pensamos demais no nosso umbigo, em vez de pensarmos nos NOSSOS umbigos, não encontramos estratégias para camuflar as nossas debilidades e projectar as nossas potencialidades. No desporto isto traduz-se em exemplos, muito actuais e fáceis de entender: desde clubes geograficamente mais interiores que não se unem, permanecendo competitivamente mais fracos, relativamente aos clubes com uma base de recrutamento maior; profissionais e desportistas que representam clubes do nosso distrito, ou seja “representam-nos a nós”, disputando primeiras divisões, ligas e campeonatos nacionais, são permanentemente alvos de entoadas cantigas de escárnio e mal dizer; árbitros internacionais que nem na terra são acarinhados em fases menos boas; diversas modalidades com actividade no distrito e com fantásticos resultados desportivos não são reconhecidos; …e muito mais… Se não são os de cá, os NOSSOS, a acarinha-los, a defendê-los, a motivá-los, a valorizá-los e a projectá-los, não são os outros que o farão! O lema “ quem é de fora é sempre melhor”, é mau para todos nós! O sucesso dos nossos, dos da terra, abrirá portas para os nossos! É uma responsabilidade e uma atitude de gratidão, para quem viveu e sentiu a força de um grupo/comunidade que empurrou alguém para o sucesso. Projectar os congéneres é quase uma obrigação moral quando nos encontramos na ribalta. Na crise, na competição, na profissão, no desporto, enfim, na vida, a definição de estratégias de cooperação, tendo em conta os constrangimentos do contexto são fundamentais para o nosso sucesso e para o sucesso dos nossos.

REMATES

- Ser de cá ou tornar-me de cá é e tem de ser motivo de orgulho! Não confundamos interioridade com inferioridade!

- Agrada-me o facto de o Sporting C. P. estar a encontrar soluções para voltar a ser o grande que tanta falta faz ao futebol português. Preocupa-me no entanto, o facto dos candidatos exporem-se em áreas que não são deles. Em debate televisivo, chegaram ao ponto de declararem os sistemas tácticos em que a equipa jogará, caso vençam as eleições. Será que o treinador também irá definir políticas de crescimentos dos associados, ou mesmo políticas de investimento? Neste nível não me parece que se possa confundir papéis ou funções! Espero que não se torne moda.

Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 15.03.2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

O DESPORTO PARA ALÉM DO FUTEBOL

Cada vez mais cedo a criança inicia a sua prática desportiva. Se por um lado é fundamental que desde tenra idade esta criança tenha um estilo de vida saudável, associado a uma equilibrada alimentação e prática desportiva regular, por outro deve ser uma preocupação, a forma como esta introdução no mundo desportivo é realizada. Quanto mais nova é a criança, mais diversificada, deve ser a prática desportiva, proporcionando que esta tenha o prazer de usufruir de um vasto conjunto de vivências, que por sua vez, lhe proporcione um desenvolvimento em todas as suas dimensões. Hoje em dia, discute-se entre os profissionais do Desporto o tema Especialização Desportiva Precoce da Criança e Jovem. Sem dúvida que deverá existir uma especialização mas, no momento certo e precedido de um conjunto de bases gerais desportivas. A Educação Física tem aqui um papel fundamental, dando a conhecer uma diversidade de modalidades e vivências desportivo-sociais, proporcionando que a criança ou jovem opte mais tarde, por aquela em que se sente mais motivado(a). Analisando friamente os caminhos desportivos que dão continuidade ao trabalho realizado na Educação Física, o praticante poderá encontrar aqui uma grande barreira. A oferta desportiva na nossa região está monopolizada por algumas modalidades, e o que para a criança será uma motivação diferente da norma, rapidamente se poderá transformar num caminho desportivo manipulado e empurrado para esta ou aquela modalidade, que se encontra disponível no distrito, cidade, vila, aldeia ou lugar. Deixo algumas questões para futuras reflexões: Para além da Educação Física que seguimento tem a prática desportiva da criança ou jovem? Que aproximação existe aos clubes, promovendo uma aproximação ao meio competitivo? É certo que existem mais que uma ou duas modalidades no distrito! Mas que aproximação às escolas e à comunidade em geral têm estes? Que contacto marcante existe entre os clubes e as crianças, jovens e encarregados de educação? Para as modalidades que já existem: que politicas de comunicação devem ter, para se possam aproximar às respectivas populações alvo? Para outros responsáveis desportivos: que reconhecimento e promoção fazem para que as modalidades com menos destaque informacional possam ter o merecido protagonismo?

Esta reflexão sobre a especialização precoce, no nosso distrito, que considero “quase uma especialização obrigatória”, poderá ser ainda mais profunda! Evitando esta especialização prematura, o ensino de determinadas modalidades não deverão contemplar vivências noutro tipos de modalidades? (ex. Um clube de futebol não deverá proporcionar às suas crianças em idades pré competitivas, vivências por exemplo na ginástica?) Principalmente quando falamos dos escalões mais baixos! Neste sentido, poderemos proporcionar a promoção de uma preparação geral e heterogénea do desportista, estando certo que existirá sempre uma transferibilidade de decisões, acções, tarefas, técnicas, tácticas de umas modalidades para outras. Assim, este tipo de vivências só irá enriquecer o portefólio prático do desportista. Neste sentido surge outra questão: será que este tipo de abordagem ao desporto, não evitará o abandono prematuro das modalidades?

Meus senhores e minhas senhoras, para que tenhamos crianças e jovens com uma formação desportiva mais rica, será fundamental que emerjam novos clubes ou novas modalidades, proporcionado que haja uma continuidade e complementaridade ao trabalho desportivo que se faz nas escolas.



REMATES:

1. O Futebol é uma modalidade que continua com bases sólidas no nosso distrito. O facto de haver desportistas desde tenra idade a complementar esta actividade, com a prática de outras modalidades, fará com que se tornem um dia mais tarde, se assim o desejarem e se tiverem condições para tal, futebolistas mais completos;

2. O Gira-Volei será sem dúvida um projecto que irá fazer crescer o voleibol no nosso distrito, sinto que o primeiro ciclo vai receber esta modalidade de braços abertos;

3. O Pentatlo está a evoluir para patamares onde outras modalidades nunca chegaram no nosso distrito, atletas campeões nacionais, atletas em selecções nacionais, atletas em projecto olímpico. O bom trabalho deverá ser reconhecido;

4. Embora ainda em meio escolar a ginástica está a ter expressão em Castelo Branco, desejamos que continue assim a crescer;

5. O atletismo regional, afirma-se claramente a nível nacional, continuemos a apoia-lo;

6. Outras modalidades merecem destaque, desejamos que se aproximem das crianças e jovens, que satisfaçam as suas expectativas, que sejam reconhecidas por todos. Assim, poderão ser difundidas homogeneamente em todos os cantos da nossa região, proporcionando um crescimento do desporto em todo o distrito!

Artigo Publicado em Tribuna Desportiva (1.03.2011)