domingo, 11 de março de 2007

Ser "Geração Benfica"

Numa altura em que a Formação no Futebol é um tema em voga, achei oportuno partilhar com os leitores deste Blog a minha experiência na Escola de Futebol do Sport Lisboa e Benfica, desvendando um pouco do trabalho que é produzido nesta instituição.


(Fonte1: http://www.slbenfica.pt/Info/Futebol/SectorFormacao/escolasdefutebol_metodologia.asp)

O objectivo da Escola de Futebol do Sport Lisboa e Benfica é formar cidadãos capazes de saber estar em sociedade, utilizando o Futebol como meio. Parece um pouco estranha esta minha afirmação, podendo o leitor questionar-se, Então onde são formados os Campeões? Os vencedores? Os jogadores que iram ser o futuro da equipa principal do Benfica? Estas são questões pertinentes que passaram na cabeça das pessoas, mas reflictam, na Escola de Futebol estão inscritos centenas de crianças/adolescentes, nem todos iram certamente chegar a ser jogadores profissionais de Futebol, então como Escola (de vida), o Benfica tem como missão passar uma série de valores: respeito, cooperação, saber trabalhar em grupo, saber estar em diferentes situações (dentro de campo, fora de campo), entre outros, através do Futebol.



(Fonte2: http://www.slbenfica.pt/Info/Futebol/SectorFormacao/escolasdefutebol_apresentacao.asp)

Em relação à Metodologia de Treino, compreendendo o jogo de Futebol como um contexto em que os desportistas estão constantemente a tomar decisões em função dos seus companheiros de equipa, dos adversários, e posição/deslocamento da bola, qualquer exercício de treino tem como objectivo treinar competências para que esses desportistas saibam tomar as decisões mais correctas em contexto de jogo. Nesta lógica exercícios de treino de habilidades como o passe (por exemplo: 2 desportistas frente a frente a treinar passe), não tem lógica de ser, porque num jogo de futebol, por exemplo, quando dois jogadores da mesma equipa se encontram sozinhos quando fazem um passe tem que ter sempre em conta a posição do seu adversário para evitar que a bola não seja interceptada. Então habilidades como o passe, ou o remate são meio para atingir um objectivo (por exemplo o golo), e não um fim si mesmo.
Todos os exercícios treino têm por base princípios de jogo, que levam ao treino de competências nos desportistas, para que estes tomem as melhores decisões possíveis em contexto de jogo.







(Fonte3: http://www.slbenfica.pt/Info/Futebol/SectorFormacao/escolasdefutebol_metodologia.asp)

Em termos organizacionais, a Escola de Futebol divide os alunos em diferentes turmas, juntando alunos da mesma idade. Podendo as turmas ter desportistas mais novos que a média das idades da turma, sendo miúdos que estão a um nível superior aos da sua idade. Como existe a preocupação dos alunos estarem em constante evolução, os estímulos existentes no treino têm que levar a uma constante superação, neste sentido tem que se adequar as turmas á necessidade dos alunos, procurando que já disse anteriormente a superação/evolução e evitar a desmotivação.

(Fonte 4: http://www.slbenfica.pt/Info/Futebol/SectorFormacao/escolasdefutebol_metodologia.asp)

Posso então dizer que a lógica do treino da Escola de Futebol do Sport Lisboa e Benfica, foi de encontro a forma como penso o Futebol, ou seja, mais do que treinar habilidades e depois aplicá-las no jogo, é necessário treinar a tomada de decisão (raciocínio), porque um bom jogador é aquele que sabe tomar as melhores decisões perante os problemas que o jogo lhe apresenta. Um bom profissional em qualquer trabalho é aquele que consegue sabe tomar a melhores decisões, e aplicá-las do seu contexto laboral. Mais do que formar bons executantes, é necessário formar bons Homens.


António Ferreira

sábado, 10 de março de 2007

Ronaldo e Drogba, jogadores multifunções

Para meu espanto, a minha opinião foi tida em conta pelo redactor principal da secção de desporto do jornal Público, resultando num artigo neste meio de comunicação social de dimensão nacional, o que me faz sentir um privilegiado!

Podemos constatar em post’s anteriores, publicados no nosso blogue “treino&ciência”, um diálogo entre mim (João Sá Pinho) e Bruno Prata, onde o tema principal incide sobre a estatura dos jogadores de futebol avançados. Este artigo vem no seguimento desse mesmo diálogos.

Antes de passar para a leitura do artigo, gostaria de referir que existe um lapso quando o autor refere que sou doutorado, pois estou no início do percurso, faltando-me muito para o completar. Portando onde está escrito doutorado, deverá ler-se doutorando.

"1. João Sá Pinho, um leitor habilitado na matéria (de facto, é mesmo doutorado em Metodologia de Treino Desportivo), enviou um e-mail a rebater a minha teoria de que alguns jogadores de baixa estatura, como Simão ou Miccoli, conseguem ser melhores entre os bons, designadamente porque sabem tirar partido do seu centro de gravidade baixo. Argumenta que há outros factores decisivos no desempenho de um futebolista. É verdade e alguma coisa terá falhado para que um especialista concluísse que só valorizámos a vertente antropométrica e, mesmo aí, em favor dos "baixinhos". Felizmente que não foi preciso esperar muito para ter a oportunidade de repor as coisas no devido lugar. Bastou, de facto, assistir aos jogos da Liga dos Campeões e observar as exibições de Cristiano Ronaldo (1,87 m de altura) e Drogba (1,88 m), provavelmente os dois jogadores mais determinantes e mágicos que o futebol nos tem oferecido esta temporada.Nem um nem outro marcaram, desta vez, quaisquer golos. Mas foi muito à custa do português que o Manchester bateu o Lille. Recordemos: Cristiano recebeu a bola junto à linha, acariciou-a primeiro com a sola das chuteiras, transportou-a a seguir com toques ligeiros, depois arrancou como uma flecha enquanto deixava para trás dois adversários surpreendidos com o seu correr de pernas altas e passinhos estranhamente curtos e, finalmente, utilizou a cabeça de Larsson para tabelar a bola para o fundo da baliza - é uma imagem exagerada, claro, mas não foi por acaso que o sueco e os restantes colegas correram de imediato para um Cristiano sentado nos calcanhares enquanto mirava as bancadas com aquele olhar apoteótico que fez lembrar os tempos em que Cantona levantava as golas da mesma camisola sete.Drogba foi o mais castigado no Chelsea-FC Porto (sofreu cinco faltas). Normal. Mas foi também o mais faltoso (quatro), o que já é menos normal e ajuda a explicar por que muitos o consideram o paradigma do atacante total e o melhor número 9 da actualidade. Quando, há cerca de um ano, se dizia que José Mourinho queria contratar Eto"o e que, para isso, até poderia convencer o Barcelona oferecendo em troca Drogba, desconfiámos que o negócio jamais se faria. Porque Drogba, tal como Terry e Lampard, tem o ADN e a cultura vencedora que permitem a Mourinho fazer do Chelsea uma máquina por vezes monótona, mas quase sempre trituradora. É isso que o costa-marfinense mostra quando ganha todos os lances aéreos na área adversária (como no golo de Ballack frente ao FC Porto) ou quando, logo a seguir, está na sua defesa a anular um canto. Um carácter que começou a forjar quando jogava no Le Mans (II Divisão francesa), onde nem era titular, e teve de ultrapassar as fracturas no pé e no perónio. Num ápice, os seus golos chamaram a atenção do Marselha, que pagou por ele seis milhões de euros ao Guingamp, bem menos que os 37,5 milhões que Mourinho quis que Abramovich desembolsasse para o ter em Stamford Bridge. É muito? Talvez, mas pouco se tivermos em conta os golos que marca e dá a marcar e menos ainda se o compararmos com Schevchenko, que custou mais (44,5 milhões de euros) e que ainda é tratado pelos companheiros por 007, por ter a fama de ser o espião do patrão russo no balneário. É, por isso, inverosímil que Mourinho alguma vez trocasse Drogba por Eto"o, um avançado igualmente extraordinário, mas dono de uma cabeça egoísta e algo destrambelhada, o oposto do que Mourinho valoriza. Mas perguntem a Mourinho se não gostaria de ter Cristiano Ronaldo... Venha ele!, diria imediatamente. Porque há sempre lugar para um jogador-multifunções, capaz do belo e do eficaz e que, ainda por cima, junta o querer e a ambição que fazem parte da cartilha do técnico português. O problema de Mourinho (e de tantos outros) é que Ferguson também sabe isso.Tivessem o Barcelona e o Arsenal (as duas equipas na actualidade que mais mimam a bola) jogadores desta estirpe e provavelmente não iriam ver os quartos-de-final do sofá. Mas o Barça de Rijkaard, como alguém escreveu no El País, é uma equipa "guapa" e mais dada à cosmética do que à cicuta. Por isso, quando Ronaldinho & C.ª não interpretam devidamente a partitura, tornam-se apenas num conjunto de celebridades cheias de etiqueta e ao alcance de um Liverpool pragmático. Porque uma equipa é também um estado de alma.


2. Ao fim de 15 anos, Figo despediu-se das provas europeias de clubes. Fê-lo de forma algo inglória, na eliminação do Inter de Milão em Valência, num jogo ainda por cima marcado pela vergonhosa sessão de pancadaria no relvado e nos corredores. Entre o dia 18 de Setembro de 1991, quando se estreou na Europa com a camisola do Sporting frente ao Dínamo de Bucareste, e a derradeira participação, Figo somou 136 jogos europeus (só Maldini tem mais) e conquistou uma Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental, uma Taça das Taças e uma Supertaça Europeia. Isto para além de galardões individuais e títulos em Espanha e Itália, onde está prestes a festejar mais um. Aquele que foi, pelo menos, o melhor jogador português desde Eusébio revela-se igual a si próprio na forma cerebral e fria como, aos poucos, se vai desligando do "circo futebolístico". Não se lhe notou pinga de emoção ou de nostalgia, mesmo quando anunciou que a alta competição já foi chão que deu uvas e que é tempo de ir à procura dos petrodólares nos árabes do Al-Ittihad. Tanta frieza atrapalha e até incomoda quem se habituou a admirá-lo e a aplaudi-lo. Mas Figo sempre foi assim. Um pragmático, acima de tudo.


3. Uma equipa de jornalistas da televisão britânica BBC esteve em Portugal a fazer uma reportagem sobre o trabalho que o Sporting desenvolve na formação. Efeitos "colaterais", está bom de ver, da dimensão internacional que ganharam Figo, Ronaldo, Quaresma, Simão e Hugo Viana. Para além de considerar que os "leões" estão ao nível da referência que sempre foi o Ajax, e que até lhe ganham nas infra-estruturas que a Academia de Alcochete agora oferece, a reportagem defende que os ingleses têm muito a aprender com o Sporting. O segredo está em não preferir os jovens avantajados, mas que não sabem controlar a bola, aos que só têm (ainda) palmo e meio, mas já mostram perícia e velocidade. Lá voltamos nós à vaca fria, não é, caro leitor João Sá Pinho?...

Jornalista (bprata@publico.pt)


P.S. - O nome desta rubrica semanal resulta de um neologismo surgido no início do século XX que falhou a tentativa de substituir a palavra inglesa football." (Prata, B., Público, 09.03.2007)
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Nota: Concordo integralmente quando o autor refere que preferir jogadores avantajados por si só de nada vale. Considero um jogador como uma pessoa que deve ter um conjunto de características e um conjunto de competências. Portanto deve ser visto como um todo. Por vezes até me apetece exclamar: “Pequeno ou grande tanto me faz!”, mas na verdade a altura é um factor a ter em conta, como muitos outros que fazem parto do todo.

Questão: Muitos clubes de formação, colocam as medidas antropométricas como uma variável demasiado importante na selecção dos seus jovens desportistas. Sem dúvida que por vezes fazem a diferença nas competições onde participam, e têm grande influência na obtenção de títulos desportivos. Mas quando se pensa: “é grande, com ele vamos ser campeões na formação!”, estamos, sem dúvida, a esquecermo-nos que o principal objectivo da formação é “construir” um percurso. Esta etapa da formação deve acabar quando o jovem atinge o nível sénior (não esquecendo que enquanto o Homem é um ser vivo está constantemente em formação), e aqui sim, num nível sénior, tem de se apresentar com as suas capacidades e competências bem desenvolvidas, para que possa ganhar campeonatos e ter rendimento!
Finalmente a questão: Será que quando optamos pelos “grandinhos” unicamente por serem “grandinhos”, não estamos a perder “baixinhos”, com mais potencial para virem a ser jogadores competentes?

Afirmação 1: Penso que um jogador de “TOP”, além de ter que saber tirar partido do seu centro de gravidade, deverá também saber tirar partido do centro de gravidade do adversário, pois da análise deste (CG) pode obter informações determinantes para uma tomada de decisão bem sucedida.
Aqui está uma problemática ainda mais interessante!
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João Sá Pinho


quarta-feira, 7 de março de 2007

Análise ao Jogo: Chelsea F. C. x F.C Porto

Stamford Bridge foi mais uma vez palco de um fantástico jogo da liga dos campeões. A equipa do F.C. Porto apresentou-se com uma disposição em campo que ninguém esperava, colocando-se mais recuada no terreno de jogo, ao contrário daquilo que nos tem habituado nas competições nacionais. Por este motivo teve algumas dificuldades em chegar à baliza de Petr Cech. Esta disposição da equipa do FCP, foi crucial para impedir que a equipa da casa criasse situações de remate fora dá área e penetrações neste mesmo espaço de jogo, situações estas, onde a equipa do Chelsea é exímia.

O "aglomerado" de jogadores no sector defensivo da equipa, levou a que o Chelsea ganhasse mais confiança e subisse mais no terreno, factor fundamental para a equipa do FC Porto conseguisse marcar o primeiro golo. Foi devido ao aproveitamento de uma situação em que a equipa do Chelsea subiu no terreno, descompensando a sua parte defensiva, que o FC Porto, através de uma transição rápida e troca posicional, conseguiu chegar à baliza da equipa da casa e marcar o primeiro golo.

ANALISE DO GOLO DO F. C. PORTO












Quaresma que se encontra do lado direito, dirige-se para o centro do terreno, baralhando o losango defensivo do Chelsea e abrindo espaço para que o seu colega de equipa que se encontrava numa posição mais recuada, ocupe o espaço deixado por ele.


O jogador que já estava no centro do terreno, recebe a bola e passa-a imediatamente ao seu colega que ocupa o espaço deixado por Quaresma.

Enquanto isto, Quaresma dirige-se para o espaço existente entre os defesas, abrindo uma linha de passe.
Aspecto importante foi a falta de acompanhamento do lance por parte de Diarra (mais à esquerda, referência: sentido de ataque)



A partir daqui Quaresma dirigiu-se para a baliza, analisou o movimento de Petr Cech, que posicionou-se tapando o lado esquerdo da sua baliza com os membros infriores e lançou-se para o outro lado. Quaresma colocou a bola no lado da baliza que o guarda redes deixou livre, com uma velocidade que não deu tempo para Cech realizar a defesa.





Depois do golo da equipa visitante, o Chelsea fica nervosa, pelas tensões que um ambiente deste género cria. Este factor promoveu descargas de adrenalina no corpo dos jogadores, acontecimento que despoleta efeitos fisiológicos sobre a coordenação de movimentos. Podemos verificar este facto, pela quantidade de passes que os jogadores do Chelsea falharam em situações críticas(uma hipotese!), situação que poderiam ter sido melhor aproveitadas pela equipa do FCP.

O ponto de viragem desta situação emocional foi perto dos 25 minutos quando alguns jogadores do F. C. Porto falharam passes em zonas perigosas, durante os processos de transição defesa ataque, promovendo contra-ataques rápidos por parte da equipa da casa, com situações que poderiam ter acabado em golo. Estas jogadas perigosas para a baliza de Helton, devolveram a motivação aos seus jogadores do Chesea (outra hipotese!).


A partir daí, vimos uma primeira parte em que o Chelsea dominou e o FC Porto se limitou a controlar defensivamente o resultado sem correr riscos, enviando muitas vezes a bola para a frente através de trajectórias aéreas, sem qualquer intenção de ataques rápidos.

No início da segunda parte a equipa do Chelsea consegui marcar um golo atípico, o que fez com que a equipa do F. C. Porto, se sentisse numa situação de tensão (outra hipotese!).

ANÀLISE DO 1º GOLO DO CHELSEA F. C.


Uma possível explicação para o aumento das dificuldades de defesa por parte de Helton, pode ter sido a passagem de dois jogadores à frente da trajectória da bola (Paulo Assunção e Ricardo Costa), impedindo a visualização momentânea da bola por parte do guarda-redes. Razão que não justifica completamente o golo sofrido.



Após ter sofrido o golo do empate Jesualdo Ferreira altera a disposição dos seus jogadores no espaço de jogo, fazendo entrar dois futebolistas com característica mais apropriadas à disposição em campo que o treinador do F. C. Porto pretendia.

Estas alterações provocaram um recuo na equipa do Chelsea, o que levou a equipa do F. C. Porto a espalhar-se no terreno, abrindo mais espaços no seu meio campo. O Chelsea aproveitou este factor (afastamento dos jogadores do FCP), fazendo transições rápidas que em dois/três toques colocava a bola perto da área da equipa adversária.

Perto de metade da segunda parte a equipa do FCP revelou alguma fadiga, devido às intensidades de esforço que o jogo estava a solicitar (outra hipotese!), aspecto que na minha opinião foi determinante para que o Chelsea marcasse o segundo golo e dominasse completamente o resto do jogo.

ANÀLISE DO 2º GOLO DO CHELSEA F. C.



Chelsea cria uma situação de três para três, com mais três jogadores do FCP na perseguição do lance.





O jogador do FCP assinalado com um círculo, não ajuda os centrais a anular o ataque do Chelsea, criando-se uma situação de dois para um, como se pode ver na figura seguinte.




Os jogadores do FCP que estavam na perseguição do lance, pouco se movimentaram para ajudar os seus colegas que estavam em inferioridade numérica.

A bola dirigiu-se para o jogador do Chelsea que se encontra mais à esquerda. (referência: sentido do ataque)





Quando o defesa Pepe foi tentar interceptar a bola, que se dirigia para o jogador do Chelsea mais à esquerda (Shevchenko), este último passa para Ballack que em posição frontal finalizou sem oposição.



A partir daí os jogadores do F. C. Porto não foram capazes de reagir, tanto pela fadiga que falei anteriormente, como pela organização da equipa da casa.

Concluindo, foi um jogo mais emotivo do que espectacular, com algumas situações de jogo mal disputadas, muito pelos capitais que uma competição da Champions Ligue envolve, o que levou as equipas a não correrem riscos, prejudicando em parte a espectacuralidade do encontro.

João Sá Pinho

segunda-feira, 5 de março de 2007

Resposta do Jornalista Bruno Prata

Depois do envio do post anterior ao jornalista Bruno Prata, tivemos o orgulho de receber uma resposta, o que sem dúvida revela um enorme profissionalismo e amabilidade deste jornalista. Queremos desde já agradecer publicamente toda a sua atenção.

"Caro João Sá Pinto,

Agradeço, desde já, a frontalidade do seu e-mail.


Não vou procurar rebater nada do que você defende, até porque estou inteiramente de acordo com o que diz.

Obviamente, o perfil antropométrico não pode ser a única variável utilizada quando se analisa a qualidade de um jogador. Nem era isso que se pretendia no meu artigo. Mais do que dizer que os jogadores baixos é que são bons, tentei sim explicar que os jogadores de estatura baixa ou mediana também podem ter qualidade e até vantagens nalguns aspectos – daí as referências ao baixo centro de gravidade, às acelerações e às travagens... E, se ler com atenção o artigo (que não pretendia ser um “tratado” sobre o assunto, antes uma crónica ligeira sobre temas diversos), verificará que são também feitas algumas referências à personalidade, influência e dinâmica tanto de Simão Sabrosa como do Miccoli: “Simão está sempre a pedir a bola, assume sempre as responsabilidades e é mais vertical e objectivo no seu jogo (mas cada vez mais forte nos duelos individuais). Miccoli é mais ocioso como todos os verdadeiros génios (do bem e do mal, como quando não quis saber do black out e foi à sala de imprensa dizer que Fernando Santos estava enganado acerca do seu peso), passa longos períodos sem se ver, para logo sacar da cartola uma jogada ou um pontapé decisivo”.

Também há jogadores altos com qualidade indiscutível – defende você na sua crítica ao meu artigo. Claro que há e em nenhum momento pretendi que se ficasse com a ideia de que “quanto mais baixo melhor”. De resto, à pequena lista que elaborou, até arriscaria, por exemplo, acrescentar o nome do português Cristiano Ronaldo, que mede 1,87m de altura e é já um dos melhores jogadores do mundo. Ou o tão discutido inglês Peter Crouch (2,01m), um dos casos mais evidentes de que a estatura elevada também pode ser rentabilizada. Mas entendo que nada disso contraria o que escrevi.

Grato pela sua atenção,

Um abraço

Bruno Prata

PS. Deixo ao seu critério a possibilidade de incluir a minha resposta no blogue “treino&ciência”. Mais do que isso, se estiver interessado em escrever um artigo sobre este tema, posso tratar de ver se é possível (sem qualquer compromisso) a sua publicação no PÚBLICO, na edição impressa ou no on-line.
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sexta-feira, 2 de março de 2007

Queremos melhor da imprensa nacional!

Os grandes avançados são como os perfumes

1. um treinador disse um dia que os grandes avançados, como os bons perfumes no mundo inteiro, vêm num frasco pequeno. Simão mede 1,70 m e Miccoli ainda tem menos dois centímetros."…“Simão e Miccoli são dois jogadores diferentes. Simão está sempre a pedir a bola, assume sempre as responsabilidades e é mais vertical e objectivo no seu jogo (mas cada vez mais forte nos duelos individuais). Miccoli é mais ocioso como todos os verdadeiros…” ...“O baixo centro de gravidade, como aconteceu a tantos antigos craques (Chalana, Frasco, se não quisermos subir ao nível de Maradona ou Puskas...), facilita-lhes o equilíbrio. E as pernas curtas permitem-lhes travar em menos espaço do que os adversários e acelerar em menos de um fósforo. Para os jogadores pequenos, segundo Jorge Valdano, o "corpo é geografia do escamoteio [no sentido de rodear o que embaraça], nunca um lugar de colisão". Miccoli e principalmente Simão são assim, são daqueles predestinados que conseguem surpreender com uma mudança de ritmo ou de direcção.”

(Prata, B; Público; p. 37; 2.03.2007)

Como consumidores críticos da imprensa portuguesa, não podemos deixar passar este tipo de análises relativas à actividade desportiva, sem dar a nossa opinião. Com todo o respeito pela classe profissional dos jornalistas e pelo próprio autor deste artigo, é nosso dever exigir análises desportivas com maior qualidade! A imprensa tem uma enorme responsabilidade pública na formação dos cidadãos, é ela uma das grandes responsáveis pelo aumento do nível de conhecimentos da população em geral.

Pensamos que a análise das características dos jogadores citados, poderia ir um pouco mais longe, ultrapassando a barreira das condicionantes antropométricas e a influência destas com a funcionalidade dos movimentos dos desportistas (aceleração, travagem,…). Não pretendo dizer que a altura seja uma variável pouco importante, mas para aumentar a qualidade da informação disponibilizada aos leitores, se queremos falar desta variável (altura), seria fundamental referenciar os “prós e contras” do facto dos avançados serem altos ou baixos, isto para que a mensagem passada não se assemelhe a uma “receita secreta” de que quanto mais baixo melhor, ajudando também o consumidor do produto desporto a ter uma maior capacidade de análise, quando está a desfrutar de um espectáculo desportivo.

Como profissionais das Ciências do Desporto, temos de discordar com este tipo de mensagem. Podia estar aqui a referir inúmeros exemplos de avançados de nível internacional que facilmente refutava a relação: (<> qualidade do avançado). Mais, para fazer uma análise deste tipo, não podemos olhar só para o nosso fantástico cantinho (PORTUGAL), devemos olhar para todo o mundo!

Veja-se alguns exemplos:

-Adriano Leite Ribeiro: 1,89m
- Ronaldo Luiz Nazário de Lima: 1,83m
- Didier Drogba: 1.88m
- Ruud van Nistelrooy: 1, 89
- etc.

“O grandes frascos de perfume também têm valor!!!”

Será que não seria tão ou mais importante referir outras capacidades nos desportistas de carácter humano, como por exemplo, a capacidade de tomada de decisão, função que desempenha na equipa, como é que a personalidade do desportista influência a dinâmica de grupo, a sua capacidade de controlar a bola na relação com os colegas e adversários, …

“Puxando a brasa à nossa sardinha”, profissionais de Ciências do Desporto, pensamos que seria importante os jornalistas se juntarem a profissionais das áreas de conhecimento que dão ênfase nos seus artigos, formando equipas transdisciplinares, para que possam assim melhorar a qualidade dos mesmos artigos pois, como referi anteriormente, os profissionais da comunicação social, têm uma grande responsabilidade na formação dos consumidores dos seus produtos.

Nota 1: pode consultar o artigo integral em: http://jornal.publico.clix.pt/magoo/noticias.asp?a=2007&m=03&d=02&uid=&id=178375&sid=36008

Nota 2: Como sinal de respeito pela classe dos jornalistas iremos enviar este post ao jornalista Bruno Prata (autor do artigo), e também iremos convidá-lo a visitar o nosso blogue.

João Sá Pinho

Artigo para os mais novos (uma recordação)

Artigo Publicado no Jornal da Escola Quinta das Palmeiras – Covilhã, Ano XIV - Março 2006 – n.º 30

Antecipação - Qualidade de um bom jogador


Com este artigo quero apenas falar-te de uma capacidade essencial para se ser um bom jogador, estou a falar da capacidade de antecipação. A capacidade de antecipação não é o dom que se tem para adivinhar as jogadas dos adversários, mas sim a capacidade de analisar o movimento deles e perceber quais as suas intenções.
Dou-te o exemplo de um guarda-redes que vai defender um penalty. Um guarda-redes que tenha capacidade de antecipação é capaz de, mesmo antes da bola se movimentar, perceber qual a direcção que ela vai tomar. Sabes porquê? Porque este guarda-redes sabe analisar o movimento do marcador do penalty, vê a posição e o movimento do seu corpo, vê a direcção do membro inferior que vai rematar a bola e, imagina o ponto da bola em que o pé do jogador vai aplicar uma força, e assim percebe a trajectória que ela vai adquirir.
Por exemplo:
Na imagem A, o pé do jogador vem na direcção do centro da bola, o que é indicador que a bola irá ter uma trajectória junto ao solo. Isto não considerando as rotações que ela poderá adquirir, também conhecido por “spin”. Na imagem B, o pé do jogador vai tocar na parte inferior da bola o que será indicador que ela vai subir.


Para teres uma ideia do que é uma boa antecipação, podes ter como exemplo o penalty que o Ricardo defendeu sem luvas no Euro 2004. O que aconteceu foi que o Ricardo cerca de 0,28s antes da bola sair da marca de penalty já tinha iniciado o seu movimento da defesa. Se não o fizesse, não conseguiria defender a bola, porque esta demorou cerca de 0,48s a chegar à baliza e o Ricardo demorou cerca de 0,64s a chegar ao local de intercepção da bola. Então, se o Ricardo só se lançasse para a defesa quando a bola saiu da marca da grande penalidade, chegaria atrasado à volta de 0,16s e tu não tinhas tido o prazer de celebrar aquela grande defesa!




Mas a antecipação tem limites, outros guarda-redes também se lançam para a defesa antes da bola partir, só que o fazem fora de tempo. Se o guarda-redes o fizer cedo demais, pode não ter indicadores da intencionalidade do seu adversário. Por exemplo, no penalty, quando o jogador está a correr para a bola, o guarda-redes não consegue retirar, do movimento de corrida do jogador, indicadores que lhe permitam prever o local para onde a bola vai ser rematada, mas se esperar que ele inicie o movimento de remate, já poderá conseguir. O facto de tomar a decisão de defesa cedo demais, dá a possibilidade ao adversário de reajustar o seu movimento, pois percebe para onde é que o guarda-redes se vai atirar, e remata a bola para o lado contrário.

Espero que com esta nova perspectiva, te divirtas a tentar prever o que os teus adversários vão fazer, quando estás a praticar desporto. Bom treino!

João Sá Pinho – Núcleo de Estágio de Ciências do Desporto Educação Física e Desporto Escolar