quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Tecnologia na Análise de Jogo…

Vale o que Vale

Conseguimos verificar que com o passar dos anos a Análise do Jogo evoluiu de tal forma que, as equipas técnicas sentiram a necessidade de recorrer a meios, audiovisuais e informáticos para melhorar a sua capacidade de trabalho, fazendo uma recolha de informação minuciosa, rigorosa e precisa. Neste sentido, Garganta., J, (2001) refere que com “o advento dos meios informáticos, os analistas do jogo têm assistido ao alargamento progressivo do espectro de possibilidades instrumentais colocadas à sua disposição. Nos anos mais recentes tem-se verificado uma aposta clara na utilização de metodologias com recurso a instrumentos cada vez mais sofisticados, e.g. a análise do jogo apoiada por computador, os quais pelas suas elevadas capacidades de registo e memorização tendem a constituir-se como um equipamento importante para o treinador e para o investigador (Franks, 1987; Grosgeorge, 1990; Dufour, 1993).”

A capacidade de fazer uma rentável análise de jogo, é sem dúvida uma fundamental arma para que o treinador conduza a sua equipa rumo ao êxito desportivo. Cada vez é mais usual os treinadores associarem recursos humanos à sua equipa técnica, no sentido de retirar informação das características dos adversários e da própria equipa, para que tenha uma mais rentável intervenção junto da sua equipa, condicionando também a prestação da equipa adversária. “Dispondo hoje em dia de uma vasta gama de meios e métodos, aperfeiçoados ao longo dos anos, treinadores e investigadores procuram aceder à informação veiculada através da análise do jogo e nela procuram benefícios para aumentarem os conhecimentos acerca do jogo e melhorarem a qualidade da prestação desportiva dos jogadores e das equipas.” (Garganta, J., 2001). É importante salientar que o uso das tecnologias, não é por si só uma garantia que a análise seja realizada de uma forma correta. É fundamental que a equipa técnica seja capaz de fazer uma funcional utilização dos dados disponibilizados por esses meios auxiliares de análise do jogo. “Mas a tecnologia pode aumentar significativamente a qualidade e a celeridade do processo de observação e análise desde de que dela se faça o uso adequado.” (Garganta, J., 2001). O conhecimento do jogo é fundamental para que se possa ter uma intervenção nele mesmo, através da utilização da informação cedida pelos meios tecnológicos, sempre relacionada com os dados e indicadores que o treinador retira do jogo, pois estamos a analisar comportamento humano e não um mero comportamento exato, numérico ou informático. Neste sentido, o conhecimento que provém das Ciências do Desporto - Ciências Sociais e Humanas torna-se determinante para a análise do jogo e consequente tomada de decisão por parte do treinador.

REMATE DA SEMANA:  “O verdadeiro perigo não é que os computadores comecem a pensar como homens, mas que homens comecem a pensar como os computadores.” Sydney J. Harris

Votos de Boas Festas!

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva em 18.12.2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dulce Félix triunfa em Budapeste


Implicações da prática desportiva sob baixas temperaturas



Dulce Félix tem um curriculum invejável. Parece até que todas as competições em que participa, a organização lhe reserva sempre um lugar no pódio. Vejamos os seus últimos resultados: Bicampeã Nacional
de Estrada (2011 e 2012), Vice Campeã Europeia de Corta-Mato (2011), Campeã Europeia dos 10.000 m (2012). No passado fim-de-semana presenteou todos os portugueses com um segundo lugar na competição europeia de Corta-Mato, em Budapeste, Hungria. A atleta portuguesa repetiu a posição alcançada em 2011, depois de ter conseguido o terceiro lugar em 2010.

Para quem participa pela primeira vez numa competição na neve, o resultado é brilhante e as suas declarações evidenciam isso mesmo: “Acreditem, estou mesmo feliz. Foi a primeira vez que competi na neve, quase não via nada... Fez tanto frio, mas gostei da corrida. Dá para imaginar o tempo quente que faz em Portugal?!"Custa-me a acreditar que conseguir defender o título. Foi muito difícil no fim, não consigo expressar por palavras o que senti quando ouvi os adeptos a gritar: ‘ela vem aí, ela vem aí’. Corri o mais rápido que consegui”, disse a bicampeã.
A portuguesa terminou a dois segundos da irlandesa Fionnuala Britton, a primeira mulher a ganhar dois títulos consecutivos, que concluiu a prova em 27.45 minutos, tendo a holandesa Adrienne Herzog (27.48) completado o pódio.
E as baixas temperaturas?
Para quem observa de uma forma fugaz, pode parecer que desenvolver uma atividade desportiva sob baixa temperatura é apenas um pormenor mas, na verdade, é uma condição que obedece a particularidades especiais. Sabendo que na nossa região podemos estar expostos a temperaturas muito perto dos zero graus, achei de todo pertinente fazer algumas considerações acerca deste aspeto, para que possa alertar todos aqueles que não abdicam de uma prática desportiva saudável ao ar livre.
Sob baixas temperaturas, o corpo tende a estar mais frio, facto que aumenta o riso de lesão. Para que salvaguarde esta situação deverá ter mais atenção com a fase preparatória dos seu treino (aquecimento) e até com alimentação, pois o organismo tende a aumentar o consumo calórico. Sabendo que o organismo vai ter um gasto calórico com o próprio exercício, acrescido de um aumento para que possa manter a temperatura corporal, será importante fazer um cálculo, para saber se necessita ou não de se alimentar durante a prática do exercício (aconselha-se alimentos ricos em hidratos de carbono).
A hidratação é outro aspeto que me parece fundamental. Com as temperaturas baixas, a sensação de sede, torna-se mais difícil de se sentir, ainda que a perda de líquidos seja menor, será necessário repor os níveis de hidratação.
Relativamente ao vestuário, deve ter alguns cuidados. Antes de mais, este deve ser leve, confortável e sobretudo adaptado ao desporto que irá praticar. Condição fundamental é que o vestuário usado não ponha em causa o sobreaquecimento do organismo, nem tão pouco deixe que a humidade proveniente da transpiração fique acumulada entre a roupa e o corpo. O excesso de vestuário poderá levar a que seja pior a emenda que o soneto! .
Outro aspeto que me parece importante ressalvar é a proteção das extremidades do corpo, prevenindo a ulceração produzida pelo frio. Nas etapas iniciais poderá perceber uma sensação de calor na pele cuja cor ficará vermelha, roxa e por último branca. Se notar uma área sensível, com coloração branca, saia do frio imediatamente e tente aquecer-se. A zona do pescoço e da cabeça são áreas que também estão sujeitas a uma grande perca de calor, devendo deste modo ficar bem protegidas. Existem alguns sinais que evidenciam hipotermia, nomeadamente a sensação de desorientação, perda de coordenação, fala confusa e dificuldade em deslocar-se, sendo a tremor o indicador mais conhecido.
Quando a temperatura baixa, para níveis perto do zero graus, toda a humidade que se encontra no local onde o exercício é praticado, tende a criar um pelicula de gelo no solo, aumentando a probabilidade de escorregamento. Faça uma preparação do percurso e seja cuidadoso, evitando assim o risco de lesão.


Por fim, em condições adversas nunca pratique desporto sozinho em locais isolados, pois numa situação de dificuldade não tem meio de pedir auxílio.

 
FRASE DA SEMANA: “A verdadeira medida de um homem, não se vê pela forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas sim  como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.” Martin Luther King Jr.
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 11.12.2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Evolução do equipamento desportivo utilizado no futebol

O termo tecnologia, de origem grega, é formado por tekne (“arte, técnica ou ofício”) e por logos (“conjunto de saberes”). É utilizado para definir os conhecimentos que permitem fabricar objetos e modificar o meio ambiente, com vista a satisfazer as necessidades humanas.

No desporto rei a evolução tecnológica não fica para trás, entre muitos exemplos, podemos constatar que na comunicação entre árbitros se recorre a equipamentos tecnológicos, assim como, na análise de jogo, em instrumentos de treino, em equipamento desportivo, entre muitos outros. O tema que hoje vos apresento relaciona-se com a evolução do equipamento desportivo, nomeadamente vestuário, calçado e bola.
 
Ex. 1 - Camisolas de jogo
 
Apesar de ter um design muito simples, aparentemente nada de especial, a camisola da seleção brasileira possui particularidades invisíveis a olho nu. Uma das suas características é o fato de ser 100% ecológica, tendo sido concebida por material reciclável. Cada camisola é composta por fios de poliéster, proveniente de oito garrafas de plástico.
Outra particularidade das camisolas é o fato de não ter costuras, sendo os tecidos unidos por uma cola, à semelhança do que acontece com os fatos de Fórmula 1. Assim, o peso da camisola é reduzido em cerca de 15%. Por fim, a camisola possui uma capacidade de ajuste dinâmico, adaptando-se às curvas do corpo de quem a veste.
Relativamente a esta peça de vestuário desportivo, encontram-se em curso várias investigações, no sentido de viabilizar a utilização de uma camisola inteligente, provida de sensores que transmitam vários tipos de informação acerca do estado do jogador, nomeadamente frequência cardíaca, temperatura corporal, níveis de sudação, etc.
Ex. 2 – Chuteiras
 
Alguns jogadores patrocinados por uma conhecida marca desportiva têm ao seu dispor uma chuteira capaz de analisar o relvado que pisam, ajustando automaticamente a altura dos pitons, para que o jogador tenha o nível de aderência otimizado, evitando, tanto o excesso de resistência ao solo, como o escorregamento desnecessário.
Uma outra marca de equipamento desportivo, concebeu uma chuteira equipada com chips que interpreta e armazena dados acerca das movimentações dos jogadores em campo. Segundo a marca em causa, o equipamento é capaz de transmitir informação no sentido de diminuir o risco de lesão por parte do utilizador. O chip é colocado na sola da chuteira sendo também capaz de armazenar dados como velocidade média, distância percorrida, frequência das corridas, quilómetros percorridos, potência do remate, entre outras.
 
Ex. 3 - Bola
A Citrus é a mais recente inovação tecnológica, no que às bolas de futebol diz respeito. No sentido de auxiliar a tarefa das equipas de arbitragem, esta bola é capaz de mudar de cor quando passa a linha de golo, quando ultrapassa as linhas que delimitam o campo ou quando um jogador a recebe numa posição de fora de jogo.
A referida bola, funciona envolta de uma panóplia de tecnologia composta por GPS, sensores, sistemas de conexão sem fio, etc. Para que seja utilizada nas suas máximas potencialidades, o estádio precisa de sofrer algumas alterações, como a criação de uma central de controlo. Uma caraterística curiosa é que a bola não necessita de ser enchida com ar, garantido a marca toda a consistência e flexibilidade do material, assemelhando-se a uma bola convencional. Ainda não há previsão de uso da  da Citrus em jogos oficiais da FIFA.
 
Como referi no início do artigo, a tecnologia servirá para satisfazer as necessidades do ser humano. Assim sendo, a rentabilidade dos diferentes materiais desportivos, dependem da capacidade do ser humano que o utiliza. De que vale ter p. ex. informações acerca de distâncias percorridas, frequências de corridas, parâmetros biofisiológicos, etc, se não se toma decisões, ou não se está interessado em tomar decisões em função desse tipo de informações. Entenda-se que a tecnologia só pode ser considerada como tal, se para nós for útil.
 
REMATE DA SEMANA: Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim à coisa em que você vai se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas ideias que existem. Você precisa de saber selecionar cuidadosamente.” Steve Jobs, em 2008, para a revista Fortune.

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 4.12.2012

domingo, 2 de dezembro de 2012

Pelado e relvado: influência no percurso formativo


Segundo alguns investigadores na área do futebol, é fundamental que em escalões de formação, se dê oportunidade aos praticantes de vivenciarem vários tipos de condicionantes, nomeadamente, diferentes tipos de bolas, diferentes tipos de pisos, diferentes tipos de equipamentos. Esta variabilidade de materiais levará a que o jovem desportista tenha a necessidade de se adaptar à instabilidade, otimizando assim a sua relação com a bola. “É fundamental em idades mais tenras proporcionar aos jovens jogadores essas diferenças de pisos, para melhorarem a relação com a bola, dado que essas idades são uma etapa crucial para o seu desenvolvimento.” (Frade, 2008).

Considerando que as competições nos diferentes escalões são realizadas nos diferentes tipos de piso, relva natural, relva sintética e pelado, o jovem jogador deverá ter a capacidade de se adaptar, obtendo rendimento em qualquer um dos pisos. Um jogador talentoso deverá revelar uma boa apetência para disputar o jogo, independentemente das condições onde se desenrola.

Ainda reforçando a ideia anterior, deixo aqui a opinião de Cruyff (2002) que considera “…as razões da falta de qualidade técnica de muitos jogadores está associada ao local onde aprendem a jogar futebol”. O ex-jogador refere ainda, que a “…Academia mais popular para desvendar os segredos do futebol era a rua, onde as carências eram supridas com a imaginação e ilusão.”

Não quero com isto passar a ideia de que o pelado é o piso ideal para a formação de jogadores, até porque, a nível de conforto e higiene, nomeadamente poeira no verão e lama no inverno, em nada beneficiam o desenvolvimento das capacidades futebolísticas dos jovens jogadores. Estou de acordo, que a relva sintética é um piso por excelência para que os jovens treinem com qualidade. No entanto, considero fundamental colmatar a ausência do futebol com caraterísticas de rua, para que o praticante seja forçado a desenvolver as suas apetências em contextos instáveis, tendo o treinador a obrigação de criar essas condições de instabilidade, mesmo quando treina na relva, quer seja ela natural ou sintética. Segundo Lobo, (2007), “…se pensarmos na origem dos melhores jogadores do mundo, neles não existem grandes academias, campos relvado e botas fantásticas.”

Se por um lado é necessário instabilidade, nas fases de formação mais precoces, quando nos aproximamos das etapas finais de formação, será necessário pisos mais estáveis, pois, a intensa componente tática de treino e jogo assim o exige.

Considerando que a esmagadora maioria das competições, ao nível do futebol profissional, se desenrolam em campos de relva natural, se estivermos a falar de um clube de formação, que tem a intenção de colocar no plantel sénior os jogadores provenientes da sua formação, penso  que se justifica que o escalão júnior (pré-profissional), seja realizado maioritariamente em relva natural.

FRASE DA SEMANA: “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” (Horácio)

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 27.11.2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Zlatan Ibrahimovic o autor de uma obra de arte:


Como estimular este tipo de ações!

Quando se discute se o jogador Ibrahimovic pode ser considerado o melhor avançado do mundo, a discordância até pode aparecer. Mas o que fez no seu último jogo pela seleção da Suécia, é consensualmente fabuloso! Falo daquele golo de pontapé de bicicleta que fez “do meio da rua”. Este sim, todos serão obrigados a concordar que é uma obra de arte, como referiu o treinador da equipa inglesa Roy Hodgson.

E isto treina-se?

Muitos exercícios de treino são tão estanques/invariáveis, que não permitem o desenvolvimento da capacidade de encontrar este tipo de soluções, para o contexto de jogo.

Os exercícios propostos nas sessões de treino, devem proporcionar que os jogadores encontrem as respostas para resolução dos problemas de forma autónoma, sendo condicionados predominantemente pelas variáveis que constituem os exercícios de treino, e menos pela obrigatoriedade de realizar certo tipo de ação. Certamente que nenhum treinador de Ibrahimovic realizou um exercício de treino, em que ele teria de fazer um pontapé de bicicleta após cabeceamento do guarda-redes adversário, tal como aconteceu no jogo entre a Inglaterra e a Suécia.  Os diferentes exercícios propostos ao longo do seu percurso desportivo promoveram o desenvolvimento da capacidade de observar o contexto de jogo e resolver as problemáticas impostas, com alto nível de rendimento, recorrendo às ferramentas que tem ao seu dispor. Assim, considere-se o contexto como o adiantamento do guarda-redes; o fato da bola se direcionar para ele em trajetória aérea; o fato de ele estar de costas para a balizar; etc.). Considere-se a ferramenta disponível, o pontapé de bicicleta que utilizou.

 Segundo o especialista em Tomada de Decisão, Duarte Araújo, “os atletas têm a capacidade para expressar soluções únicas, e por isso não imagináveis pelo treinador…o treinador diagnostica e organiza atividades de treino, de modo a seletivamente disponibilizar certas fontes de informação, que orientem o modo como o atleta se autonomiza na descoberta de soluções para o desconhecido. O treino deve manipular os constrangimentos relevantes para possibilitar que o atleta fique afinado à informação contextual que reclama a ação que lhe permite atingir o objetivo.”

Algumas situações que inibem o desenvolvimento deste tipo de ações!

Muitos exercícios são de tal forma condicionados, através de instruções dadas pelos treinadores, que quem está a observar fica com a impressão que os jogadores estão a ser telecomandados, ou seja, a capacidade de decisão fica descontextualizada pelo excesso de intervenção do treinador. Nestes casos quem toma maioritariamente as decisões são os treinadores, e os jogadores passam a meros executantes. Outra situação que inibe este tipo de ação é quando o exercício é demasiado “fechado”, havendo obrigatoriedade p. ex. do local para onde é passada a bola, dos locais exatos para onde os jogadores se devem movimentar, sem haver qualquer tipo de liberdade de ação por parte do jogador.

Talvez se Ibrahimovic fosse formatado pela tipologia de abordagem ao treino que referi anteriormente, o que faria, tal como enunciam alguns livros da especialidade, seria controlar a bola realizando uma receção orientada e só depois rematar à baliza, o que daria tempo para o adversário se posicionar, levando a que não conseguisse vantagem na situação de jogo.

Tomando como exemplo o treino da receção orientada… hoje em dia, vê-se muitos treinadores, principalmente na formação, a exigir que os jogadores realizem sempre a tão falada receção orientada, com determinada parte do pé, para o espaço livre, etc., etc., etc. Não querendo dizer que esses aspetos não são importantes treinar, mas gostaria de ressalvar que os melhores jogadores são aqueles que tiram vantagem, em situações que aparentemente são desvantajosas para os restantes. Para que isto aconteça no jogo, deve ser treinado/estimulado! A situação em que Ibrahimovic fez o golo decerto que para 99.9999% dos jogadores de futebol é desvantajosa, mas ele conseguiu tirar vantagem! Sendo assim, quando um jogador não consegue realizar a tão famosa receção orientada, não terá de ser sempre alvo de feedback negativo, devendo-se estimular que tire partido da situação proporcionada. Se o adversário lhe cria um problema, ele terá de resolver, se ele cria um problema a si próprio, ele terá de resolver também. Jogadores que no treino são estimulados para resolver problemas, no jogo resolverão de uma forma mais rentável.

FRASE DA SEMANA: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências." Pablo Neruda

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 20.11.2012

domingo, 18 de novembro de 2012

Sedentarismo? Não obrigado!


De uma forma superficial, pode definir-se o sedentarismo como um estilo de vida com ausência de atividade física suficiente, para suprir as necessidades de gasto calórico.

Este estilo de vida provem de diferentes fatores. Considera-se como principal fator, a evolução tecnológica, que alterou significativamente a forma de viver das pessoas. A substituição das práticas laborais e de lazer, caraterizadas anteriormente por uma vertente predominantemente manual, pela utilização de utensílios tecnológicos, proporciona um maior conforto, mas que por outro lado, leva a que as pessoas tendam a não compensar a necessidade de gasto de energia.

 Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que nos países desenvolvidos mais de dois milhões de mortes são atribuíveis ao sedentarismo, e que 60 a 80% da população mundial não é suficientemente ativa para obter benefícios na saúde” (Organização Mundial de Saúde, 2002).Pelos estudos que fui consultando, parece-me que Portugal é referência, pela negativa, dos países com maior taxa de sedentarismo. Segundo dados do Eurobarómetro, Citizens of European Unions and Sportpara além de existir uma taxa de cerca de 80% de sedentarismo em Portugal, 66% dos cidadãos portugueses com mais de 15 anos, revelaram não praticar qualquer tipo de desporto ou atividade física.

Todos devem praticar exercício, sem exceção. Existem diferentes formas de adequar as atividades, para que sejam praticáveis, sem qualquer risco, nos diferentes tipos de populações. Um adulto deverá em média, praticar exercício cinco vezes por semana, com uma intensidade suficiente para que produza alterações benéficas, contribuindo assim, para uma otimização do seu estado de saúde. Alerto que a tipologia, intensidade, duração do exercício difere de pessoa para pessoa!

Sem dúvida, que com a chegada do inverno, as razões para não sair de casa aumentam, aumentando em paralelo, a ausência de prática desportiva. As idas ao parque, as caminhadas pela cidade, os passeios de bicicleta…, começam a ser substituídas pelos climatizados centro comerciais e habitações. O que considero altamente prejudicial! Na verdade, não há desculpa para não sair de casa! Existe equipamento desportivo para que possamos praticar exercício ao ar livre, de forma confortável. Se mesmo assim não quiser enfrentar as condições climatéricas, poderá optar por outras soluções, basta alguma criatividade! Ficam alguns exemplos: ida a uma piscina coberta em família, convide um colega para jogar squash, junte um grupo de amigos e alugue o pavilhão praticando um desporto de equipa (coletivo), faça um passeio a uma estância de esqui, entre muitas outras, etc. Caso vá praticar um determinidao desporto pela primeira vez, recomendo que se informe do equipamento necessário e das regras de segurança, para que de forma alguma, ponha a sua integridade e dos seus acompanhantes em risco.

Para além dos benefícios para a saúde, a prática de exercício, reflete-se de forma significativa ao nível económico e comunitário. Dados de vários países indicam que o sedentarismo tem um custo muito elevado. Segundo documentos do Instituto do Desporto de Portugal, “por exemplo, a razão custo/benefício relativamente ao absentismo é de 1/4,9 e às despesas com os cuidados de saúde é de 1/3,4. Para cada euro investido em programas de promoção as saúde envolvendo a atividade física verifica-se uma redução de 4,9 euros nos custos com o absentismo e de 3,4 euros com os cuidados de saúde.” Mais uma razão para que em momento algum deixe de praticar desporto, na verdade faz bem a si e à nossa carteira!

FRASE DA SEMANA: É erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos; a vontade vence-os”. Alexandre Herculano

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 13.11.2012

domingo, 11 de novembro de 2012

Atividades complementares para as crianças…


A crise obriga a fazer contas de “sumir”!

Atualmente, as atividades destinadas às crianças, como oferta complementar à formação dada pelas escolas, são uma realidade bastante presente na vida de alunos e encarregados de educação. O leque de atividades que a nossa sociedade nos vai proporcionando é cada vez maior, mobilizando as famílias, no sentido de complementar o trabalho realizado pelos estabelecimentos de ensino e agregado familiar, através de momentos lúdicos de aprendizagem, valorização pessoal e académico. A música, a natação, o karaté, a dança, o futebol, a pintura… são algumas das atividades, que obrigam pais e filhos a negociações intra familiares, para a decisão de escolha, da(s) atividade(s) a frequentar. Esta negociação torna-se fundamental, pois o leque de escolha aumentou de tal forma, que proporcionar a frequência de todas as atividades consideradas atrativas, é uma opção impossível de concretizar. Muitas vezes a pressão social e as tentações para que a criança frequente este tipo de atividades é tão grande, que se proporciona ocupação de tempo pós curricular para além do aconselhado. Não esqueçamos que a criança necessita de tempo para si, como por exemplo para inventar as suas próprias brincadeiras, ou simplesmente para estar de forma livre em ambiente familiar.

Mas a crise está a mudar a visão das famílias em relação a estas atividades!

A certa altura, em conversa com uma criança de 10 anos, perguntava porque é que ela tinha desistido de uma atividade desportiva que até então frequentava. A resposta da criança foi pronta e consciente: “ porque a minha mãe ficou desempregada!” A criança educada, revelou alguma tristeza por não frequentar a atividade de que gostava, mas admiravelmente evidenciou compreensão perante a situação, afinal um dos elementos da sua “equipa” afetiva ficou sem emprego.

Quero dizer com isto que este momento que atravessa o país, vai exigir a muitas famílias, uma adaptação significativa de hábitos, pois como o dinheiro não estica, terão de se fazer opções. Sob o meu ponto de vista, as crianças a partir de uma certa idade, não poderão ser isoladas destes problemas, sendo fundamental que se explique as dificuldades e a importância de estabelecer prioridades, proporcionando a aquisição de instrumentos básicos de gestão!

O que muitas crianças tendem a perder?

Este tipo de atividades, nas doses corretas e sendo escolhidas tendo em conta as necessidades e motivações das crianças/família, tem uma relevante importância, nomeadamente:

- No facto de proporcionar momentos de convivência com outras crianças fora do contexto escola;

- Proporcionar uma abertura de horizontes culturais e sociais das crianças, expondo-as a culturas e temáticas diferentes;

- Um complemento ao desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças;

- Devido à transversalidade de conteúdos, proporcionam um aumento do leque de conhecimentos em diferentes áreas, cada vez mais importante no dia-a-dia;

- Entre muitas outras…

A responsabilidade não será de quem está a proporcionar este momento?

Gostaria de deixar aqui a seguinte ideia do investigador Leandro Almeida, presidente do Instituto de Educação da Universidade do Minho: "não se consegue formar crianças felizes e ajudá-las a ter projetos de vida, se se limitar a formação exclusivamente à aprendizagem básica". Assim, se as famílias deixarem de conseguir proporcionar a música, a natação, o karaté, a dança, o futebol, a pintura… alguém vai ter de encontrar uma solução! Segundo o n.º 2 do Art.º 73 co Capítulo III da Constituição Portuguesa “O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva.”

O que existe é bom mas não chega!

Muitos poderão ficar iludidos, anunciando que as Atividades de Enriquecimento Curricular são o desejado complemento! Realmente têm uma elevada importância, mas não podem ser vistas como o fim! Se analisar cuidadosamente, são atividades complementares, mas pouco específicas para a vontade de especialização de algumas crianças e famílias, não se podendo substituir à aprendizagem p. ex. de um instrumento musical específico ou mesmo à prática de uma modalidade específica. Hoje, sem pagar uma mensalidade, poucas ou nenhumas crianças têm acesso à natação, ao piano, ao karaté, ao futebol à pintura etc. E eu pergunto: Todas as famílias têm condições de pagar essas mensalidades?… Se a igualdade de oportunidades está mencionada na Constituição, todas as crianças motivadas para tal, não deveriam ter acesso a uma carreira de Picasso, Mozart, Cristiano Ronaldo, Michael Phelps… Quem tem de proporcionar isso? Pergunto eu!

REMANTE DA SEMANA: “A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato.” Honoré de Balzac

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 6.11.2012

domingo, 4 de novembro de 2012

Eder, será ele o Avançado que Paulo Bento procura?


Depois de testar Nelson Oliveira, Paulo Bento testa agora Eder. Relativamente à aposta em Nelson Oliveira, considerei e considero precoce. Relembro que no artigo de 28.2.2012 referi que achava que o jogador, nessa altura do Benfica, teria algum défice de maturidade para representar a Seleção Nacional no Europeu de 2012. Quanto a mim foi uma aposta realizada cedo demais, em que os minutos de jogo proporcionados ao jogador, na grande competição europeia de seleções, veio demonstrar que não estava preparado para ser “atirado às feras”. Talvez se tivesse ficado pelos jogos de preparação fosse melhor opção!

Segue-se na lista de testes de Paulo Bento, o jogador do Sporting de Braga, Ederzito (Eder), quanto a mim, com uma nota bastante positiva por aquilo que tem feito tanto no Braga, como na pequena oportunidade que teve no último jogo da Seleção A. Aos 25 anos, após ter passado pela Adémia, Oliveira do Hospital, Tourizense e Académica de Coimbra, onde jogou quatro épocas, chegou à equipa bracarense na presente época e estreou-se em absoluto na seleção principal de Portugal. Segundo Paulo Bento “…é um jogador que tínhamos sob observação na Académica e, depois do interregno que teve, deixou de ter hipótese de chegar ao Euro 2012. Agora, no Braga, tem grande destaque, está na Champions e o Éder tem mantido assiduidade na equipa. É um jogador a ter em conta”.

Relembro que logo no início da época 2011-2012, Pedro Emanuel já reclamava a presença deste jogador na seleção “…é jovem, português, tem as condições de um bom ponta de lança e, se o selecionador assim o entender, acho que é o reconhecimento das capacidades de um atleta que tem trabalhado e se esforçado muito para jogar e ser titular”. É a minha opinião, que o selecionador nacional acertou em cheio no timing para lançar este jogador na equipa das quinas!

O jogador, revelou através das suas declarações, depois do jogo contra o Azerbaijão, uma forte humildade e gratidão, que espero que seja apanágio de toda a sua carreira “…estou muito grato por estar aqui, devo-o não só ao Braga mas também aos outros clubes por onde passei. Era importante chegar aos seis pontos nestes dois jogos e conseguimos. Agora, vou trabalhar no Braga para voltar cá”.

Dados do jogador: Data de Nascimento - 22.12.1987 (24 anos); Altura – 1,88m; Peso – 81Kg; Natural da Guiné-Bissau; Nacionalidade – Portugal; Neste momento tem contrato com o S.C. Braga até 2016, com uma cláusula de rescisão de 15 milhões de euros.

Caraterísticas como jogador:

- Forte no 1x1, o segundo golo do Sporting de Braga frente ao Manchester United foi exemplo disso mesmo;

- Boa capacidade de realizar eficazes desmarcações de apoio, conseguindo realizar na sequência destas movimentações bastantes passes de rotura, colocando os seus colegas de equipa em ótimas condições de finalização;

- Apresenta uma envergadura forte, que associada à sua mobilidade, causa muitos transtornos aos defensores que o têm como adversário;

- Pelas suas caraterísticas combativas poderá ser utilizado numa defesa pressionante, mas quando a sua equipa se encontra numa defesa média, procura essencialmente fechar espaços entre linhas;

- Utiliza bem as diferentes técnicas de finalização, tanto de cabeça como com os pés. Apresenta nestes momentos um bom sentido posicional, bem como um bom sentido de oportunidade. Veja os dois golos que o avançado marcou ao Marítimo este domingo.

- Simplifica o processo ofensivo com passes de apoio, seguidas de desmarcações de rotura.

- Apesar de jogar como avançado de referência na equipa do Braga (4x2x3xEder), aparece muito bem nas alas possibilitando o arrastamento de defesas para a entrada de outros jogadores no corredor central.

Em jeito de conclusão, refiro que Eder foi dos melhores marcadores enquanto jogador da Académica de Coimbra, tendo marcado ao FCP e ao Sporting durante a última época. Este ano já é dos melhores marcadores da liga portuguesa.

Diria mesmo, que tem a envergadura de Hugo Almeida, faz a bola circular como Hélder Postiga, a irreverência de Nelson Oliveira, e será o avançado que Paulo Bento procura!

FRASE DA SEMANA: A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.”Marcel Proust
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 30.10.2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Futebol: esquemas táticos | lances de bola parada| fases estáticas|…


O esquema tático, é a fase do jogo onde a bola é reposta em jogo após uma interrupção, que se pode justificar por vários motivos: saída de bola de terreno de jogo, falta, início de uma das partes jogos, etc. São momentos importantíssimos pois, alguns deles podem se tornar decisivos na criação de uma oportunidade de golo. De acordo com o investigador na área do futebol Hughes C., (1990) “Sabendo que as equipas de sucesso são mais eficazes nos lances de bola parada, que estes decidem muitas vezes um encontro e que são eles o fator singular mais importante para a obtenção de golos, como é possível que de uma forma geral, as equipas não estejam bem preparadas, como deveriam estar, para atacar através desses lances?”.

Concordando com o especialista que citei anteriormente, realmente esta é uma oportunidade singular que deve ser trabalhada com algum cuidado, pois repare: 1. A bola está parada e a equipa tem algum tempo para preparar a sua ação nas diferentes situações de esquema tático, facilitando a realização de combinações pré definidas nas sessões de treino; 2. As regras de jogo, obrigam o adversário a estar a uma distância, o que possibilita a que se tire vantagem numa relação espácio-temporal; 3. Normalmente a equipa poderá aumentar o número de jogadores perto das áreas de finalização; 4. O fato de ser uma situação mais “fechada”, permite que as situações de treino, aumentem a sincronização e coordenação de movimentos.

Para que tenha uma ideia mais concreta da importância dos lances de bola parada, veja o seguinte: o investigador Hughes (1990), através de estudos realizados, verificou que “entre 1966 e 1986 decorreram seis finais do Campeonato do Mundo onde foram marcados 27 golos, 13 dos quais foram conseguidos através de lances de bola parada, e outros cinco marcados logo a seguir a essa situação”. Em 2002 Taylor e a sua equipa de investigação, verificou que no Campeonato do Mundo Japão/Coreia do Sul, dos 161 golos marcados, 79 foram concretizados através de lances de bola parada, ou seja, 49% dos golos alcançados. Se mesmo depois destes dados ainda não ficou convencido, veja nas entrevistas dadas pelos treinadores, quantas vezes estes lances são referidos! Esteja atento!

Tal como noutros momentos de jogo, a análise do adversário, leva a que se descortine a forma como este aborda defensivamente os lances de bola parada. Sabendo esse padrão de atuação, o treinador poderá preparar a sua equipa e os esquemas táticos a adotar, no sentido de aumentar a rentabilidade dos mesmos, explorando os pontos fracos do adversário e evitar os pontos fortes. Assim, a equipa deverá ter uma forte capacidade de adaptação, e uma variabilidade de esquemas táticos preparados, que permitam que se adapte às caraterísticas do adversário, sem que para isso tenha que perder a sua própria identidade. Ou seja, temos de ter sempre presente que “o mais importante é sempre a nossa equipa e não o adversário” (Mourinho in Oliveira et. Al 2006).

Fundamental, é que no meio da preparação deste tipo de lances, os jogadores tenham liberdade de atuar em função das alterações que o contexto vai sofrendo. A preparação não poderá ser tão rigorosa que as movimentações sejam obrigatórias, como se um esquema gímnico se tratasse. Respeitado a liberdade, a criatividade e a capacidade de decisão dos jogadores, a abordagem aos lances nas situações de treino, devem levar a que o jogador compreenda que as movimentações padronizadas sejam caminhos a seguir, e que o jogador tem a possibilidade de ajustar a sua ação em função das ações de todos os intervenientes. Isto deve acontecer desta forma, pois em nenhuma situação de treino se consegue prever e representar o que vai acontecer nas diferentes situações de jogo. Se essa previsão não se consegue fazer de forma rigorosa, então, as ações de jogadores e equipa não podem ser definidas de forma rigorosamente geométrica.

FRASE DA SEMANA: “No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se encaixaram, numa explosão de intuição”. Eclipse
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 16.10.2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

O Fundamento das Academias de Futebol


As Academias de Futebol, hoje em dia, fazem parte das estruturas dos maiores clubes de futebol mundial. Todos os agentes desportivos compreendem que o investimento neste tipo de estrutura, poderá trazer ganhos significativos para um clube, evitando o gasto na contratação de jogadores e aumentando a possibilidade de um encaixe financeiro, através da venda de ativos formados no clube.

Mas como refere Pedro Mil-Homens, uma Academia de Futebol, “…é uma escola dentro do clube”. Se é uma escola, não poderá ser o futebol o único pilar de intervenção. Neste sentido, depreendemos que existe uma grande responsabilidade dos agentes que integram uma academia. O sonho dos jovens que ingressam numa academia será sempre chegar à equipa principal! Mas como é óbvio, será impossível que haja espaço para todos. Por esse motivo, o futuro daqueles que nunca chegarão ao plantel principal não poderá ser hipotecado. Lee Kershaw, diretor da academia do Manchester United refere que “…muitos do jovens que passam pela nossa escola nunca irão jogar no Manchester United. A grande parte deles não irá, de certeza. Não tenho números certos, mas provavelmente só 10 a 15 por cento dos nossos miúdos chegam ao plantel do Manchester. Por isso temos de os obrigar a seguirem os estudos, porque o mais importante é que tenham sucesso na vida.”

Para que haja um espírito de academia, com todas a vertentes formativas bem definidas e com uma coerente política de intervenção, o mais importante não será única e exclusivamente o espaço “físico” de trabalho. Como refere Pedro Luz, secretário técnico da formação do SCP, “a importância do espaço (Academia) em si é relativa, na minha opinião. O que eu penso é que o conjunto do espaço, das pessoas que cá estão dentro, da competência de cada uma delas, daquilo que é feito ao nível do recrutamento inicial, selecionando os melhores dos melhores, esse conjunto de fatores sim, torna importante este projeto, dá importância a este projeto.”

O que gostaria de reforçar com isto, é que a Infraestrutura academia tem a importância que tem! Fundamental é existir uma estruturação da formação, no sentido de proporcionar uma formação consolidada e direcionada, para os objetivos definidos para o futuro jogador profissional, ou simplesmente para o futuro cidadão que passou pela academia.

Ao nível desportivo, segundo Stratton (2004) “…o currículo padrão de uma academia poderá ter algumas variantes consoante os objetivos, valores, aspirações e finanças de cada clube.” A figura 1 apresenta um exemplo de currículo padrão de uma academia.

 
É fundamental compreendermos que a relação que existe entre todas as componentes do currículo interagem e complementam-se entre si, devendo ser vistas com um nível de dependência obrigatório, ou seja, como um TODO. Fácil também será perceber, que as competências desenvolvidas no currículo padrão de uma academia, poderão ser uma mais-valia, em contextos profissionais e sociais, que vão para além do mundo do desporto. Concluo assim referindo, que no desporto não se formam apenas desportistas!

NOTA: este artigo foi escrito, tendo como base um trabalho de monografia de Moita, M. (2008), intitulado: Um percurso de sucesso na formação de jogadores em Futebol. Estudo realizado no Sporting Clube de Portugal – Academia Sporting/Puma. Penso que este, poderá ser um documento orientador importante, para todos os agentes responsáveis pela organização de departamentos de formação dos clubes desportivos.

REMATE DA SEMANA: “Desporto e pedagogia, se os juntassem como irmãos, esse conjunto daria verdadeiros cidadãos! Assim, sem darem as mãos, o que um faz, o outro atrofia.” António Aleixo
 
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 9.10.2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O grande brinquedo que a Sociedade roubou à Criança… a Rua


Quantos de nós não nos lembramos do tempo que passava-mos na rua. De entre muitas brincadeiras que nos ajudaram a crescer e desenvolver as nossas capacidades, o futebol e o berlinde eram as atividades que mais agradava os moços, o elástico e a macaca, as moças.

Com a evolução dos hábitos e costumes as crianças começaram a ser empurradas para dentro de casa. O aumento da criminalidade, a ausência de espaços exteriores de lazer, o desenvolvimento dos brinquedos tecnológicos e a falta de tempo dos encarregados de educação, condicionam as brincadeiras em total liberdade espácio-temporal. Mas não só! Sobretudo o zelo exagerado que desencadeia um sentimento de protecionismo desmedido e o excesso de atividades ditas organizadas ou institucionalizadas, impedem que a criança tenha tempo para se exprimir em total liberdade. Como refere o investigador Alberto Nídio Silva, hoje há “… uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo conectado com o mundo - o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos, nem vizinhos, nem amigos informais”, explica o especialista em sociologia infantil.

Outrora, a rua era um local privilegiado de aprendizagem. Neste espaço a criança podia brincar livremente, sem qualquer tipo de supervisão. Brincar a “céu aberto”, promovia o desenvolvimento do saber estar em liberdade, da autonomia, da criatividade, da capacidade de adaptação ao inesperado, da responsabilidade de estar por sua conta, da capacidade de partilha, do desenvolvimento da capacidade relacional, um gasto energético que reduzia o aparecimento da obesidade infantil, etc. Segundo o investigador Carlos Neto, hoje, “o único sitio que resta para brincar em liberdade é o recreio da escola”. Desculpem-me a expressão, mesmo assim o recreio da escola não o considero total liberdade, mas sim “liberdade condicional”.

Sinto saudades de sentir o barulho do espírito infantil, desencadeado pelo último toque da campainha, no final do dia de escola. Jogos como as escondidas, saltar à corda, saltar ao elástico, jogar à bola, jogar ao berlinde… Tudo tende a acabar! E muito se perderá com isso.

Muitos estudos estão a surgir no sentido de contrariar a tendência de empurrar as crianças para as brincadeiras estáticas e individuais. Nas cidades mais evoluídas, estão a ser formadas equipas multidisciplinares, para que sejam tomadas medidas de promoção da brincadeira pelo jogo livre. Segundo Carlos Neto, a“…transformação dos espaços urbanos têm vindo a colocar o problema da conceção e implementação de áreas especiais no ambiente construído, ambientes projetados nos quais a criança tenha ocasião de explorar, crescer, adaptar-se e construir-se pessoal e socialmente através do jogo. Um espaço de jogo é mais que um espaço físico.” Esperamos que pegue moda e que chegue a todo lado! As crianças precisam de brincar livremente para crescer. Felizmente cá no interior, as crianças ainda podem disfrutar de espaços que permitem brincadeiras ao ar livre, de forma segura e equilibrada!

 Uma boa semana! Se tiver filhos, pense, de que forma lhe pode proporcionar espaços e tempos de brincadeira apropriados! Aproveite e divirta-se com ele! Existem tantas alternativas! Faça-o por ele e também por si…

 FRASE DA SEMANA "Não se deve interromper a concentração de uma criança que está a brincar"  (Nylse Cunha)

 Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 2.10.2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sá Pinto poderá ter sido um treinador prematuro!

Todos nós sabemos que Ricardo Sá Pinto foi dos jogadores mais queridos pela massa associativa do Sporting Clube de Portugal, tanto pela sua dedicação ao clube, como pela sua postura dentro de campo, que lhe atribuiu o apelido de “Ricardo Coração de Leão”.

Como jogador, a sua carreira profissional iniciou-se no Sport Comércio e Salgueiros, tendo sido transferido para o Sporting em 1994. Passou depois pelo Real Sociedade (de 1997 a 1999), tendo posteriormente voltado ao Sporting. Sá Pinto teve também a oportunidade de representar a Seleção Nacional.

Para que veja a relação próxima de Ricardo Sá Pinto com a massa associativa, quando mais tarde se transferiu para o Standard de Liége, utilizou a camisola 76, em homenagem à claque leonina, que foi fundada em 1976. Em sinal de reciprocidade a Juventude Leonina também ostenta em todos os jogos uma tarja em honra do "Grande Capitão”.

Depois de ter passado pela função de diretor desportivo (2009/2010) que abandona devido ao mediático caso com Liedson, onde se envolveu em agressões física e verbais, decidiu enveredar pela carreira de treinador, iniciando-se  como adjunto do União de Leiria. Passado um ano, a convite da nova direção do Sporting, assume-se como treinador da equipa de juniores. A 13 de fevereiro de 2012, após despedimento de Domingos Paciência, torna-se treinador da equipa profissional do seu clube do coração.

Assim sendo, a carreira de Ricardo Sá Pinto ainda nem sequer completou 3 anos. Torna-se treinador de um grande, sem nunca ter assumido a liderança de um outro clube de menor dimensão, o que é no mínimo estranho! A que isto se deve? Não se sabe bem, mas que se torna prematuro, sem dúvida que sim!

Se comparar-mos com as carreiras dos seus adversários, constatamos o seguinte:

- Vítor Pereira – Como treinador de formação: iniciados do Padroense e F.C. Porto; Como treinador adjunto: Gondomar, Arrifanense, Esmoriz e F.C. Porto. Como treinador principal: Sanjoanense, Sporting de Espinho, Santa Clara e Por fim F.C. Porto. Conclusão mais de 10 anos até chegar a técnico principal de um grande português.

- Jorge Jesus – Apenas como treinador principal: Amora, Felgueiras, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Guimarães, Moreirense, União de Leiria, Belenenses, Braga e finalmente o Benfica. Conclusão, iniciou a sua carreira de treinador em 1989 e chegou ao S.L. Benfica em 2009. 20 anos até chegar a técnico de um grande português.

José Mourinho em determinada altura, quando fez uma análise justificativa da sua carreira de sucesso explicou: “as etapas sucederam-se de forma sustentada e progressiva, nada foi abrupto.” Relembro que o melhor do mundo, apresenta uma fase preparatória muito importante, nomeadamente como adjunto de grandes treinadores como Van Gaal e Bobby Robson. Esteve também como técnico principal de clubes de menor dimensão, até chegar ao F. C. Porto, onde o sucesso obtido abriu-lhe as portas para uma carreira de sucesso pelas grandes ligas europeias. Melhor exemplo de carreira progressiva e sustentada não pode haver.

Só me almeja especular questionando, será que o n.º 76 de Juventude Leonina teve alguma culpa no cartório?

Tendo em conta os exemplos mencionados, e a noção que é necessário tempo para amadurecer, a forma como Ricardo Sá Pinto chegou a técnico principal do Sporting, merece uma análise em duas perspetivas: 1 - Uma clara coragem e vontade de ajudar o seu clube do coração, apanhando aquele comboio que só passa uma vez, como se costuma dizer na gíria do futebol! 2- Alguma irresponsabilidade de quem decide, atirando um técnico que ainda não possui uma carreira consolidada, diretamente para o meio dos leões! Bem ou mal, o tempo e os resultados nos irão dizer. Vamos ver quanto tempo vai aguentar a corda bamba!

 REMATE DA SEMANA: "As carreiras, são como os foguetões. Nem sempre são lançadas conforme o programado. O segredo é continuar a trabalhar nos motores." (Gary Sinise)

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 25.09.2012