sexta-feira, 16 de março de 2012

Villas-Boas… Quem é o senhor???

Numa altura em que se especula a ida de Villas-Boas para o Inter de Milão, depois de uma trágica passagem pelo Chelsea passando de “hero to zero” (expressão inglesa), parece-me pertinente rever o seu trajeto profissional e as suas caraterísticas.

Villas-Boas, bisneto do primeiro Visconde de Guidhomil, razão que lhe é atribuído o nome brasonado de Dom Luís André Pina Cabral e Villas-Boas, desde cedo demonstrou interesse pelo futebol. Apesar de não ter ninguém na sua família com interesse vincado por desporto, o fato de ser vizinho de Bobby Robson, uma das maiores figuras do futebol mundial, proporcionou-lhe a abertura de uma porta para o futebol profissional. O primeiro de muito contatos destemidos, começou quando Villas-Boas, questionou o seu vizinho da razão por não colocar, o seu ídolo Domingos, a jogar mais vezes. Sir Bobby Robson, em vez de ignorar o miúdo, foi dialogando com André, criando laços afetivos, mas também profissionais, pelos constantes relatórios que o jovem colocava na caixa de correio do então treinador do F. C. Porto. Com apenas 17 anos começou a sua formação de treinador em Inglaterra, com estágios em vários clubes profissionais, trajeto que seria totalmente impossível sem a “cunha” amiga do seu vizinho. Realmente o leitor poderá dizer que teve uma sorte enorme, em ter sido vizinho de um treinador tão importante. Na verdade se não fosse destemido e corajoso ao interpelar Sir Bobby Robson, arriscando uma ríspida humilhação, como talvez tivesse acontecido se fosse com outro treinador, permitiu que criasse as bases para uma carreira ao mais alto nível.

André Villas-Boas, foi durante muitos anos responsável por analisar as equipas adversárias de José Mourinho, iniciando esta tarefa no F. C. Porto a part-time, mas a capacidade de realizar profundas análises, convenceu o seu “patrão”, proporcionando a sua contratação a tempo inteiro. Uma análise levada ao limite, que por vezes até se disfarçava para ir analisar adversários, aos campos de treino dos seus opositores.

A sua ambição em sentir mais de perto o cheiro do relvado, deixando para trás o trabalho de observação em gabinete e passar a lidar mais de perto com os jogadores, levou a que enfrentasse Mourinho. Segundo Luís Freitas Lobo “foi o homem, o único à face da terra, que desafiou Mourinho e com que este se zangou, furioso, quando, altivo, lhe disse que queria ir embora do Inter porque se sentia treinador e não uma simples observador como Mourinho insistia que fosse”.

Foi em 2009 que o jovem treinador iniciou a sua carreira como principal da Académica de Coimbra. Um passo arriscado, como ele próprio refere: “aos 31 anos troquei a confortável posição de observador do Inter, um salário incrível e um contrato que se promulgava por mais 3 anos, pela Académica que estava no último lugar na Liga portuguesa”. Mais uma decisão de coragem, que revela ambição, mas também o acreditar e a vontade de seguir o seu próprio rumo. Foi o bom trabalho que desenvolveu na Académica que lhe proporcionou a contratação pelo F. C. Porto, na época 2010-2011, apesar do interesse demonstrado por outras equipas portuguesas. No clube azul e branco ‘apenas’ conquistou Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Supertaça e Liga Europa, faltando a Taça da Liga. O seu sucesso, fez com que protagonizasse no início da presente época, a transferência mais cara de um treinador de futebol para o Chelsea Football Club, 15 milhões de euros, com um salário de 5 milhões anuais.

Mas porque Mourinho vingou no Chelsea e Villas-Boas falhou? É certo que estou muito longe de ter conhecimento de causa do que se passou com os dois treinadores, mas numa análise à distância tudo se pode especular! Poderá ter sido mesmo uma questão de relação de estatutos de jogadores/treinador. Mourinho encontrou no Chelsea, um conjunto de jogadores que há muito não ganhava. O treinador português entra no clube de rompante, evidenciando na sua primeira conferência de imprensa que é ‘Special One’, demonstrando claramente o seu estatuto de dimensão superior. Ou seja, treinador com estatuto bem mais elevado de que os jogadores, proporcionando que tivesse uma liderança mais vincada, que lhe permitiu à segunda época, que o Chelsea vencesse o desejado título, após 50 anos de seca. Além disso o treinador português levou consigo um núcleo de jogadores da sua confiança, três deles da seleção portuguesa. No total o clube investiu nessa época 166 milhões de libras.

Na presente época, com Villas-Boas, apenas entraram Thibaut Courtois (Genk), Oriol Romeu Vidal (Barcelona), Romelu Lukaku (Anderlecht), Juan Mata (Valencia) e Raul Meireles (Liverpool), deixando no plantel jogadores com um estatuto muito forte, com um ego alimentado pela mentalidade ganhadora e uma estreita relação com José Mourinho. No total o clube londrino investiu 75,5 milhões de libras em contratações. Além de um investimento inferior, Villas-Boas teve uma comunicação diferente, talvez demasiadamente cautelosa, não se mostrando tão acertivo como José Mourinho, evidenciando a sua forma, diferente, de estar no mundo do futebol. Voltando a reforçar a ideia de que esta é a opinião de quem apenas tem a informação proveniente dos orgãos de comunicação social e bibliografia da especialidade, diria que tinha sido importante que Villas-Boas tivesse um discurso que elevasse o seu estatuto em relação aos seus jogadores.ligações, para serviços externos ao Jornal de Notícias, permitem guardar, organizar, partilhar e recomendar a outros leitores os seus conteúdos favoritos do JN(textos, fotos e vídeos). São serviços gratuitos mas exigem registo do utilizador.

Considerando o trabalho de qualidade que desenvolveu com Mourinho, o trabalho que realizou na Académica de Coimbra e no Futebol Clube do Porto, penso que André Villas-Boas terá condições para ser mais um técnico português de sucesso. Agora se me perguntarem se vai chegar ao nível de Mourinho, arrisco-me a dizer Não… mas retribuo com uma questão: mais algum técnico a nível mundial, terá hipóteses de atingir o nível de special one? Ser campeão nas principais ligas europeias Inglaterra, Itália e agora Espanha, Ligas Europa, Ligas dos Campeões…  não poderá ser para todos e atualmente apenas será para um!



REMATE DA SEMANA: “Conectar computadores é um trabalho. Conectar pessoas é uma arte.”
Eckart Wintzen

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 13.03.2012

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