Pelo país fora decide-se a organização de eventos desportivos. Uma
pergunta que frequentemente faço a mim mesmo, é se quem decide a realização
desses eventos, utiliza algum instrumento de medição para aferir o retorno
económico desse evento, ou se apenas decide com base na sensibilidade que tem e
opiniões generalizadas sobre o mesmo.
É que alguns eventos apresentam um investimento avultado, como por exemplo
foi o caso do Euro 2004, considerado uma boa oportunidade para dar visibilidade
internacional ao nosso país. Evidentemente que não tenho dados para fazer uma
análise sistemática da rentabilidade da utilização dos dinheiros públicos
canalizados para a realização deste tipo de organizações, mas também gostaria
de fazer a questão… Será que alguém tem?
Se alguém os tem será fundamental passa-los para a comunidade em
geral, através de uma linguagem percetível a todos, criando assim um sentimento
de justiça, através da compreensão da rentabilidade da utilização dos dinheiros
dos cidadãos neste tipo de eventos. Quando a linguagem não é clara, ou
simplesmente não existe informação, todos têm o direito de especular com as
expressões que habitualmente ouvimos, p. ex. “ deu prejuízo!”, “alguém ganhou
dinheiro com o evento!”, “serviu para projetar a imagem deste ou daquele!”,
etc.
Seja o evento de pequena ou grande dimensão, quer se invista 1 euro ou
1 milhão de euros, se esse dinheiro é público, todos devem saber o que se
ganhou com a aplicação desse dinheiro e não apenas saber quanto foi gasto.
Em Inglaterra existe uma entidade não-governamental intitulada UKSport
responsável por medir o impacto económico dos eventos desportivos. O UKSport tem como estratégia
global, quanto aos eventos desportivos, apoiar aqueles que tenham relevância
estratégica e que produzam, ao mesmo tempo, um conjunto de benefícios
duradouros de caráter desportivo, económico e “social-cultural”. Esta entidade
considera que o “… impacto económico de um evento desportivo é a mudança
económica líquida na economia local resultante do acolhimento do evento. O
efeito económico líquido pode ser expresso como a despesa adicional local, o
emprego adicional local, ou o rendimento adicional local gerados pelos
visitantes do evento provenientes de fora da economia local. O impacto
económico total de cada evento é composto por três componentes: o impacto
direto, o impacto indireto e o impacto induzido”. Importante salientar que com base nos estudos realizados em diferentes
eventos entre 1997 e 2003, a UKSport criou um “Modelo de Previsão Económica”
que usa para prever o impacto económico dos eventos, tendo em conta a
especificidade de cada um, evitando a generalização.
A UKSport é crítica quanto a alguns estudos de impacto económico referindo
no documento Game Plan 2002 “Não apenas os resultados
de muitos estudos de impactos económicos são mal interpretados…para
suportarem…crenças de políticas, mas os resultados são muitas vezes mal
calculados pelos economistas, algumas vezes deliberadamente para agradarem aos
patrocinadores do projeto de investigação, outras vezes sem intenção, sendo que
o número de insuficiências na estimativa dos benefícios líquidos de um
investimento público são numerosas”. Daí, esta organização recomende a ação
especializada das candidaturas dos eventos desportivos, garantindo a boa
aplicação de recursos públicos.
Tendo em conta o
exposto, cabe-me terminar este artigo com algumas questões:
- E em Portugal
não deveria existir uma entidade que medisse e estudasse eficazmente o impacto
dos eventos desportivos?
- Tendo a
sensibilidade para perceber que os eventos desportivos poderão proporcionar
retorno económico, essa entidade não deveria ser responsável por propor eventos
rentáveis para aplicar os dinheiros públicos?
- Essa entidade
não deveria dar suporte ao poder local para estudar a viabilidade de eventos de
menor dimensão? Alerto que eventos organizados localmente, muitas vezes
apresentam uma maior “taxa de esforço” que eventos organizados de dimensão
nacional ou internacional.
REMATE DA
SEMANA: "A economia é uma virtude distributiva
e consiste não em poupar mas em escolher.” Edmund Burke
Artigo
publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 7.05.2013
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