Hoje em dia, várias correntes são seguidas, no que diz respeito às pedagogias educacionais utilizadas em escolas, clubes, academias, etc. Atualmente a que mais desperta curiosidade é a “Descoberta Guiada”. O artigo que vos trago esta semana, procura elucidar o leitor, para as características desta corrente pedagógica, utilizada por profissionais de alto rendimento desportivo.
Se pesquisar num motor de busca o significado de descoberta, poderemos obter resultados como: a)encontrar: descobrir um novo caminho; b)compreender: descobrir o significado de algo. Como pode verificar, a descoberta está diretamente ligada à aprendizagem, em que o principal regulador do processo é o professor ou treinador, referindo-me ao contexto aula ou treino respetivamente.
Numa situação de aprendizagem estratégica do futebol, p.ex. a correção de um conteúdo de treino, poderemos ter diferentes tipos de intervenção, entre as quais, 1) referir diretamente o que é necessário fazer para não voltar a cometer o mesmo erro, forçando a que os jogadores alterem de imediato o seu comportamento. Ou por outro lado, 2) proporcionar um exercício com duas variantes, uma em que o comportamento errado é provocado e outra em que a estratégia corretiva desse comportamento é provocada. Depois da vivência das duas variantes, poderá ser discutido, em conjunto com os jogadores a melhor solução para encarar o problema. Aqui apresento duas formas de corrigir um erro tático, em que a segunda abordagem apresenta uma estreita ligação à descoberta guiada. Parece-me que faz parte do processo de liderança, envolver os jogadores nas decisões de ordem técnico-tática, através de um processo guiado e não obrigado. Segundo José Mourinho “…liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”.
Realmente este é um processo mais demoroso, que nem sempre é rentável, depende da importância dos conteúdos a aprender, mas sem dúvida é uma corrente, que pelo facto dos jogadores vivenciarem as várias vertentes do problema, permite que a aprendizagem fique consolidada, podendo assim, de uma forma natural ser manifestada numa situação de jogo. Mas o curioso desta metodologia, é a possibilidade de provocação intencional do erro por parte do treinador, induzindo os desportistas a encontrar estratégias que permitam enfrentar os problemas e solucioná-los. Errar é um processo natural para quem aprende. E quando o praticante por errar, procura as soluções para o seu sucesso, com certeza que desenvolverá um processo adaptativo mais eficaz, que utilizará no jogo.
Como refere José Mourinho “jogadores com este nível não aceitam o que lhes é dito apenas pela autoridade de quem o diz. É preciso provar-lhes que estamos certos. A velha história do mister ter sempre razão não é aqui aplicável. (...) O trabalho táctico que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a descoberta guiada, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões. Mas para tal, é preciso que os futebolistas que treinamos tenham opiniões próprias. Muitas vezes parava o treino e perguntava-lhes o que eles sentiam em determinado momento. Respondiam-me, por exemplo, que sentiam o defesa direito muito longe do defesa central. Ok, vamos então aproximar os dois defesas e ver como funciona. E experimentávamos, uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentiam. Era assim até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão. É a esta metodologia que chamo a descoberta guiada”.
Neste sentido as palestras tidas com os jogadores, deverão ser um complemento ao próprio exercício, e não o exercício complemento às palestras. Assim, numa relação simbiótica, o exercício e o diálogo, deverão guiar os jogadores rumo aos objetivos, no sentido de aprenderem os comportamentos a adotar, de uma forma bem consolidada. Só se poderá dizer que estes foram bem aprendidos, quando são manifestados na competição de acordo com o planeado. Para que isto se torne uma regularidade, o jogador não deverá realizar a ação pretendida, apenas porque o treinador lhe exigiu, mas sim porque mudou a sua forma de pensar, compreendeu a função estratégica do comportamento e sentiu que é a mais rentável atuar dessa forma.
REMATE DA SEMANA 1: “Diz-me e eu esqueço, mostra-me e eu recordo; deixa-me fazer e eu aprendo.” Benjamim Franklin
REMATE DA SEMANA 2: Bom ano de 2012, de preferência com prática desportiva regular!
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 10.01.2012
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