No passado domingo terminaram os
jogos olímpicos. Em jeito de balanço final, podemos dizer que a prestação de
Portugal não foi má, mas podia ter sido muito melhor. O grande problema disto
tudo é que quando admitimos que podia ter sido muito melhor, obriga-nos a
admitir que houve falhas que não nos permitiram alcançar o êxito.
O problema da preparação para os
Jogos Olímpicos, é que se tem pensado numa preparação a curto espaço de tempo,
em vez de se pensar em TODO o espaço de tempo. Quando falo em todo o espaço de
tempo, falo num investimento que deve ser feito, desde o primeiro dia em que
cada criança participa numa atividade desportiva. Se possível essa participação
deve ser o mais cedo possível!
O problema é que a organização
geral do desporto, está feito às “caixinhas”. Ora vejamos, ao longo da vida, a
criança entra para a pré-escola, seguidamente passa para o primeiro ciclo.
Nestas duas etapas, caso os pais autorizem e o estabelecimento de ensino
disponibilize, poderá ter os primeiros contatos com a atividade desportiva, no
caso do primeiro ciclo com as Atividades Extra Curriculares (AECs).
Seguidamente, passa para 2º Ciclo, 3º Ciclo e Secundário, nestas fases
participará nas atividades promovidas pela desvalorizada Educação Física, e
caso pretendam algumas modalidades de Desporto Escolar. Durante todas estas
etapas que referi anteriormente, ainda têm a possibilidade de se ligarem a um
clube desportivo, no sentido de desenvolverem a sua competência numa modalidade
específica. Depois de concluírem a escolaridade obrigatória, ainda poderá
seguir para o ensino superior, onde poderão participar no desporto
universitário.
Se nos conteúdos letivos, existe,
ou devia existir, ligação entre matérias do ensino pré-escolar, até ao ensino
superior, no desporto isso não acontece! Muitos não percebem que as
fundamentais atividades desportivas, que deviam existir em todos os
estabelecimentos do pré-escolar, poderão ser determinantes na conceção de um
campeão, poderá ser determinante no tal milésimo de segundo que faz a diferença.
Já para não falar nos restantes benefícios para a formação da criança. Quando
refiro “as caixinhas”, refiro que durante estas etapas formativas da criança ou
jovem, não existe precedências de conteúdos e objetivos desportivos.
Segundo Vicente Moura, líder do
Comité Olímpico, "se nada mudar, daqui por quatro anos teremos
menos modalidades e atletas nos Jogos, além de nos tornarmos irrelevantes em
termos de resultados." O que será necessário mudar? "Um pouco de
tudo", indica, "a começar pela mentalidade do panorama desportivo
nacional. As alterações têm de partir logo do desporto escolar, no fundo onde
tudo começa, antes da prática do desporto a nível associativo."
Concordo com o que Vicente Moura diz, apenas a ousadia de corrigir que o início
começa um pouco mais cedo! Veja o chines Feng Zhe, vencedor da medalha de
ouro das paralelas iniciou a sua prática de ginástica aos 6 anos, Michael Fred Phelps começou a nadar com 7
anos, entre outros milhares de exemplos que podia dar.
Além
de todas estas grandes alterações da organização desportiva, não compreendo
como não existe um sistema que proporcione um percurso alternativo, a todos os
jovens talentos desportivos. Evidentemente que esse sistema terá de privilegiar
uma relação equilibrada entre a carga horária escolar e carga de treino, no
sentido de proporcionar um melhor desenvolvimento da jovem promessa, começando
a trabalhar desde cedo para um verdadeiro projeto olímpico.
Mas,
o mais caricato no meio disto tudo é a forma como desperdiçamos oportunidades!
Não compreendo como é que alguém depois de estar apurado para os Jogos
Olímpicos não é uma aposta séria! Darei um exemplo: segundo o Jornal de
Negócios On Line “Clarisse Cruz
trabalha diariamente na secretaria da Câmara Municipal de Ovar. Só a partir de
Julho teve dispensa para treinar para os Jogos Olímpicos de Londres.
Qualificou-se a custo e foi a custo que conseguiu apuramento para a final dos
3000 metros obstáculos. Na qualificativa, caiu, levantou-se e ainda bateu o seu
recorde pessoal.” Só a partir de Julho? Uma Câmara Municipal? Do
Estado? Investe-se de um lado e desinveste-se do outro! Realmente andamos mesmo
a brincar com isto!
Remate da Semana:
Cada vez percebo menos deste país, mas cada vez percebo mais porque estamos
neste estado!
Artigo Publicado no
Jornal Tribuna Desportiva de 14.08.2012
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