sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Defender no Futebol – Tácticas de Jogo

Uma equipa de futebol para ter sucesso, tem que ter potenciado o seu processo ofensivo, processo que leva os seus jogadores a marcar golos ao adversário. Mas para que isso possa acontecer, o treinador deverá dar a mesma importância ao processo defensivo. Este processo optimizará a capacidade de recuperar a posse de bola, ou no mínimo a capacidade de bloquear o adversário, no sentido de não permitir que ele crie situações de remate à baliza, que por sua vez proporcionem golo e um resultado desfavorável. É deste último processo que eu vos vou falar nesta edição.

Quantas vezes já ouvimos num jogo de futebol, o treinador dizer aos seus jogadores “marca em cima”, “não o deixes respirar”, “não o largues o teu homem”, “encosta nele”? Estas expressões são características de um tipo de organização defensiva chamada defesa individual ou defesa homem-a-homem. Ou seja, cada jogador da equipa que está a defender terá como missão, anular as acções de um jogador específico da equipa adversária, normalmente definida previamente pelo treinador. Como se diz na gíria do futebol, neste tipo de organização, “cada um marca o seu”. 

Não tendo nada contra quem utiliza este tipo de processo nas suas equipas, leva-me a crer que existem algumas desvantagens em relação a este tipo de organização. Vejamos, se admitirmos à partida que para recuperar a posse de bola, os jogadores têm que estar mais próximos, num bloco coeso, o facto de realizarmos marcação individual, vai proporcionar um afastamento entre os jogadores defensores. Sabendo que a equipa atacante, usa inteligentemente a máxima amplitude permitida pelas dimensões do terreno de jogo, nos momentos em que tem a posse da bola, obrigando a equipa defensora a ter que proteger uma área maior, esta ao realizar uma defesa individual, certamente que irá afastar os seus jogadores em função do posicionamento dos adversários. A grande desvantagem é que os defensores em vez de estarem unidos, perto do jogador adversário que tem a bola, ou perto dos espaços que oferecem maior vulnerabilidade para a baliza, estão dispersos desnecessariamente, em zonas de menor influência. Mourinho (2002), numa das suas entrevistas ao Jornal A Bola defendeu que é fundamental, “um bom posicionamento defensivo enquanto equipa, formando um bloco compacto”. O genial futebolista Maradona (2001) referiu no seu livro Eu sou El Diego “…percebi que gostava mais que me marcassem homem a homem porque me livrava facilmente deles e ficava sozinho. Pelo contrário, na marcação à zona era mais complicado”.

Quando falamos no tipo de organização defensiva, mencionado anteriormente por Maradona, a defesa à zona, temos como princípios fundamentais, que a equipa defensora, deixa de ter como referência o adversário, passando a preocupar-se com a posição da bola no terreno de jogo, e nos potenciais caminhos para a baliza, ajustando as suas posições em função da variação da posição da bola. Não quero dizer com isto, que uma marcação à zona seja o posicionamento aleatório de jogadores perto da grande área, como acontece com algumas equipas, que não possuem uma desenvolvida cultura táctica. Isto não se poderá considerar por si só uma defesa à zona, apesar de muitas vezes funcionar, devido ao desorganizado aglomerado de jogadores num curto espaço, perto da baliza. Note-se que para defender à zona, é necessário um treino que organize os jogadores no campo, não lhes deixando dúvidas em relação aos diferentes lugares a ocupar e movimentações a realizar, à medida que o adversário faz percorrer a bola nos diferentes espaços de jogo. Esta movimentação é normalmente designada por basculação defensiva.

Ao libertarmos os jogadores de defender homem a homem, passando a defender à zona, teremos maior probabilidade de garantir superioridade numérica, junto de áreas consideradas vitais, reduzindo espaços e opções ao adversário, para jogar nestas zonas do campo.

Para que o leitor possa ter uma noção prática destas duas formas de defender, quando assistir a um jogo de futebol, verifique com alguma atenção, a forma como as equipas defendem os cantos. Dou o exemplo dos cantos pois o facto da bola estar parada, permite a análise e aplicação destes conceitos com maior facilidade, mesmo que tenha menos sensibilidade para analisar o jogo. Nalgumas situações os jogadores estão perto dos atacantes, ou seja, onde estiver um atacante, está também um defensor (defesa individual). Noutras situações vai verificar que independentemente da posição inicial do atacante o defesa ocupa a sua posição, preocupando-se com o seu espaço de responsabilidade (defesa à zona). Normalmente as equipas que defendem à zona colocam 4 ou 5 jogadores em linha, junto à pequena área. Verifique você mesmo!

Note que existem algumas equipas que utilizam uma mistura destes dois tipos de defesa. Colocando jogadores em zonas vitais e jogadores a marcar individualmente, adversários considerados mais “perigosos” (defesa mista).

“Compreender as entrelinhas do discurso de alguém é o caminho para a conhecer!
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva Online de 6.09.2011

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