segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Princípios Organizacionais de um Clube de Futebol

Sabemos de antemão que a utilização de jogadores de formação é mais rentável, comparativamente com a aquisição de jogadores já formados e com experiência competitiva profissional. Normalmente os jogadores provenientes de fora, acarretam custos com cláusulas de transferência, ordenados mais volumosos, tempo de adaptação, etc. Quando se recorre a jogadores de formação para integrar os planteis séniores, baixa-se os custos, para além de se rentabilizar o investimento que os clubes fazem nos escalões mais jovens.
Para que isto aconteça a organização do clube deve estar bem preparada, no sentido de articular todos os seus escalões, para que haja uma lógica progressiva, no cumprimento de objetivos das diferentes etapas que o jogador deve superar, até chegar à equipa onde sempre sonhou atuar, a equipa sénior. O projeto de um clube de futebol deve contemplar “um modelo de jogo que, por sua vez, orientará a conceção de um modelo de treino, de um complexo de exercícios, de um modelo de jogador e mesmo de um modelo de treinador.” Leal & Quinta (2001). Acrescento o exemplo que refere Giráldez (2010) “…o Real Madrid forma os seus próprios técnicos, através de sessões onde se explicam e clarificam um conjunto de conceitos, isto também tendo em vista a unificação dos critérios dos treinadores.” Hoje em dia, só com uma organização bem estruturada, se consegue que os jogadores de um clube, ganhem a tão desejada identidade, à semelhança do que acontece nos clubes de referência, na área da formação e integração de jogadores em carreiras profissionais.
Alerto também para o facto da formação de jogadores, não poder ser confundida com a formatação de jogadores! Quando tornamos modelos de jogo, modelos de treino, modelos de exercícios… demasiado estaques e invariáveis, proporcionar-se-á uma formatação do jogador. No futuro, esta formatação inibirá a capacidade do jogador se adaptar a outro clube, a outro treinador, a outro modelo de jogo, etc. Acrescento ainda que esta capacidade de adaptação é frequentemente posta à prova, ao longo da carreira de qualquer jogador profissional. Assim sendo, torna-se necessário proporcionar momentos suficientemente ricos em variabilidade, mas sólidos em princípios orientadores
Mas nem só da organização do jogo depende a formação de um clube de futebol! A preocupação com as capacidades psicológicas, torna-se imprescindível. José Mourinho refere mesmo que tem prazer em “encontrar um jogador com debilidades táticas, receber um jogador cru a nível tático. Mas não tem pachorra para jogadores com debilidades psicológicas ao nível do sacrifício, da crença e da entrega.” Neste sentido o clube deve ter a capacidade de conhecer e caraterizar os seus jogadores, estabelecendo estratégias de atuação individuais, para potenciar de forma diferenciada as suas capacidades psicológicas.
Outro aspeto que considero vital, é que o clube forme Homens que jogam futebol. O que quero dizer com isto? Quero dizer que a responsabilidade de formação é integral e não apenas futebolística! Segundo José Carvalho (2002) “a cobertura mediática realizada aos futebolistas profissionais torna muito atraente esta carreira para os jovens jogadores. No entanto, esta opção, por vezes, tem como consequência a falência da carreira académica, o que se revela negativo, principalmente se o jovem por qualquer motivo não atinge o profissionalismo.” Diria eu, que é normal que o jovem não atinja o profissionalismo pelos mais diversos motivos, pois no mercado português não há muito espaço para lançar jogadores. Neste sentido, é também responsabilidade do clube assegurar as condições de formação integral do jovem, proporcionando que o seu futuro tenha alguma margem de segurança. Importante ressalvar que o desenvolvimento cognitivo, propiciará uma melhor capacidade de interagir com os mais diversos contextos onde um jogador de futebol tem de interagir. Segundo Mil-Homens (2004) “as pessoas cultas e melhor formadas pensam, entendem e desempenham melhor qualquer atividade.”
REMATE DA SEMANA: “A formação é um processo longo e onde o tempo coloca cada jogador no seu lugar” Giraldez
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 2.01.2013

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