Segundo alguns investigadores na
área do futebol, é fundamental que em escalões de formação, se dê oportunidade
aos praticantes de vivenciarem vários tipos de condicionantes, nomeadamente,
diferentes tipos de bolas, diferentes tipos de pisos, diferentes tipos de
equipamentos. Esta variabilidade de materiais levará a que o jovem desportista
tenha a necessidade de se adaptar à instabilidade, otimizando assim a sua
relação com a bola. “É fundamental em
idades mais tenras proporcionar aos jovens jogadores essas diferenças de pisos,
para melhorarem a relação com a bola, dado que essas idades são uma etapa
crucial para o seu desenvolvimento.” (Frade, 2008).
Considerando que as competições
nos diferentes escalões são realizadas nos diferentes tipos de piso, relva natural,
relva sintética e pelado, o jovem jogador deverá ter a capacidade de se
adaptar, obtendo rendimento em qualquer um dos pisos. Um jogador talentoso deverá
revelar uma boa apetência para disputar o jogo, independentemente das condições
onde se desenrola.
Ainda reforçando a ideia
anterior, deixo aqui a opinião de Cruyff (2002) que considera “…as razões da falta de qualidade técnica
de muitos jogadores está associada ao local onde aprendem a jogar futebol”.
O ex-jogador refere ainda, que a “…Academia
mais popular para desvendar os segredos do futebol era a rua, onde as carências
eram supridas com a imaginação e ilusão.”
Não quero com isto passar a ideia
de que o pelado é o piso ideal para a formação de jogadores, até porque, a
nível de conforto e higiene, nomeadamente poeira no verão e lama no inverno, em
nada beneficiam o desenvolvimento das capacidades futebolísticas dos jovens
jogadores. Estou de acordo, que a relva sintética é um piso por excelência para
que os jovens treinem com qualidade. No entanto, considero fundamental colmatar
a ausência do futebol com caraterísticas de rua, para que o praticante seja
forçado a desenvolver as suas apetências em contextos instáveis, tendo o
treinador a obrigação de criar essas condições de instabilidade, mesmo quando
treina na relva, quer seja ela natural ou sintética. Segundo Lobo, (2007), “…se pensarmos na origem dos melhores
jogadores do mundo, neles não existem grandes academias, campos relvado e botas
fantásticas.”
Se por um lado é necessário
instabilidade, nas fases de formação mais precoces, quando nos aproximamos das
etapas finais de formação, será necessário pisos mais estáveis, pois, a intensa
componente tática de treino e jogo assim o exige.
Considerando que a esmagadora
maioria das competições, ao nível do futebol profissional, se desenrolam em
campos de relva natural, se estivermos a falar de um clube de formação, que tem
a intenção de colocar no plantel sénior os jogadores provenientes da sua
formação, penso que se justifica que o
escalão júnior (pré-profissional), seja realizado maioritariamente em relva
natural.
FRASE DA SEMANA: “A adversidade desperta em nós capacidades
que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” (Horácio)
Artigo publicado no Jornal
Tribuna Desportiva de 27.11.2012
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