A pergunta pode parecer descabida, e realizada de uma forma descontextualizada até o pode ser, mas penso que é uma pergunta que qualquer encarregado de educação já deve ter realizado a sim mesmo.
Realmente existem actividades, como a escola, que são obrigatórias, mas existem muitas outras, como é o caso da prática desportiva que não o são. Nos inúmeros jogos de futebol de crianças e jovens que regularmente vou acompanhando, muitas vezes questiono-me se algumas das crianças que por ali aparecem, estão a ter prazer na prática daquela actividade desportiva, ou simplesmente estão a fazer um favor aos seus pais que se encontram nas bancadas, com um comportamento fervorosamente desmedido.
É grande a oferta de actividade desportiva existente, cabe ao encarregado de educação, em conjunto com o seu educando, perceber qual a melhor escolha, no sentido de fidelizar o jovem praticante à actividade desportiva em questão. Defendo até o princípio, que numa fase inicial da sua vida desportiva, a criança deverá vivenciar várias modalidades, no sentido de conseguir conhecê-las, através de um contacto directo com elas. Numa fase posterior, e com ajuda dos seus pais, deverá escolher aquela que mais se adequa às suas características, estabelecendo um compromisso, que o leve a participar de uma forma regular na sua modalidade de eleição. Nesta prática regular, penso que será importante que o jovem perceba que deverá organizar a sua vida, para que nunca falte aos compromissos da modalidade seleccionada. Sinceramente custa-me compreender que crianças com 12/13 anos, ou até menos, faltem sistematicamente a treinos das suas modalidades, sempre que têm testes no dia seguinte. Será que tem alguma coisa a ver, com a falta de preparação das matérias a estudar com a devida antecedência? Outra questão que me intriga, é o facto de perceber se alguma criança ou jovem aguenta estudar 3 horas seguidas! Se a criança precisa de intervalos para que o estudo seja rentável, porque será que o “intervalo” não pode ser o treino? São questões que aprofundaremos noutras alturas, mas a verdade é que devemos incutir às crianças, o mais cedo possível, hábitos de organização do tempo e uma aquisição funcional dos métodos de estudo.
Mas se por um lado existem pais, que tudo fazem para que o seu filho permaneça a todo custo numa actividade desportiva, por outro, existem alguns, que à primeira dificuldade ou momento de frustração que o filho encontre, comportam-se de uma forma super protectora, tirando-o rapidamente do contexto de dificuldade, que pode ser o clube ou a modalidade. Não acredito que existam actividades, onde se consigam obter resultados positivos sem sacrifícios, frustrações, desilusões, etc. Para sermos melhores do que aquilo que somos hoje, precisamos perder, falhar, cair. Virar as costas à luta será um acto de protecionismo exagerado. Devemos incutir aos nossos jovens, que a derrota servirá para analisar aquilo que temos de melhorar, não devemos desistir à primeira contrariedade. Será importante definir-mos com os mais jovens objectivos que sejam atingíveis, dando-lhes permanentemente feedbacks se estão no caminho certo, para que eles tenham uma percepção de sucesso. O diálogo é mais uma vez fundamental.
Gostaria de transmitir a ideia que se poderá aproveitar a oportunidade da criança ou jovem interagir com uma actividade, onde está motivada para a sua prática, para lhe transmitir valores e comportamentos que mais tarde, sejam úteis para que tenha uma vida de sucesso numa sociedade competitiva como a nossa. No futuro, o jovem que antecipadamente foi preparado para os constrangimentos de uma sociedade competitiva, estará preparado para lidar com ferramentas e valores como a organização do tempo, o compromisso, a responsabilidade, os métodos de trabalho, o espírito de sacrifício, a autonomia etc. … Tudo será natural e a sua vida terá um conjunto de ingredientes que contribuirão para a sua felicidade.
“O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem, pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.” Thomas Huxley
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 25.20.2011