Devido à evolução da ciência e da abordagem ao processo de treino, o treinador deverá dominar diferentes áreas do conhecimento, áreas essas, determinantes para que a sua equipa alcance o sucesso e consequentemente o seu trabalho seja valorizado por todos. As relações interpessoais são um desses aspectos que considero fundamentais. Dentro das relações interpessoais, teremos várias áreas com extrema relevância. Uma das que considero importantíssimas é a capacidade de perceber o fenómeno da coesão do grupo e como potenciá-lo.
Segundo Neto 2007, "A competência, capacidade e experiência técnica e científica do treinador, conjuntamente com as suas competências de relação interpessoal constituem a mistura mágica para o espírito ou coesão de uma equipa".
De uma forma simples, a coesão do grupo é a capacidade dos elementos de uma equipa, se unirem no sentido de atingirem um objectivo.
Neste processo dinâmico, um dos aspectos determinantes e difícil de gerir, é a forma como o treinador intervém junto dos jogadores que menos jogam. Quando estes elementos se tratam de jogadores que procuram o sucesso da equipa, terão obrigatoriamente de perceber que fazem parte do grupo e devem fazer tudo o que está ao seu alcance, para contribuírem para o sucesso do mesmo. Mesmo não jogando, o sucesso da equipa é o seu próprio sucesso. Esta é a melhor forma de estar identificado com a missão da equipa e ao mesmo tempo estar preparado para responder positivamente, quando uma oportunidade surge, contribuindo assim de uma forma activa, para alcançar os objectivos a que todo o grupo se propõe.
O que acontece frequentemente em equipas de futebol ou outras, onde existe uma falta de ligação e coesão entre elementos, ou em alguns casos diria mesmo falta de profissionalismo, é que os jogadores que não têm tantas oportunidades de competir, tentam encontrar defeitos na prestação dos seus colegas com mais oportunidade, transmitindo até a sua opinião para os colegas que estão na mesma situação. Este tipo de comportamentos prejudica gravemente a coesão do grupo e consequentemente o rendimento da equipa. Alguns desses prejuízos são a desaproximação daqueles que mais jogam; a criação de subgrupos com diferentes objectivos; a falta de concentração e incapacidade de focagem na tarefa quando têm a oportunidade de mostrar o seu valor. De uma forma geral o grupo entra numa bola de neve em que uns estão cada vez mais distantes dos outros, e os jogadores que despoletam esta situação, através de comportamentos e atitudes impróprias para a coesão da equipa, estão cada vez mais distantes das tarefas que devem realizar durante os jogos e treinos, pois deixam de estar centrados na sua tarefa dentro da equipa e passam a estar focados na prestação dos seus colegas.
Para que esta coesão seja uma realidade, evitando situações como a anteriormente referida, é importante que a capacidade de liderança do treinador, consiga envolver todos os jogadores na missão da equipa, fazendo com que todos os elementos do plantel se sintam úteis e parte integrante no processo, mesmo não jogando com tanta frequência como os outros.
Neste sentido, o treinador deve ter a capacidade de recolher informação acerca das características relacionais de cada jogador e em simultâneo compreender como é que o jogador interfere no grupo e vice-versa, para que consiga intervir, proporcionando que o TODO seja superior à soma das PARTES.
Chamo a atenção para que um plantel com os melhores jogadores, nem sempre é a melhor equipa. Se analisarmos a nível europeu, claramente existem equipas com planteis caríssimos, com jogadores de alta visibilidade, mas que raramente conseguem alcançar o sucesso. Isto pode dever-se, à falta de identidade com os objectivos colectivos da equipa. Quero dizer com isto, que o processo inicial de construção do plantel, deve ter em consideração as características relacionais de cada jogador a contratar. Para mim, este é o primeiro passo para que a equipa esteja mais próxima da coesão.
Alerto também, para a relação bidireccional que existe entre o rendimento e a coesão do grupo. Considero que a coesão entre elementos aumenta o rendimento da equipa e que simultaneamente, o rendimento desportivo proporciona um aumento da coesão do grupo. Na gíria do futebol ouve-se muitas vezes dizer, quando se ganha com regularidade e os objectivos estão cada vez mais perto de serem alcançados, tudo está bem!
Um jogador que olhe primeiro para o seu umbigo e só depois levanta a cabeça para olhar superficialmente para a sua equipa, será apenas um jogador do plantel, estando muito longe de ser um jogador da EQUIPA.
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 20.09.2011