domingo, 11 de novembro de 2012

Atividades complementares para as crianças…


A crise obriga a fazer contas de “sumir”!

Atualmente, as atividades destinadas às crianças, como oferta complementar à formação dada pelas escolas, são uma realidade bastante presente na vida de alunos e encarregados de educação. O leque de atividades que a nossa sociedade nos vai proporcionando é cada vez maior, mobilizando as famílias, no sentido de complementar o trabalho realizado pelos estabelecimentos de ensino e agregado familiar, através de momentos lúdicos de aprendizagem, valorização pessoal e académico. A música, a natação, o karaté, a dança, o futebol, a pintura… são algumas das atividades, que obrigam pais e filhos a negociações intra familiares, para a decisão de escolha, da(s) atividade(s) a frequentar. Esta negociação torna-se fundamental, pois o leque de escolha aumentou de tal forma, que proporcionar a frequência de todas as atividades consideradas atrativas, é uma opção impossível de concretizar. Muitas vezes a pressão social e as tentações para que a criança frequente este tipo de atividades é tão grande, que se proporciona ocupação de tempo pós curricular para além do aconselhado. Não esqueçamos que a criança necessita de tempo para si, como por exemplo para inventar as suas próprias brincadeiras, ou simplesmente para estar de forma livre em ambiente familiar.

Mas a crise está a mudar a visão das famílias em relação a estas atividades!

A certa altura, em conversa com uma criança de 10 anos, perguntava porque é que ela tinha desistido de uma atividade desportiva que até então frequentava. A resposta da criança foi pronta e consciente: “ porque a minha mãe ficou desempregada!” A criança educada, revelou alguma tristeza por não frequentar a atividade de que gostava, mas admiravelmente evidenciou compreensão perante a situação, afinal um dos elementos da sua “equipa” afetiva ficou sem emprego.

Quero dizer com isto que este momento que atravessa o país, vai exigir a muitas famílias, uma adaptação significativa de hábitos, pois como o dinheiro não estica, terão de se fazer opções. Sob o meu ponto de vista, as crianças a partir de uma certa idade, não poderão ser isoladas destes problemas, sendo fundamental que se explique as dificuldades e a importância de estabelecer prioridades, proporcionando a aquisição de instrumentos básicos de gestão!

O que muitas crianças tendem a perder?

Este tipo de atividades, nas doses corretas e sendo escolhidas tendo em conta as necessidades e motivações das crianças/família, tem uma relevante importância, nomeadamente:

- No facto de proporcionar momentos de convivência com outras crianças fora do contexto escola;

- Proporcionar uma abertura de horizontes culturais e sociais das crianças, expondo-as a culturas e temáticas diferentes;

- Um complemento ao desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças;

- Devido à transversalidade de conteúdos, proporcionam um aumento do leque de conhecimentos em diferentes áreas, cada vez mais importante no dia-a-dia;

- Entre muitas outras…

A responsabilidade não será de quem está a proporcionar este momento?

Gostaria de deixar aqui a seguinte ideia do investigador Leandro Almeida, presidente do Instituto de Educação da Universidade do Minho: "não se consegue formar crianças felizes e ajudá-las a ter projetos de vida, se se limitar a formação exclusivamente à aprendizagem básica". Assim, se as famílias deixarem de conseguir proporcionar a música, a natação, o karaté, a dança, o futebol, a pintura… alguém vai ter de encontrar uma solução! Segundo o n.º 2 do Art.º 73 co Capítulo III da Constituição Portuguesa “O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva.”

O que existe é bom mas não chega!

Muitos poderão ficar iludidos, anunciando que as Atividades de Enriquecimento Curricular são o desejado complemento! Realmente têm uma elevada importância, mas não podem ser vistas como o fim! Se analisar cuidadosamente, são atividades complementares, mas pouco específicas para a vontade de especialização de algumas crianças e famílias, não se podendo substituir à aprendizagem p. ex. de um instrumento musical específico ou mesmo à prática de uma modalidade específica. Hoje, sem pagar uma mensalidade, poucas ou nenhumas crianças têm acesso à natação, ao piano, ao karaté, ao futebol à pintura etc. E eu pergunto: Todas as famílias têm condições de pagar essas mensalidades?… Se a igualdade de oportunidades está mencionada na Constituição, todas as crianças motivadas para tal, não deveriam ter acesso a uma carreira de Picasso, Mozart, Cristiano Ronaldo, Michael Phelps… Quem tem de proporcionar isso? Pergunto eu!

REMANTE DA SEMANA: “A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato.” Honoré de Balzac

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 6.11.2012

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