Toda a evolução deve ser progressiva e gradual. Por esse motivo, o futebol de formação está organizado em escalões, onde existem regras de progressão, com base nas faixas etárias dos diferentes praticantes. Esta distribuição é uma forma de nivelar as competições, assegurando uma prática desportiva justa e equilibrada e, em simultâneo, é um aspecto que permite assegurar a integridade do jovem praticante.
Sabendo que a cada escalão competitivo, ao nível da formação, permite que geralmente a diferença máxima de idades na mesma competição seja de cerca de um ano, leva-me a questionar se a passagem de juniores para o escalão sénior é uma transição gradual.
Vejamos, segundo o site da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a média de idade dos jogadores da Liga Zon ronda os 25 anos e da Liga Orangina os 26 anos. Mesmo sabendo que o jogador finaliza a sua etapa de formação aos 19 anos, tendo atingido já a sua maturação morfológica, será que está apto para competir com jogadores em média 6/7 anos mais velhos? E quando falo em competição, refiro-me tanto a disputar por uma oportunidade no plantel onde estão inseridos, como na pura disputa do jogo frente aos seus adversários. Será que o aumento da exigência está a ser gradual e progressiva? Todos pensaram à partida que poderá ser “um passo bem mais exigente que a perna!” Quais as opções disponíveis para os clubes? A opção mais usual é emprestar o jogador a um clube de menor dimensão, para que ele se adapte ao escalão sénior, no sentido de desenvolver as suas capacidades, voltando na época seguinte ao clube de origem. Será que essa adaptação torna-se eficiente? Será que esta opção não compromete a ligação do jogador ao clube de origem? Dos clubes grandes, quantos jovens são emprestados? E quantos voltam ao clube de origem?
Haverá outras opções?
Talvez a criação de um escalão intermédio de sub 23 fosse a melhor opção, mas será que é possível realizar uma inovação deste género, numa estrutura orgânica e regulamentar tão pesada como a Federação Portuguesa de Futebol?... Questões como custos! Arbitragem! Logística! … Iriam certamente ser colocadas como forma de demover ambiciosa proposta!
Tendo em conta que os clubes vivem preocupados com esta transição, entre os escalões de formação e os escalões profissionais, querendo ver o investimento feito na formação rentabilizado, optam por tomar responsabilidade neste processo. Vejamos: Armando Carneiro, responsável pela formação do S. L. Benfica refere que a “… equipa B é prioritária na transição para o futebol profissional. Estamos a pensar nesse projecto”. Godinho Lopes manifestou ao responsável máximo da Liga P. F. P., intenção de fazer regressar a equipa B ao Sporting. O presidente do Vitória de Guimarães, também apresentou como promessa eleitoral o aparecimento de uma equipa B no seu clube.
Realmente é de louvar o esforço dos clubes, em criar uma etapa facilitadora da integração dos seus jovens pupilos no futebol profissional. É certo que irão reivindicar junto dos órgãos competentes, que estas equipas tenham oportunidade de disputar uma liga profissional, neste caso a 2ª Liga, à semelhança do que acontece na vizinha Espanha.
Se a intenção é mesmo dar continuidade aos escalões de formação, como os responsáveis pelos clubes apregoam, não será uma oportunidade para os altos responsáveis do futebol, regulamentarem para que estas equipas terem obrigatoriamente, uma percentagem de jogadores inscritos nos boletins de jogo, inferior a 23 anos? Para que a nação ganhe com esta inovação, não seria importante regulamentar, para que uma percentagem de jogadores inscritos nos boletins de jogo, destas equipas sejam de nacionalidade portuguesa? Talvez seja uma medida regulamentar intermédia, para que mais tarde, todas as equipas sejam persuadidas a utilizar uma percentagem minimamente aceitável de jogadores portugueses!
Deixo-vos diferentes questões para reflexão, sobre um tema que muito nos tem de preocupar. Como diria Albert Einstein “O importante é não parar de questionar".
CURIOSIDADES:
- Dos 36 jogadores com idade sub 20, inscritos na Liga Orangina na época 2010/2011, apenas 20 tocaram no relvado pelo menos um minuto. Apenas 15 jogadores estiveram em campo, mais de 90 minutos em toda a época. Sabendo que a época tem cerca de 2700 minutos de jogo, não considerando os descontos dados pelo árbitro, apenas 6 jogadores realizaram o tempo de jogo correspondente a metade dos jogos da época, foram eles: Salvador (19 anos/Varzim/1983 minutos); Flávio (19 anos/Covilhã/1873 minutos); Renato Santos (19 anos/Moreirense/1364 minutos); Alex (19 anos/Santa Clara/1731 minutos); Yero (19 anos/Oliveirense/2074 minutos); Rafael (19 anos/Varzim/2223 minutos).
- Dos 59 jogadores com idade sub 20, inscritos na Liga Zon Sagres na época 2010/2011, apenas 18 tocaram no relvado pelo menos um minuto. Apenas 10 jogadores estiveram em campo, mais de 90 minutos em toda a época. Apenas 1 jogador realizou o tempo de jogo correspondente a metade dos jogos da época, foi ele o Nelson (19 anos/P. Ferreira/1404 minutos).
“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!”
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 7.06.2011