sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Coesão do Grupo e os Suplentes – Um factor determinante para o SUCESSO

Devido à evolução da ciência e da abordagem ao processo de treino, o treinador deverá dominar diferentes áreas do conhecimento, áreas essas, determinantes para que a sua equipa alcance o sucesso e consequentemente o seu trabalho seja valorizado por todos. As relações interpessoais são um desses aspectos que considero fundamentais. Dentro das relações interpessoais, teremos várias áreas com extrema relevância. Uma das que considero importantíssimas é a capacidade de perceber o fenómeno da coesão do grupo e como potenciá-lo.

Segundo Neto 2007, "A competência, capacidade e experiência técnica e científica do treinador, conjuntamente com as suas competências de relação interpessoal constituem a mistura mágica para o espírito ou coesão de uma equipa".

De uma forma simples, a coesão do grupo é a capacidade dos elementos de uma equipa, se unirem no sentido de atingirem um objectivo.

Neste processo dinâmico, um dos aspectos determinantes e difícil de gerir, é a forma como o treinador intervém junto dos jogadores que menos jogam. Quando estes elementos se tratam de jogadores que procuram o sucesso da equipa, terão obrigatoriamente de perceber que fazem parte do grupo e devem fazer tudo o que está ao seu alcance, para contribuírem para o sucesso do mesmo. Mesmo não jogando, o sucesso da equipa é o seu próprio sucesso. Esta é a melhor forma de estar identificado com a missão da equipa e ao mesmo tempo estar preparado para responder positivamente, quando uma oportunidade surge, contribuindo assim de uma forma activa, para alcançar os objectivos a que todo o grupo se propõe.

O que acontece frequentemente em equipas de futebol ou outras, onde existe uma falta de ligação e coesão entre elementos, ou em alguns casos diria mesmo falta de profissionalismo, é que os jogadores que não têm tantas oportunidades de competir, tentam encontrar defeitos na prestação dos seus colegas com mais oportunidade, transmitindo até a sua opinião para os colegas que estão na mesma situação. Este tipo de comportamentos prejudica gravemente a coesão do grupo e consequentemente o rendimento da equipa. Alguns desses prejuízos são a desaproximação daqueles que mais jogam; a criação de subgrupos com diferentes objectivos; a falta de concentração e incapacidade de focagem na tarefa quando têm a oportunidade de mostrar o seu valor. De uma forma geral o grupo entra numa bola de neve em que uns estão cada vez mais distantes dos outros, e os jogadores que despoletam esta situação, através de comportamentos e atitudes impróprias para a coesão da equipa, estão cada vez mais distantes das tarefas que devem realizar durante os jogos e treinos, pois deixam de estar centrados na sua tarefa dentro da equipa e passam a estar focados na prestação dos seus colegas.

Para que esta coesão seja uma realidade, evitando situações como a anteriormente referida, é importante que a capacidade de liderança do treinador, consiga envolver todos os jogadores na missão da equipa, fazendo com que todos os elementos do plantel se sintam úteis e parte integrante no processo, mesmo não jogando com tanta frequência como os outros.

Neste sentido, o treinador deve ter a capacidade de recolher informação acerca das características relacionais de cada jogador e em simultâneo compreender como é que o jogador interfere no grupo e vice-versa, para que consiga intervir, proporcionando que o TODO seja superior à soma das PARTES.

Chamo a atenção para que um plantel com os melhores jogadores, nem sempre é a melhor equipa. Se analisarmos a nível europeu, claramente existem equipas com planteis caríssimos, com jogadores de alta visibilidade, mas que raramente conseguem alcançar o sucesso. Isto pode dever-se, à falta de identidade com os objectivos colectivos da equipa. Quero dizer com isto, que o processo inicial de construção do plantel, deve ter em consideração as características relacionais de cada jogador a contratar. Para mim, este é o primeiro passo para que a equipa esteja mais próxima da coesão.

Alerto também, para a relação bidireccional que existe entre o rendimento e a coesão do grupo. Considero que a coesão entre elementos aumenta o rendimento da equipa e que simultaneamente, o rendimento desportivo proporciona um aumento da coesão do grupo. Na gíria do futebol ouve-se muitas vezes dizer, quando se ganha com regularidade e os objectivos estão cada vez mais perto de serem alcançados, tudo está bem!

Um jogador que olhe primeiro para o seu umbigo e só depois levanta a cabeça para olhar superficialmente para a sua equipa, será apenas um jogador do plantel, estando muito longe de ser um jogador da EQUIPA.

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 20.09.2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Capitão de Equipa – O Peso da Braçadeira

O tema que hoje vos apresento prende-se com o papel do capitão de equipa. Pode parecer irrelevante, quem é o capitão, ou como desempenha esta função. Não o entendo assim! Considero-o como um pormenor fulcral para o sucesso de uma equipa.

Este jogador deverá ter a capacidade de conhecer bem os seus colegas, de forma a conseguir mobiliza-los, para que canalizem para ele toda a informação sobre o dia-a-dia de trabalho no clube. Só estando atento e possuindo esta informação, conseguirá intervir junto do grupo, promovendo um aumento da coesão do mesmo, no sentido de todos os elementos realizarem um trabalho, rumo aos objectivos definidos para a equipa. Em todos os momentos este jogador será o máximo representante dos jogadores, a “voz” da equipa. Em situações de maior envolvimento emocional, o capitão deverá ser capaz de se auto-controlar, realizando uma análise correcta da situação e intervir junto dos seus colegas, condicionando-os no sentido de defender a integridade de todos os elementos da equipa, a missão do clube e tornando assim, a equipa cada vez mais próxima dos objectivos a atingir.

Para além das situações anteriormente referidas, é fundamental que exista uma cumplicidade entre este jogador e o treinador. Só através de uma relação cúmplice, o capitão consegue perceber correctamente as ideias da equipa técnica e transmiti-las aos seus colegas, mesmo durante o próprio jogo. Para que esta estreita ponte entre treinador e capitão de equipa seja possível, é também necessário o reconhecimento de competências por parte de todo grupo, em relação ao capitão. Terá de ser evidente a sua capacidade de liderança e a identificação desta liderança, por parte de todos os elementos do plantel. Para além de levar para dentro de campo a mensagem do treinador, é necessário que apresente à equipa técnica toda a informação que considere pertinente, acerca do sentimento do grupo em geral e de cada jogador, de forma a que os treinadores possam preparar estratégias mais adequadas aos objectivos a alcançar. Os factores anteriormente enunciados evidenciam claramente que o papel do capitão é mais de responsabilidade do que de privilégio.

Ao nível da comunicação, o capitão deverá ter capacidade de captar a atenção de todos os elementos de equipa, para que a informação seja passada e compreendida por todos os intervenientes. Quando me refiro a intervenientes considero jogadores da equipa, treinadores, direcção do clube, comunicação social, árbitros e mesmo adeptos, transformando-se assim numa referência dentro de todo o envolvimento social e cultural do clube.

Chamo especial atenção que dentro do plantel, poderemos ter vários tipos de liderança, o capitão formalmente eleito ou nomeado pelo treinador, e o líder informal, este, mesmo não sendo capitão poderá ter uma forte influência no grupo. Nestes casos a equipa técnica, deverá ser fortemente perspicaz para identificar líderes informais e mobilizá-los a influenciarem o grupo no sentido de percorrerem todos o mesmo caminho, tornando-os em mais um elemento agregador. Em alguns casos poderá haver rivalidade entre estes dois líderes. O que sucede quando isto não é diagnosticado atempadamente, precedida de uma correcta intervenção é a divisão do grupo. Estes acontecimentos provocam movimentos dentro do plantel, havendo jogadores a posicionarem-se comportamentalmente perto de um dos líderes e outro grupo de jogadores perto do outro líder. Quando isto acontece torna-se devastador para a equipa.

Penso que ficou evidente que o Capitão desempenha uma função tão importante, que muito deve pesar na sua escolha e na forma como é gerida a sua função ao longo da época, mas de uma forma simples, terá de ser uma fonte de inspiração para todos os seus colegas, treinadores, dirigentes, sócios, etc.

Compreender as entrelinhas do discurso de alguém, é o caminho para a compreender!

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 13.09.2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Defender no Futebol – Tácticas de Jogo

Uma equipa de futebol para ter sucesso, tem que ter potenciado o seu processo ofensivo, processo que leva os seus jogadores a marcar golos ao adversário. Mas para que isso possa acontecer, o treinador deverá dar a mesma importância ao processo defensivo. Este processo optimizará a capacidade de recuperar a posse de bola, ou no mínimo a capacidade de bloquear o adversário, no sentido de não permitir que ele crie situações de remate à baliza, que por sua vez proporcionem golo e um resultado desfavorável. É deste último processo que eu vos vou falar nesta edição.

Quantas vezes já ouvimos num jogo de futebol, o treinador dizer aos seus jogadores “marca em cima”, “não o deixes respirar”, “não o largues o teu homem”, “encosta nele”? Estas expressões são características de um tipo de organização defensiva chamada defesa individual ou defesa homem-a-homem. Ou seja, cada jogador da equipa que está a defender terá como missão, anular as acções de um jogador específico da equipa adversária, normalmente definida previamente pelo treinador. Como se diz na gíria do futebol, neste tipo de organização, “cada um marca o seu”. 

Não tendo nada contra quem utiliza este tipo de processo nas suas equipas, leva-me a crer que existem algumas desvantagens em relação a este tipo de organização. Vejamos, se admitirmos à partida que para recuperar a posse de bola, os jogadores têm que estar mais próximos, num bloco coeso, o facto de realizarmos marcação individual, vai proporcionar um afastamento entre os jogadores defensores. Sabendo que a equipa atacante, usa inteligentemente a máxima amplitude permitida pelas dimensões do terreno de jogo, nos momentos em que tem a posse da bola, obrigando a equipa defensora a ter que proteger uma área maior, esta ao realizar uma defesa individual, certamente que irá afastar os seus jogadores em função do posicionamento dos adversários. A grande desvantagem é que os defensores em vez de estarem unidos, perto do jogador adversário que tem a bola, ou perto dos espaços que oferecem maior vulnerabilidade para a baliza, estão dispersos desnecessariamente, em zonas de menor influência. Mourinho (2002), numa das suas entrevistas ao Jornal A Bola defendeu que é fundamental, “um bom posicionamento defensivo enquanto equipa, formando um bloco compacto”. O genial futebolista Maradona (2001) referiu no seu livro Eu sou El Diego “…percebi que gostava mais que me marcassem homem a homem porque me livrava facilmente deles e ficava sozinho. Pelo contrário, na marcação à zona era mais complicado”.

Quando falamos no tipo de organização defensiva, mencionado anteriormente por Maradona, a defesa à zona, temos como princípios fundamentais, que a equipa defensora, deixa de ter como referência o adversário, passando a preocupar-se com a posição da bola no terreno de jogo, e nos potenciais caminhos para a baliza, ajustando as suas posições em função da variação da posição da bola. Não quero dizer com isto, que uma marcação à zona seja o posicionamento aleatório de jogadores perto da grande área, como acontece com algumas equipas, que não possuem uma desenvolvida cultura táctica. Isto não se poderá considerar por si só uma defesa à zona, apesar de muitas vezes funcionar, devido ao desorganizado aglomerado de jogadores num curto espaço, perto da baliza. Note-se que para defender à zona, é necessário um treino que organize os jogadores no campo, não lhes deixando dúvidas em relação aos diferentes lugares a ocupar e movimentações a realizar, à medida que o adversário faz percorrer a bola nos diferentes espaços de jogo. Esta movimentação é normalmente designada por basculação defensiva.

Ao libertarmos os jogadores de defender homem a homem, passando a defender à zona, teremos maior probabilidade de garantir superioridade numérica, junto de áreas consideradas vitais, reduzindo espaços e opções ao adversário, para jogar nestas zonas do campo.

Para que o leitor possa ter uma noção prática destas duas formas de defender, quando assistir a um jogo de futebol, verifique com alguma atenção, a forma como as equipas defendem os cantos. Dou o exemplo dos cantos pois o facto da bola estar parada, permite a análise e aplicação destes conceitos com maior facilidade, mesmo que tenha menos sensibilidade para analisar o jogo. Nalgumas situações os jogadores estão perto dos atacantes, ou seja, onde estiver um atacante, está também um defensor (defesa individual). Noutras situações vai verificar que independentemente da posição inicial do atacante o defesa ocupa a sua posição, preocupando-se com o seu espaço de responsabilidade (defesa à zona). Normalmente as equipas que defendem à zona colocam 4 ou 5 jogadores em linha, junto à pequena área. Verifique você mesmo!

Note que existem algumas equipas que utilizam uma mistura destes dois tipos de defesa. Colocando jogadores em zonas vitais e jogadores a marcar individualmente, adversários considerados mais “perigosos” (defesa mista).

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva Online de 6.09.2011