sábado, 25 de fevereiro de 2012

Seleção Nacional de Futebol: Particularidades Técnicas e Organizativas

No início do presente mês o treinador adjunto da seleção nacional de futebol João Aroso (JA), deu uma entrevista ao site Universidade do Futebol, explicando o funcionamento da equipa técnica da seleção nacional, alguns focos de intervenção, bem como algumas interessantes particularidades. Achei que seria útil que o artigo desta semana apresentasse os pontos mais interessantes desta entrevista, proporcionando que o leitor fique elucidado sobre o trabalho desenvolvido pela equipa técnica nacional.

A equipa técnica nacional tem como alvo de observação e atuação, uma grande quantidade de jogadores. Um dos grupos alvo são todos os jogadores convocáveis. Outro dos grupos é o conjunto de jogadores que no momento, não apresenta condições de serem convocados, mas prevê-se uma possível evolução, no sentido de que no futuro, reúnam condições de integrar a seleção nacional. O fato de João Aroso revelar que a atuação da equipa técnica prende-se com estes dois grupos de jogadores, demonstra que existe uma evidente preocupação com o futuro.
Relativamente ao dia a dia da equipa técnica da seleção nacional de futebol, refere que a maior parte dos dias é passado a fazer análises de jogos ao vivo e pela televisão, tendo ao dispor um serviço que permite ver qualquer canal de televisão de todo o mundo.
João Aroso revelou as grandes dificuldades de se treinar numa seleção nacional. O tempo disponível para trabalhar com os jogadores foi apontado como um aspeto determinante. “O normal, antes de cada jogo oficial, é termos os jogadores connosco cerca de uma semana. Alguns deles jogam ao domingo, concentram connosco na segunda-feira, mas não têm condições de treinar. Portanto, normalmente, as atividades são limitadas". Realmente é pouco tempo para os jogadores interiorizarem uma forma de jogar, quando, a maior parte do tempo é passado a automatizar processos nos clubes. É fundamental, no meu ponto de vista, que haja uma relação próxima da equipa técnica da seleção, com as equipas técnicas dos clubes, no sentido dos processos treinados na seleção, não entrarem em choque com os processos treinados no clube. Assim, será fundamental aproveitar o trabalho realizado no local onde o jogador passa mais tempo, mesmo sabendo que é uma missão relacional muito difícil, pois, muitas vezes, os interesses das diferentes estruturas são antagónicos. Mesmo assim, penso que deve ser um esforço realizado.
Mas este fator “tempo disponível”, não afeta apenas aspetos técnico-táticos.  Para que haja um espirito de grupo forte e um cumprimento das regras de funcionamento do mesmo, é necessário algum tempo de convivência entre o grupo. Segundo JA “Muitos trabalham connosco uma vez, e voltam depois de dois, três meses. E entender plenamente as mensagens de comportamento, por exemplo, é difícil de ser aplicado. Temos de constantemente retomar o aviso de determinadas medidas, como treinar com caneleiras, não andar de chinelos pelo hotel, etc.”
Para combater este tipo de situações a equipa técnica tenta manter o grupo o mais estável possível, exceto quando se torna impossível por razões de força maior, como um caso de lesão. A regularidade, levará a que o jogador esteja “… mais identificado com nossa forma de jogar, com o espírito do grupo, com as noções comportamentais, em uma comparação com aqueles que foram chamados apenas uma vez ou duas vezes.”
JA revelou que outra estratégia utilizada, é o fato de se aproveitar situações táticas utilizadas nos clubes, para serem introduzidas no Modelo de Jogo da seleção, tal como foi defendido anteriormente. Repare no exemplo da preparação da marcação de um canto: “se tivermos uma ideia clara de onde o Cristiano Ronaldo e o Pepe costumam aparecer para tentar finalizar no Real Madrid, normalmente onde são mais fortes, isso nos dará indicadores importantes para quando nós formos definir nossa estratégia neste momento do jogo. Se isso for importante para nossa equipa, costumamos aproveitar tal "hábito". Realmente é a forma mais rentável de não desperdiçar recursos disponíveis.
Para aqueles que consideram que Cristiano Ronaldo não é um bom jogador, JA diz perentoriamente que o jogador é um líder muito positivo, não tendo dificuldade em chamar a atenção aos colegas que não cumprem as orientações regulamentares, bem como reconhecer os seus erros quando os comete. Afirma mesmo que “…se trata de um profissional exemplar, cuja conduta de capitão da seleção é irrepreensível, em todos os níveis. Não chega atrasado a uma refeição, a uma palestra, a um treino. E sempre se desculpa quando comete algum erro.”
Porque achei uma entrevista interessantíssima repleta de riqueza informacional, decidi abrir o apetite do leitor, convidando-o a ler a entrevista na integra em http://www.universidadedofutebol.com.br.
REMATE DA SEMANA: "O perfeito valor consiste em fazer, sem testemunhas, o que se faria diante de todo mundo." (François de La Rochefocauld)
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 21.02.2012

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