sábado, 9 de novembro de 2013

Desporto, um nobre instrumento de inclusão social


Todos nós sabemos que a prática desportiva tem grandes benefícios para o praticante. Mas também sabemos que muitas vezes nos esquecemos que apresenta grandes vantagens ao nível da sociedade onde o praticante se insere. A inclusão social é um aspeto que pode ser trabalhado através do desporto. Este reconhecimento do desporto como um nobre instrumento de inclusão social, é realizado por grandes organizações mundiais. Por exemplo, a alínea H.2 da resolução do Parlamento Europeu sobre Desenvolvimento e Desporto aprovada em Dezembro de 2005 “salienta as valiosas funções educativas e sociais do desporto... em termos da sua capacidade para promover valores sociais como o espírito de equipa, a competição leal, a cooperação, a tolerância e a solidariedade”.

Se analisarmos também os valores mais altos do desporto que estão estabelecidos nos ideais olímpicos, verificamos que constam o “fair play”, intercâmbio cultural, igualdade, tradição, honra, paz e a solidariedade que sustentam o objetivo de “unir o mundo”, valores que possuem uma forte associação à harmonia social.

São estes valores que permitem olhar para o desporto como um fantástico instrumento de inserção social. Sempre que a prática desportiva seja devidamente orientada, permite que os valores referidos sejam levados para a vida social. Sabemos que entre excluídos e pessoas que tendem a excluir, existe uma relação de reciprocidade. Tendo em conta que o desporto é uma atividade que exige trabalho cooperativo dentro de uma equipa, sendo que, isto se nota com maior relevo nos desportos coletivos, para que haja êxito desportivo, é necessário que a relação que se estabelece seja de certa forma próxima e até cúmplice. Assim, leva a que aquele que tem tendência a excluir o outro, seja conduzido a aceitá-lo através de uma força motivacional positiva, permitindo também a integração de elementos que à partida seriam excluídos, eliminando de certa forma barreiras ou preconceitos. Sob o ponto de vista do elemento que é excluído, que normalmente é identificado como um elemento desrespeitador das normas sociais, a dinâmica estabelecida com outros elementos, ajuda-o a alterar os seus comportamentos, permitindo a assimilação de valores, em que o desporto é exímio em retratá-los.

Podemos assumir claramente que o desporto promove o desenvolvimento de capacidades com grande transferibilidade para o dia-a-dia, nomeadamente o autocontrolo emocional, aceitação das regras partilhadas, o respeito pelo outro, a persecução dos objetivos, a necessidade de cumprimento de prazos, a resolução de problemas, a necessidade da comunicação, aprender a lidar com sucessos e com fracassos, o trabalho em equipa, entre outros. Considero estes importantes fatores que inibem os comportamentos de exclusão social, atuando diretamente sobre cada desportista, mas tendo um evidente resultado na comunidade onde se relaciona.

Para além de tudo isto, é fundamental perceber que o desporto por si só nada faz no que à inclusão social diz respeito. É um importante instrumento, assumo que sim, mas existe uma série de condicionantes que deverão ser controladas para que seja bem sucedido.

Lamenta-se que apesar do reconhecimento desta grande potencialidade do desporto por grandes instituições de dimensão mundial, que ao nível local, salvo raras exceções, poucas vezes este seja utilizado como meio de harmonizar relações em bairros problemáticos, incluir pessoas com deficiência, equilibrar relações entre elementos de diferentes classes sociais, promover a igualdade, entre outros.

REMATE DA SEMANA: “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.” Karl Marx
 
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 22.10.2013

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