domingo, 2 de dezembro de 2012

Pelado e relvado: influência no percurso formativo


Segundo alguns investigadores na área do futebol, é fundamental que em escalões de formação, se dê oportunidade aos praticantes de vivenciarem vários tipos de condicionantes, nomeadamente, diferentes tipos de bolas, diferentes tipos de pisos, diferentes tipos de equipamentos. Esta variabilidade de materiais levará a que o jovem desportista tenha a necessidade de se adaptar à instabilidade, otimizando assim a sua relação com a bola. “É fundamental em idades mais tenras proporcionar aos jovens jogadores essas diferenças de pisos, para melhorarem a relação com a bola, dado que essas idades são uma etapa crucial para o seu desenvolvimento.” (Frade, 2008).

Considerando que as competições nos diferentes escalões são realizadas nos diferentes tipos de piso, relva natural, relva sintética e pelado, o jovem jogador deverá ter a capacidade de se adaptar, obtendo rendimento em qualquer um dos pisos. Um jogador talentoso deverá revelar uma boa apetência para disputar o jogo, independentemente das condições onde se desenrola.

Ainda reforçando a ideia anterior, deixo aqui a opinião de Cruyff (2002) que considera “…as razões da falta de qualidade técnica de muitos jogadores está associada ao local onde aprendem a jogar futebol”. O ex-jogador refere ainda, que a “…Academia mais popular para desvendar os segredos do futebol era a rua, onde as carências eram supridas com a imaginação e ilusão.”

Não quero com isto passar a ideia de que o pelado é o piso ideal para a formação de jogadores, até porque, a nível de conforto e higiene, nomeadamente poeira no verão e lama no inverno, em nada beneficiam o desenvolvimento das capacidades futebolísticas dos jovens jogadores. Estou de acordo, que a relva sintética é um piso por excelência para que os jovens treinem com qualidade. No entanto, considero fundamental colmatar a ausência do futebol com caraterísticas de rua, para que o praticante seja forçado a desenvolver as suas apetências em contextos instáveis, tendo o treinador a obrigação de criar essas condições de instabilidade, mesmo quando treina na relva, quer seja ela natural ou sintética. Segundo Lobo, (2007), “…se pensarmos na origem dos melhores jogadores do mundo, neles não existem grandes academias, campos relvado e botas fantásticas.”

Se por um lado é necessário instabilidade, nas fases de formação mais precoces, quando nos aproximamos das etapas finais de formação, será necessário pisos mais estáveis, pois, a intensa componente tática de treino e jogo assim o exige.

Considerando que a esmagadora maioria das competições, ao nível do futebol profissional, se desenrolam em campos de relva natural, se estivermos a falar de um clube de formação, que tem a intenção de colocar no plantel sénior os jogadores provenientes da sua formação, penso  que se justifica que o escalão júnior (pré-profissional), seja realizado maioritariamente em relva natural.

FRASE DA SEMANA: “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” (Horácio)

Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 27.11.2012

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