domingo, 14 de abril de 2013

Filho tens de ser Campeão!

Para iniciar este artigo transcrevo uma carta de uma criança ao seu pai, que tive oportunidade de conhecer através do facebook do Chutalbi – Escola de Futebol. Pela informação que temos, foi retirada do site do Atlético de Cacém, mas apresenta uma aplicabilidade universal. Quantos clubes em Portugal não devem ter jovens jogadores com um sentimento semelhante ao autor desta carta!
 
"Pai que estás a fazer? Não sei como te dizer!? Certamente achas que o fazes para meu bem, mas não consigo deixar de me sentir estranho, incomodado, mal. Ofereceste-me a bola quando ainda estava a aprender a andar. Ainda não andava na escola quando me inscreveste no clube. Gosto de treinar durante a semana, brincar com os colegas e jogar ao domingo, com fazem os mais velhos. Mas quando vais aos jogos... não sei. Já não é como dantes. Agora não me dás uma palmada quando o jogo acaba, nem me convidas para tomar qualquer coisa. Vais até à "bancada" pensando que são todos teus inimigos. Insultas os árbitros, os treinadores, os jogadores, ou outros pais... Porque mudaste? Acho que sofres e não compreendo. Dizes-me que sou o melhor, que os outros não valem nada ao meu lado, que quem disser o contrário está enganado e que só ganhar é que conta. O treinador que dizes que é incompetente, é meu amigo, foi ele que me ensinou a divertir enquanto jogo. O rapaz que no outro dia jogou no meu lugar... lembras-te? Sim pai, aquele que criticaste durante toda a tarde, dizendo que "não serve nem para levar o saco das bolas". Esse rapaz é da minha turma, na segunda-feira, quando o vi, fiquei com vergonha. Não quero dececionar-te. Às vezes penso que não sou suficientemente bom, que não vou chegar a profissional e ganhar muitos milhões, como tu queres. Sufocas-me. Até já pensei deixar de jogar, mas... Gosto muito! Pai, por favor, não me obrigues a pedir-te para não vires ver os meus jogos."
 
Para consolidar a ideia que se pretende transmitir, deixo a seguir algumas referências de uma entrevista dada por Rui Costa ao Jornal Expresso. Com certeza que o ex. futebolista passou por todo um trajeto que lhe dá legitimidade para opinar sobre o assunto.
 
Há famílias que pressionam os filhos para que sejam futebolistas. Em jogos há pais que chegam a gritar de forma doentia... É o maior erro que se pode cometer, incutir nos miúdos a ideia que têm de ser jogadores de futebol e craques. Ouvir os pais a dar instruções aos filhos num campo é, até, uma falta de respeito para com o treinador. Em todas as equipas do mundo, há uma pessoa que está à frente: o treinador. É ele que terá de fazer com que os jogadores cresçam. Com um pai impulsivo, a intrometer-se no processo de evolução do jovem futebolista, obrigando a criança a ser jogador, a história acaba sempre mal."
 
Talvez sejam duas opiniões que deveriam ser lidas por todos os pais, que exigem desequilibradamente dos seus filhos. A maioria das crianças vê a atividade desportiva como um momento de lazer e não como uma fonte de alimentação dos egos dos adultos!
 
FRASE DA SEMANA: “O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos.” Raúl Brandão

Artigo Publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 29.01.2013

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