quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pré época em acção! Da Mata ao Campo de Futebol!...

Antes de iniciar a abordagem ao tema que esta semana vos apresento, gostaria de saudar todos os leitores da Tribuna Desportiva, esperando que tenham tido umas boas férias, suficientes para repor os níveis óptimos de energia, para mais um ano de árduo trabalho.

Relativamente ao tema que hoje vos trago, quando menciono o termo pré época, refiro-me ao período de preparação posterior às férias e que antecede as competições oficiais.
Com a evolução das metodologias de treino, a forma de planificar a fase pré competitiva tem sofrido modificações significativas. Há uns anos atrás via-se com mais regularidade, equipas de futebol a prepararem-se para as competições em espaços como praias, matas, campos de golfe, etc. Estas actividades tinham como principal objectivo preparar fisicamente os seus jogadores, no sentido de desenvolverem as suas capacidades motoras (força, resistência, velocidade…). Actualmente, devido aos estudos realizados e decorrente evolução das metodologias de treino, sabe-se que capacidades motoras como a resistência, quando desenvolvidas numa corrida realizada numa mata, nada têm a ver com a resistência necessária para um jogo de futebol. Pois, no jogo, o praticante para além da resistência à fadiga, proveniente da deslocação pelo terreno de jogo, necessita simultaneamente de passar a bola, rematar, tomar decisões em função da posição de adversários e colegas de equipa, etc. Esta relação, de acções técnico-tácticas, vista de uma forma inseparável das capacidades motoras, está ligada ao princípio da especificidade que abordei por diversas vezes em artigos anteriores.
 
 
Assim, a pré época deverá preparar a equipa, para que seja capaz de adoptar os comportamentos, que retratam a forma de jogar, idealizada pelo seu treinador, e isto só se poderá concretizar através de exercícios contextualizados, que retratem o jogo formal ou uma fase deste. Quando me refiro a retratar o jogo, incluo o ritmo, a intensidade, as distâncias, os tempos em que as acções técnico-tácticas acontecem, etc. Se o exercício retratar as condições do jogo, automaticamente as “capacidades motoras” que ele exige, vão ser desenvolvidas de uma forma rentável, sem que haja percas de tempo com exercícios que pouco contribuem, para o desenvolvimento da identidade retratada pelo modelo de jogo idealizado pelo treinador.
Neste sentido deixo-vos algumas declarações de Mourinho que li à uns anos atrás no marcante livro Porquê Tantas Vitórias (2006), opiniões que subscrevo na integra:
 
 
Quando vejo referência às pré-temporadas das nossas equipas e me mostram imagens de atletas a correr, a trabalhar no espaço que não é o campo de futebol, da praia ao campo de golfe, dou comigo a pensar que são métodos ultrapassados, para não dizer arcaicos.
 
 
A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é menos importante na abrangência da forma desportiva.
 
 
Não sei onde começa o físico e acaba o psicológico e o táctico. Para mim, o futebol é globalidade, o jogador também, e não consigo fazer a divisão.
 
 
Eu não faço trabalho físico. E quando dizem que o Porto está muito bem preparado fisicamente refuto isso totalmente. O Porto utiliza uma metodologia que rompe com todos os conceitos tradicionais de treino analítico.
 
 
Não acredito, no futebol de hoje, em equipas bem fisicamente e outras mal. […] Há equipas adaptadas, ou não, à forma de jogar do seu treinador. O que nós procuramos é que a equipa se consiga adaptar ao tipo de esforço que a nossa forma de jogar exige.
 
 
Hoje, na minha metodologia, não há espaço para o preparador físico tradicional.”
 
 
Que depois deste período de férias, a actividade desportiva seja uma constante nas vossas vidas! De preferência com a especificidade necessária para os objectivos que se propõem alcançar, sejam atingidos de uma forma rentável. Isto só se torna possível, com uma planificação rigorosa e precisa, alicerçada no domínio de conceitos inovadores, operacionalizados de uma forma profissional.
 
 
Compreender as entrelinhas do discurso de alguém, é o caminho para a compreender!

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