No início da época foi aprovado a realização de Encontros Desportivos, no escalão competitivo Benjamins para o ano 2010/2011, em detrimento do Campeonato realizado na época transacta. Nesta reunião de aprovação de Quadros Competitivos, apenas dois clubes discordaram da realização da competição nestes moldes, foram eles a Associação Desportiva da Estação e a Associação Paúl Cultural e Desportivo.
Para realizar um balanço e equacionar a possibilidade de realizar um campeonato em paralelo a estes Encontros, foi promovido esta semana, pela Associação de Futebol de Castelo Branco, um debate entre os clubes acerca dos Quadros Competitivos do referido Escalão. Não querendo fazer deste artigo uma arma para me manifestar contra os Encontros, pois respeito os princípios da democracia, aceitando o que foi aprovado pela maioria, pretendo fazer uma análise crítica a este tipo de Competição.
Para os menos esclarecidos, os encontros são competições isoladas, realizadas de 15 em 15 dias, onde se junta num recinto desportivo 4, 5 ou 6 clubes, que disputam jogos entre si, podendo realizar numa manhã 4, 5 ou 6 jogos de 20 minutos.
Considerando que a introdução na competição formal não deve ser feita de uma forma repentina, respeitando assim o Principio da Aprendizagem intitulada de Progressão, que refere que os estímulos deverão ser progressivamente mais intensos e complexos ao logo do tempo, penso que deve haver uma mistura ponderada entre encontros competitivos festivos e a competição apresentada de uma forma mais formal (o campeonato), permitindo que o jovem futebolista entre assim, no escalão seguinte (Infantis) com uma adaptação realizada de uma forma progressiva e gradual.
A minha posição, nada tem a ver com a necessidade de classificar equipas ou com a luta obsessiva por quem ganha ou perde. Apesar de ter a noção de que qualquer que seja o Quadro Competitivo, a criança vai ter um instinto natural para se comparar com o(s) seu(s) adversário(s), pois a competição é instintiva e acontece em todos os momentos da vida, seja no desporto, na escola ou num outro contexto social.
Para que pudesse realizar uma análise mais fidedigna e responsável deste tipo de eventos, desloquei-me no passado dia 13 de Novembro a um encontro realizado na região. Ainda tive o cuidado de realizar alguns contactos telefónicos para saber como correram outros encontros realizados em simultâneo. Conclui que quem pensava que iria tirar carga emocional à competição, pelo facto de se realizar encontros, esteve iludido este tempo todo, pois verificou-se que crianças de 9 e 10 anos também choram nos encontros, porque perder jogos, pois para eles perder não é motivo de alegria, naturalmente! Assisti ainda a crianças a fazerem contas para saber se ficaram em 1º, 2º, 3º ou 4º lugar! Portanto o problema não será a classificação! O problema será os adultos? Será o medo de cair em tentação, de não se controlar dando demasiada importância ao resultado, em vez de estarem preocupados com a formação qualitativa das crianças? Será a tentação de olhar para o jornal e gabarem-se da classificação da sua equipa? Problema também, será saber se alguns adultos têm capacidade pedagógica de gerir a vitória e a derrota, diminuindo o reflexo do resultado do jogo na carga emocional das crianças. Estamos a resolver o problema das crianças ou dos adultos?
O problema do mais e do melhor! Nos encontros organizados, estava contemplado que existissem equipas a disputar jogos durante 120 minutos, divididos por 6 períodos de 20 minutos (numa manhã), estou a falar em crianças de 9 e 10 anos. Lembro ainda, que o jogo de escalão sénior (Adultos) dura apenas 90 minutos. Neste sentido: (1) Considerando que cada criança realiza metade do tempo regulamentar, o fisiologicamente aceitável, para que crianças desta idade consigam manter um nível de jogo aceitável – 60 minutos (tempo de competição praticado num dos encontros de Benjamins realizado no distrito); (2) que as crianças competem de 15 em 15 dias. Conclui-se assim, que totalizam um tempo de jogo mensal de 120 minutos.
Comparando com a competição do ano passado: (1) que dividia o jogo em 4 partes de 12 minutos, que perfaziam um total de 48 minutos por jogo; (2) que as crianças competiam todas as semana; Conclui-se que totalizavam um tempo mensal de 192 minutos.
Sabendo que 192 é maior que 120, e que actualmente tanto se apregoa que as crianças tem cada vez mais, um estilo de vida sedentário e que o contacto com a bola e com a modalidade é cada vez mais importante para a formação do jovem desportista, parece-me que existe alguma falta de ponderação, na decisão do melhor caminho para os nossos jovens. Espero que a decisão de competir de 15 em 15 dias não seja reflexo da inconsciente falta de vontade dos adultos em acompanhar as crianças todas as semanas. Ainda para aqueles que caírem em tentação de dizer que os encontros são de 120 minutos, e que a criança pode praticar futebol durante 120 minutos por encontro, eu previamente respondo que MAIS não é MELHOR! E ainda, mais uma vez refiro, que a partir da uma hora de prática, a qualidade do jogo decresce drasticamente, e por muita vontade que a criança tenha em participar no jogo não consegue, porque não possui capacidade biofisiológica para tal. Concluindo, a criança neste quadro competitivo deixa de jogar cerca de 10 horas por ano. Futebol de rua? Parece que já não faz falta! Estilo de vida sedentário. Já não é problema!
REMATES:
- Sem qualquer receio das criticas eu assumo publicamente a minha opinião. Triste é saber que existem pessoas, com responsabilidade em clubes na região, e que se manifestaram defensoras dos actuais quadros competitivos, por verem que muitos agentes desportivos e sociais não concordam com a competição nestes moldes, vêm cobardemente para a praça pública dizem que foi o Prof. João Sá Pinho, que intercedeu para que os encontros fossem uma realidade. Pena que personalidade, responsabilidade e ética profissional não se vende nem se compra!
Artigo Publicado em Jornal Tribuna Desportiva 23.11.2010
João Sá Pinho
joaocspinho@hotmail.com
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