1. um treinador disse um dia que os grandes avançados, como os bons perfumes no mundo inteiro, vêm num frasco pequeno. Simão mede 1,70 m e Miccoli ainda tem menos dois centímetros."…“Simão e Miccoli são dois jogadores diferentes. Simão está sempre a pedir a bola, assume sempre as responsabilidades e é mais vertical e objectivo no seu jogo (mas cada vez mais forte nos duelos individuais). Miccoli é mais ocioso como todos os verdadeiros…” ...“O baixo centro de gravidade, como aconteceu a tantos antigos craques (Chalana, Frasco, se não quisermos subir ao nível de Maradona ou Puskas...), facilita-lhes o equilíbrio. E as pernas curtas permitem-lhes travar em menos espaço do que os adversários e acelerar em menos de um fósforo. Para os jogadores pequenos, segundo Jorge Valdano, o "corpo é geografia do escamoteio [no sentido de rodear o que embaraça], nunca um lugar de colisão". Miccoli e principalmente Simão são assim, são daqueles predestinados que conseguem surpreender com uma mudança de ritmo ou de direcção.”
(Prata, B; Público; p. 37; 2.03.2007)
Como consumidores críticos da imprensa portuguesa, não podemos deixar passar este tipo de análises relativas à actividade desportiva, sem dar a nossa opinião. Com todo o respeito pela classe profissional dos jornalistas e pelo próprio autor deste artigo, é nosso dever exigir análises desportivas com maior qualidade! A imprensa tem uma enorme responsabilidade pública na formação dos cidadãos, é ela uma das grandes responsáveis pelo aumento do nível de conhecimentos da população em geral.
Pensamos que a análise das características dos jogadores citados, poderia ir um pouco mais longe, ultrapassando a barreira das condicionantes antropométricas e a influência destas com a funcionalidade dos movimentos dos desportistas (aceleração, travagem,…). Não pretendo dizer que a altura seja uma variável pouco importante, mas para aumentar a qualidade da informação disponibilizada aos leitores, se queremos falar desta variável (altura), seria fundamental referenciar os “prós e contras” do facto dos avançados serem altos ou baixos, isto para que a mensagem passada não se assemelhe a uma “receita secreta” de que quanto mais baixo melhor, ajudando também o consumidor do produto desporto a ter uma maior capacidade de análise, quando está a desfrutar de um espectáculo desportivo.
Como profissionais das Ciências do Desporto, temos de discordar com este tipo de mensagem. Podia estar aqui a referir inúmeros exemplos de avançados de nível internacional que facilmente refutava a relação: (<> qualidade do avançado). Mais, para fazer uma análise deste tipo, não podemos olhar só para o nosso fantástico cantinho (PORTUGAL), devemos olhar para todo o mundo!
Veja-se alguns exemplos:
-Adriano Leite Ribeiro: 1,89m
- Ronaldo Luiz Nazário de Lima: 1,83m
- Didier Drogba: 1.88m
- Ruud van Nistelrooy: 1, 89
- etc.
“O grandes frascos de perfume também têm valor!!!”
Será que não seria tão ou mais importante referir outras capacidades nos desportistas de carácter humano, como por exemplo, a capacidade de tomada de decisão, função que desempenha na equipa, como é que a personalidade do desportista influência a dinâmica de grupo, a sua capacidade de controlar a bola na relação com os colegas e adversários, …
“Puxando a brasa à nossa sardinha”, profissionais de Ciências do Desporto, pensamos que seria importante os jornalistas se juntarem a profissionais das áreas de conhecimento que dão ênfase nos seus artigos, formando equipas transdisciplinares, para que possam assim melhorar a qualidade dos mesmos artigos pois, como referi anteriormente, os profissionais da comunicação social, têm uma grande responsabilidade na formação dos consumidores dos seus produtos.
Nota 1: pode consultar o artigo integral em: http://jornal.publico.clix.pt/magoo/noticias.asp?a=2007&m=03&d=02&uid=&id=178375&sid=36008
Nota 2: Como sinal de respeito pela classe dos jornalistas iremos enviar este post ao jornalista Bruno Prata (autor do artigo), e também iremos convidá-lo a visitar o nosso blogue.
João Sá Pinho
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