sábado, 20 de agosto de 2011

Mika foi o herói… mas não só!!!

A Selecção Nacional de Sub 20 despoletou um surpreendente “milagre”!  Pois é… o desporto tem destas coisas! Depois de um jogo altamente emocionante, disputado entre Portugal e Argentina, partida que dava acesso aos quartos de final do Campeonato do Mundo de Sub 20, as duas equipas foram obrigadas a discutir o jogo através das marcas de grande penalidade, devido ao facto de terem chegado ao final dos 90 minutos e prolongamento empatadas. Nos três primeiros penaltis marcados, Portugal já tinha falhado dois, sem que a selecção da Argentina tivesse falhado algum. Conhecendo o que normalmente sucede nestas formas de desempate, poucas pessoas acreditariam que seria possível, a Selecção Portuguesa dar a volta ao resultado. Até que surgem as duas surpreendentes defesas de Mika, guarda-redes da nossa Selecção. Na verdade o que aconteceu não foi um milagre, ou um adivinhar das trajectórias da bola. Foi sim, um comportamento previsto pelo guarda-redes, depois de uma alta especialização da tarefa de defender grandes penalidades. Foi uma sensibilidade desenvolvida pelo guarda-redes ao longo da sua carreira, proporcionando a optimização da capacidade de recolher informação do jogador que marca, tratar essa mesma informação recolhida e realizar uma resposta em função do contexto com que se depara… é sem dúvida uma capacidade de tomar decisões altamente especializada para a função que desempenha.

Se estudarmos as imagens, recorrendo a alguns programas de análise de performance, conseguimos perceber que nas duas grandes penalidades defendidas por Mika, o guarda redes da Selecção Portuguesa, iniciou o seu deslocamento em “direcção à defesa”, alguns décimos de segundo antes do jogador que marcou o penalti, tocar na bola. Mika tomou a sua decisão depois do pé de apoio do marcador da grande penalidade estar seguramente fixo no solo e o  membro inferior que vai rematar a bola estar em clara aceleração. Neste movimento de remate, o guarda-redes realizou uma previsão dos locais onde a bola poderia ser tocada pelo jogador, e das trajectórias que a mesma pode percorrer. É sem dúvida surpreendente que isto possa ser realizado num curtíssimo espaço de tempo, mas é realmente possível com um treino premeditado para o efeito, ou uma sensibilidade desenvolvida pela prática. Veja na figura apresentada.

Mika realizou um feito notável! Sendo a figura mediática do jogo, teve a oportunidade de se vanglorias das suas defesas. Mas não foi o que aconteceu! Foi humilde, mostrando pelas suas palavras à comunicação social, que a vitória foi da equipa e não apenas dele. “Heróis foram todos os jogadores, que lutaram durante os 120 minutos. Não me sinto herói por ter defendido, porque os meus colegas também marcaram”.

Na verdade apenas cumpriu a sua tarefa, e só o conseguiu porque o contexto envolvente lhe proporcionou um ambiente que lhe permitiu realizar a sua tarefa na melhor da sua performance. Foi humildemente justo, e para além de ser determinante para Portugal chegar às meias-finais deste Campeonato do Mundo, patamar que não alcançava desde 1995, foi determinante para aumentar a coesão do grupo de trabalho.
Espero que consigamos ir ainda mais longe…
Compreender as entrelinhas do discurso de alguém, é o caminho para a compreender!

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 17.08.2011

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