Todos nós sabemos que a prática
desportiva tem grandes benefícios para o praticante. Mas também sabemos que
muitas vezes nos esquecemos que apresenta grandes vantagens ao nível da
sociedade onde o praticante se insere. A inclusão social é um aspeto que pode
ser trabalhado através do desporto. Este reconhecimento do desporto como um
nobre instrumento de inclusão social, é realizado por grandes organizações
mundiais. Por exemplo, a alínea H.2 da resolução do Parlamento Europeu sobre
Desenvolvimento e Desporto aprovada em Dezembro de 2005 “salienta as valiosas funções educativas e sociais do desporto... em
termos da sua capacidade para promover valores sociais como o espírito de
equipa, a competição leal, a cooperação, a tolerância e a solidariedade”.
Se analisarmos também os valores mais altos do desporto que estão
estabelecidos nos ideais olímpicos, verificamos que constam o “fair play”,
intercâmbio cultural, igualdade, tradição, honra, paz e a solidariedade que
sustentam o objetivo de “unir o mundo”, valores que possuem uma forte
associação à harmonia social.
São estes valores que permitem olhar para o desporto como um
fantástico instrumento de inserção social. Sempre que a prática desportiva seja
devidamente orientada, permite que os valores referidos sejam levados para a
vida social. Sabemos que entre excluídos e pessoas que tendem a excluir, existe
uma relação de reciprocidade. Tendo em conta que o desporto é uma atividade que
exige trabalho cooperativo dentro de uma equipa, sendo que, isto se nota com
maior relevo nos desportos coletivos, para que haja êxito desportivo, é
necessário que a relação que se estabelece seja de certa forma próxima e até
cúmplice. Assim, leva a que aquele que tem tendência a excluir o outro, seja conduzido
a aceitá-lo através de uma força motivacional positiva, permitindo também a
integração de elementos que à partida seriam excluídos, eliminando de certa
forma barreiras ou preconceitos. Sob o ponto de vista do elemento que é
excluído, que normalmente é identificado como um elemento desrespeitador das
normas sociais, a dinâmica estabelecida com outros elementos, ajuda-o a alterar
os seus comportamentos, permitindo a assimilação de valores, em que o desporto
é exímio em retratá-los.
Podemos assumir claramente que o desporto promove o
desenvolvimento de capacidades com grande transferibilidade para o dia-a-dia,
nomeadamente o autocontrolo emocional, aceitação das regras partilhadas, o
respeito pelo outro, a persecução dos objetivos, a necessidade de cumprimento
de prazos, a resolução de problemas, a necessidade da comunicação, aprender a
lidar com sucessos e com fracassos, o trabalho em equipa, entre outros.
Considero estes importantes fatores que inibem os comportamentos de exclusão
social, atuando diretamente sobre cada desportista, mas tendo um evidente
resultado na comunidade onde se relaciona.
Para além de tudo isto, é fundamental perceber que o desporto
por si só nada faz no que à inclusão social diz respeito. É um importante
instrumento, assumo que sim, mas existe uma série de condicionantes que deverão
ser controladas para que seja bem sucedido.
Lamenta-se que apesar do reconhecimento desta grande
potencialidade do desporto por grandes instituições de dimensão mundial, que ao
nível local, salvo raras exceções, poucas vezes este seja utilizado como meio
de harmonizar relações em bairros problemáticos, incluir pessoas com
deficiência, equilibrar relações entre elementos de diferentes classes sociais,
promover a igualdade, entre outros.
REMATE DA
SEMANA: “Não é a consciência do homem que lhe
determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a
consciência.” Karl Marx
Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 22.10.2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário