Este mês a nossa selecção vai ser posta à prova no encontro do play-off frente à Bósnia-herzegovina. Devido ao facto de se ter ouvido algumas criticas, a jogadores e equipa técnica, após o jogo de Copenhaga, em que a Dinamarca venceu a NOSSA selecção por 2-1, penso que é uma boa altura para se reler alguns excertos, da carta que José Mourinho endereçou a todos os portugueses, através da Associação Nacional de Treinadores de Futebol… Aqui vai:
“Sou português há 47 anos e treinador de futebol há dez. Sendo assim, sou mais português do que treinador. Posto isto, para que não restassem dúvidas, vamos ao que importa…
As seleções nacionais não são espaços de afirmação pessoal, mas sim de afirmação de um país e, por isso, devem ser um espaço de profunda emoção coletiva, de empatia, de união. Aqui, nas seleções, os jogadores não são apenas profissionais de futebol, os jogadores são além disso portugueses comuns que, por jogarem melhor que os portugueses empregados bancários, taxistas, políticos, professores, pescadores ou agricultores, foram escolhidos para lutarem por Portugal. E quando estes eleitos a quem Deus deu um talento se juntam para jogar por Portugal, devem fazê-lo pensando naquilo que são - não simplesmente profissionais de futebol (esses são os que jogam nos clubes), mas, além disso, portugueses comuns que vão fazer aquilo que outros não podem fazer, isto é, defender Portugal, a sua auto-estima, a sua alegria.
Por isso, quando a Federação Portuguesa de Futebol me contactou para ser treinador nacional, aquilo que senti em minha casa foi orgulho; do que me lembrei foi das centenas e centenas de pessoas que, no período de férias, me abordam para me dizerem quanto desejam que eu assuma este cargo. Isto levou-me, pela primeira vez na minha vida profissional, a decidir de uma forma emocional e não racional, abandonando, ainda que temporariamente, um projecto de carreira que me levou até onde me levou.
Desculpem a linguagem, mas a verdade é que pensei: Que se lixem as consequências negativas e as críticas se não ganhar; que se lixe o fato de não ter tempo para treinar e implementar o futebol que me tem levado ao sucesso; por Portugal, eu vou!
E é isto que eu quero dizer aos eleitos para jogar por Portugal: aí, não se passeia prestigio; aí, não se vai para levar ou retirar dividendos; aí, quem vai, vai para dar; aí, há que ir de alma e coração; aí, não há individualidades nem individualismos; aí, há portugueses que ou vencem ou perdem, mas de pé; aí, não há azias por jogar ou por ir para o banco; aí, só há espaço para se sentir orgulho e se ter atitude positiva.
Por um par de dias senti-me e pensei como treinador de Portugal. E gostei. Mas tenho que reconhecer que o Real Madrid é uma instituição gigante, que me "comprou" da Inter, que me paga, e que não pode correr riscos perante os seus sócios e torcedores. Permitir que o seu treinador, ainda que por uns dias, saísse do seu habitat de trabalho e dividisse a sua concentração e as suas capacidades era impensável...
…Fiquei com o travo amargo de não ter podido ajudar a seleção, mas fico com a tranquilidade óbvia de quem percebe que tem nas suas mãos um dos trabalhos mais prestigiados no mundo do futebol.
Agora, Portugal tem um treinador e ele deve ser olhado por todos como "o nosso treinador" e "o melhor" até ao dia em que deixar de ser "o nosso treinador". Esta parece-me uma máxima exemplar: o meu é o melhor! Pois bem, se o nosso é Paulo Bento, Paulo Bento é o melhor.
Como português, do Paulo espero independência, capacidade de decisão, organização, modelagem das estruturas de apoio, mobilização forte, fonte de motivação e, naturalmente, coerência na construção de um modelo de equipe adaptada às características dos portugueses que estão à sua disposição. Sinceramente, acho que o Paulo tem condições para desenvolver tudo isso e para tal terá sempre o meu apoio. Se ele ganhar, eu, português, ganho; se ele perder, eu, português, perderei. Mas eu também quero ganhar.
No último encontro de treinadores que disputam a Liga dos Campeões, quando questionado sobre o poder dos treinadores nos clubes, ou a perda de poder dos treinadores face ao novo mundo do futebol, sir Alex Fergusson disse (e não havia ninguém com mais autoridade do que ele para o dizer!) que o poder e a liderança dos treinadores depende da personalidade dos mesmos, mas que depende muitíssimo das estruturas que os rodeiam. Clubes e dirigentes fragilizam ou solidificam treinadores.
Eu transponho estas sábias palavras para a seleção nacional: todos, mas todos, neste país devem fazer do treinador da seleção um homem forte e protegido. E quando digo todos, refiro-me a dirigentes associativos, federativos e de clubes, passando pelos jogadores convocados e pelos não convocados, continuando pelos que trabalham na comunicação social e terminando nos taxistas, políticos, pescadores, policiais, metalúrgicos, etc. Todos temos de estar unidos e ganhar. E se perdermos, que seja de pé….
... Um abraço a todos.”
Posto isto, penso que todo o apoio será pouco e as criticas que li e ouvi, em alguns órgãos de comunicação social, são de certa forma injustas. Na minha opinião o Sr. Paulo Bento, trouxe um reconfortante balão de oxigénio a uma seleção nacional, que apresentava antes da sua entrada, um quadro clínico bastante reservado.
Tendo a plena noção que vivemos uma fase difícil a nível económico, factor que afecta claramente a nossa auto-estima e o orgulho em sermos portugueses, não devemos deixar de ver o desporto, (actividade onde conseguimos alcançar feitos históricos), e a selecção nacional, como um meio de promover a marca Portugal. A imagem de competência desportiva que temos tido a oportunidade de projetar para o exterior, será certamente uma ajuda importante na recuperação da reputação que outrora já usufruímos.
Remate da Semana: “O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa." Platão
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 1.11.2011
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