Para
iniciar este artigo transcrevo uma carta de uma criança ao seu pai, que tive
oportunidade de conhecer através do facebook do Chutalbi – Escola de Futebol.
Pela informação que temos, foi retirada do site do Atlético de Cacém, mas
apresenta uma aplicabilidade universal. Quantos clubes em Portugal não devem
ter jovens jogadores com um sentimento semelhante ao autor desta carta!
"Pai
que estás a fazer? Não sei como te dizer!? Certamente achas que o fazes para
meu bem, mas não consigo deixar de me sentir estranho, incomodado, mal.
Ofereceste-me a bola quando ainda estava a aprender a andar. Ainda não andava
na escola quando me inscreveste no clube. Gosto de treinar durante a semana,
brincar com os colegas e jogar ao domingo, com fazem os mais velhos. Mas quando
vais aos jogos... não sei. Já não é como dantes. Agora não me dás uma palmada
quando o jogo acaba, nem me convidas para tomar qualquer coisa. Vais até à
"bancada" pensando que são todos teus inimigos. Insultas os árbitros,
os treinadores, os jogadores, ou outros pais... Porque mudaste? Acho que sofres
e não compreendo. Dizes-me que sou o melhor, que os outros não valem nada ao
meu lado, que quem disser o contrário está enganado e que só ganhar é que
conta. O treinador que dizes que é incompetente, é meu amigo, foi ele que me
ensinou a divertir enquanto jogo. O rapaz que no outro dia jogou no meu
lugar... lembras-te? Sim pai, aquele que criticaste durante toda a tarde,
dizendo que "não serve nem para levar o saco das bolas". Esse rapaz é
da minha turma, na segunda-feira, quando o vi, fiquei com vergonha. Não quero
dececionar-te. Às vezes penso que não sou suficientemente bom, que não vou chegar
a profissional e ganhar muitos milhões, como tu queres. Sufocas-me. Até já
pensei deixar de jogar, mas... Gosto muito! Pai, por favor, não me obrigues a
pedir-te para não vires ver os meus jogos."
Para
consolidar a ideia que se pretende transmitir, deixo a seguir algumas
referências de uma entrevista dada por Rui Costa ao Jornal Expresso. Com
certeza que o ex. futebolista passou por todo um trajeto que lhe dá
legitimidade para opinar sobre o assunto.
“Há famílias que pressionam os filhos para
que sejam futebolistas. Em jogos há pais que chegam a gritar de forma doentia... É o maior erro que se pode cometer, incutir nos miúdos a ideia que têm
de ser jogadores de futebol e craques. Ouvir os pais a dar instruções aos
filhos num campo é, até, uma falta de respeito para com o treinador. Em todas
as equipas do mundo, há uma pessoa que está à frente: o treinador. É ele que
terá de fazer com que os jogadores cresçam. Com um pai impulsivo, a
intrometer-se no processo de evolução do jovem futebolista, obrigando a criança
a ser jogador, a história acaba sempre mal."
Talvez
sejam duas opiniões que deveriam ser lidas por todos os pais, que exigem
desequilibradamente dos seus filhos. A maioria das crianças vê a atividade
desportiva como um momento de lazer e não como uma fonte de alimentação dos
egos dos adultos!
FRASE
DA SEMANA: “O respeito pelos pais só
resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos.” Raúl Brandão
Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 29.01.2013
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