Para meu espanto, a minha opinião foi tida em conta pelo redactor principal da secção de desporto do jornal Público, resultando num artigo neste meio de comunicação social de dimensão nacional, o que me faz sentir um privilegiado!
Podemos constatar em post’s anteriores, publicados no nosso blogue “treino&ciência”, um diálogo entre mim (João Sá Pinho) e Bruno Prata, onde o tema principal incide sobre a estatura dos jogadores de futebol avançados. Este artigo vem no seguimento desse mesmo diálogos.
Antes de passar para a leitura do artigo, gostaria de referir que existe um lapso quando o autor refere que sou doutorado, pois estou no início do percurso, faltando-me muito para o completar. Portando onde está escrito doutorado, deverá ler-se doutorando.
"1. João Sá Pinho, um leitor habilitado na matéria (de facto, é mesmo doutorado em Metodologia de Treino Desportivo), enviou um e-mail a rebater a minha teoria de que alguns jogadores de baixa estatura, como Simão ou Miccoli, conseguem ser melhores entre os bons, designadamente porque sabem tirar partido do seu centro de gravidade baixo. Argumenta que há outros factores decisivos no desempenho de um futebolista. É verdade e alguma coisa terá falhado para que um especialista concluísse que só valorizámos a vertente antropométrica e, mesmo aí, em favor dos "baixinhos". Felizmente que não foi preciso esperar muito para ter a oportunidade de repor as coisas no devido lugar. Bastou, de facto, assistir aos jogos da Liga dos Campeões e observar as exibições de Cristiano Ronaldo (1,87 m de altura) e Drogba (1,88 m), provavelmente os dois jogadores mais determinantes e mágicos que o futebol nos tem oferecido esta temporada.Nem um nem outro marcaram, desta vez, quaisquer golos. Mas foi muito à custa do português que o Manchester bateu o Lille. Recordemos: Cristiano recebeu a bola junto à linha, acariciou-a primeiro com a sola das chuteiras, transportou-a a seguir com toques ligeiros, depois arrancou como uma flecha enquanto deixava para trás dois adversários surpreendidos com o seu correr de pernas altas e passinhos estranhamente curtos e, finalmente, utilizou a cabeça de Larsson para tabelar a bola para o fundo da baliza - é uma imagem exagerada, claro, mas não foi por acaso que o sueco e os restantes colegas correram de imediato para um Cristiano sentado nos calcanhares enquanto mirava as bancadas com aquele olhar apoteótico que fez lembrar os tempos em que Cantona levantava as golas da mesma camisola sete.Drogba foi o mais castigado no Chelsea-FC Porto (sofreu cinco faltas). Normal. Mas foi também o mais faltoso (quatro), o que já é menos normal e ajuda a explicar por que muitos o consideram o paradigma do atacante total e o melhor número 9 da actualidade. Quando, há cerca de um ano, se dizia que José Mourinho queria contratar Eto"o e que, para isso, até poderia convencer o Barcelona oferecendo em troca Drogba, desconfiámos que o negócio jamais se faria. Porque Drogba, tal como Terry e Lampard, tem o ADN e a cultura vencedora que permitem a Mourinho fazer do Chelsea uma máquina por vezes monótona, mas quase sempre trituradora. É isso que o costa-marfinense mostra quando ganha todos os lances aéreos na área adversária (como no golo de Ballack frente ao FC Porto) ou quando, logo a seguir, está na sua defesa a anular um canto. Um carácter que começou a forjar quando jogava no Le Mans (II Divisão francesa), onde nem era titular, e teve de ultrapassar as fracturas no pé e no perónio. Num ápice, os seus golos chamaram a atenção do Marselha, que pagou por ele seis milhões de euros ao Guingamp, bem menos que os 37,5 milhões que Mourinho quis que Abramovich desembolsasse para o ter em Stamford Bridge. É muito? Talvez, mas pouco se tivermos em conta os golos que marca e dá a marcar e menos ainda se o compararmos com Schevchenko, que custou mais (44,5 milhões de euros) e que ainda é tratado pelos companheiros por 007, por ter a fama de ser o espião do patrão russo no balneário. É, por isso, inverosímil que Mourinho alguma vez trocasse Drogba por Eto"o, um avançado igualmente extraordinário, mas dono de uma cabeça egoísta e algo destrambelhada, o oposto do que Mourinho valoriza. Mas perguntem a Mourinho se não gostaria de ter Cristiano Ronaldo... Venha ele!, diria imediatamente. Porque há sempre lugar para um jogador-multifunções, capaz do belo e do eficaz e que, ainda por cima, junta o querer e a ambição que fazem parte da cartilha do técnico português. O problema de Mourinho (e de tantos outros) é que Ferguson também sabe isso.Tivessem o Barcelona e o Arsenal (as duas equipas na actualidade que mais mimam a bola) jogadores desta estirpe e provavelmente não iriam ver os quartos-de-final do sofá. Mas o Barça de Rijkaard, como alguém escreveu no El País, é uma equipa "guapa" e mais dada à cosmética do que à cicuta. Por isso, quando Ronaldinho & C.ª não interpretam devidamente a partitura, tornam-se apenas num conjunto de celebridades cheias de etiqueta e ao alcance de um Liverpool pragmático. Porque uma equipa é também um estado de alma.
Podemos constatar em post’s anteriores, publicados no nosso blogue “treino&ciência”, um diálogo entre mim (João Sá Pinho) e Bruno Prata, onde o tema principal incide sobre a estatura dos jogadores de futebol avançados. Este artigo vem no seguimento desse mesmo diálogos.
Antes de passar para a leitura do artigo, gostaria de referir que existe um lapso quando o autor refere que sou doutorado, pois estou no início do percurso, faltando-me muito para o completar. Portando onde está escrito doutorado, deverá ler-se doutorando.
"1. João Sá Pinho, um leitor habilitado na matéria (de facto, é mesmo doutorado em Metodologia de Treino Desportivo), enviou um e-mail a rebater a minha teoria de que alguns jogadores de baixa estatura, como Simão ou Miccoli, conseguem ser melhores entre os bons, designadamente porque sabem tirar partido do seu centro de gravidade baixo. Argumenta que há outros factores decisivos no desempenho de um futebolista. É verdade e alguma coisa terá falhado para que um especialista concluísse que só valorizámos a vertente antropométrica e, mesmo aí, em favor dos "baixinhos". Felizmente que não foi preciso esperar muito para ter a oportunidade de repor as coisas no devido lugar. Bastou, de facto, assistir aos jogos da Liga dos Campeões e observar as exibições de Cristiano Ronaldo (1,87 m de altura) e Drogba (1,88 m), provavelmente os dois jogadores mais determinantes e mágicos que o futebol nos tem oferecido esta temporada.Nem um nem outro marcaram, desta vez, quaisquer golos. Mas foi muito à custa do português que o Manchester bateu o Lille. Recordemos: Cristiano recebeu a bola junto à linha, acariciou-a primeiro com a sola das chuteiras, transportou-a a seguir com toques ligeiros, depois arrancou como uma flecha enquanto deixava para trás dois adversários surpreendidos com o seu correr de pernas altas e passinhos estranhamente curtos e, finalmente, utilizou a cabeça de Larsson para tabelar a bola para o fundo da baliza - é uma imagem exagerada, claro, mas não foi por acaso que o sueco e os restantes colegas correram de imediato para um Cristiano sentado nos calcanhares enquanto mirava as bancadas com aquele olhar apoteótico que fez lembrar os tempos em que Cantona levantava as golas da mesma camisola sete.Drogba foi o mais castigado no Chelsea-FC Porto (sofreu cinco faltas). Normal. Mas foi também o mais faltoso (quatro), o que já é menos normal e ajuda a explicar por que muitos o consideram o paradigma do atacante total e o melhor número 9 da actualidade. Quando, há cerca de um ano, se dizia que José Mourinho queria contratar Eto"o e que, para isso, até poderia convencer o Barcelona oferecendo em troca Drogba, desconfiámos que o negócio jamais se faria. Porque Drogba, tal como Terry e Lampard, tem o ADN e a cultura vencedora que permitem a Mourinho fazer do Chelsea uma máquina por vezes monótona, mas quase sempre trituradora. É isso que o costa-marfinense mostra quando ganha todos os lances aéreos na área adversária (como no golo de Ballack frente ao FC Porto) ou quando, logo a seguir, está na sua defesa a anular um canto. Um carácter que começou a forjar quando jogava no Le Mans (II Divisão francesa), onde nem era titular, e teve de ultrapassar as fracturas no pé e no perónio. Num ápice, os seus golos chamaram a atenção do Marselha, que pagou por ele seis milhões de euros ao Guingamp, bem menos que os 37,5 milhões que Mourinho quis que Abramovich desembolsasse para o ter em Stamford Bridge. É muito? Talvez, mas pouco se tivermos em conta os golos que marca e dá a marcar e menos ainda se o compararmos com Schevchenko, que custou mais (44,5 milhões de euros) e que ainda é tratado pelos companheiros por 007, por ter a fama de ser o espião do patrão russo no balneário. É, por isso, inverosímil que Mourinho alguma vez trocasse Drogba por Eto"o, um avançado igualmente extraordinário, mas dono de uma cabeça egoísta e algo destrambelhada, o oposto do que Mourinho valoriza. Mas perguntem a Mourinho se não gostaria de ter Cristiano Ronaldo... Venha ele!, diria imediatamente. Porque há sempre lugar para um jogador-multifunções, capaz do belo e do eficaz e que, ainda por cima, junta o querer e a ambição que fazem parte da cartilha do técnico português. O problema de Mourinho (e de tantos outros) é que Ferguson também sabe isso.Tivessem o Barcelona e o Arsenal (as duas equipas na actualidade que mais mimam a bola) jogadores desta estirpe e provavelmente não iriam ver os quartos-de-final do sofá. Mas o Barça de Rijkaard, como alguém escreveu no El País, é uma equipa "guapa" e mais dada à cosmética do que à cicuta. Por isso, quando Ronaldinho & C.ª não interpretam devidamente a partitura, tornam-se apenas num conjunto de celebridades cheias de etiqueta e ao alcance de um Liverpool pragmático. Porque uma equipa é também um estado de alma.
2. Ao fim de 15 anos, Figo despediu-se das provas europeias de clubes. Fê-lo de forma algo inglória, na eliminação do Inter de Milão em Valência, num jogo ainda por cima marcado pela vergonhosa sessão de pancadaria no relvado e nos corredores. Entre o dia 18 de Setembro de 1991, quando se estreou na Europa com a camisola do Sporting frente ao Dínamo de Bucareste, e a derradeira participação, Figo somou 136 jogos europeus (só Maldini tem mais) e conquistou uma Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental, uma Taça das Taças e uma Supertaça Europeia. Isto para além de galardões individuais e títulos em Espanha e Itália, onde está prestes a festejar mais um. Aquele que foi, pelo menos, o melhor jogador português desde Eusébio revela-se igual a si próprio na forma cerebral e fria como, aos poucos, se vai desligando do "circo futebolístico". Não se lhe notou pinga de emoção ou de nostalgia, mesmo quando anunciou que a alta competição já foi chão que deu uvas e que é tempo de ir à procura dos petrodólares nos árabes do Al-Ittihad. Tanta frieza atrapalha e até incomoda quem se habituou a admirá-lo e a aplaudi-lo. Mas Figo sempre foi assim. Um pragmático, acima de tudo.
3. Uma equipa de jornalistas da televisão britânica BBC esteve em Portugal a fazer uma reportagem sobre o trabalho que o Sporting desenvolve na formação. Efeitos "colaterais", está bom de ver, da dimensão internacional que ganharam Figo, Ronaldo, Quaresma, Simão e Hugo Viana. Para além de considerar que os "leões" estão ao nível da referência que sempre foi o Ajax, e que até lhe ganham nas infra-estruturas que a Academia de Alcochete agora oferece, a reportagem defende que os ingleses têm muito a aprender com o Sporting. O segredo está em não preferir os jovens avantajados, mas que não sabem controlar a bola, aos que só têm (ainda) palmo e meio, mas já mostram perícia e velocidade. Lá voltamos nós à vaca fria, não é, caro leitor João Sá Pinho?...
Jornalista (bprata@publico.pt)
P.S. - O nome desta rubrica semanal resulta de um neologismo surgido no início do século XX que falhou a tentativa de substituir a palavra inglesa football." (Prata, B., Público, 09.03.2007)
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Nota: Concordo integralmente quando o autor refere que preferir jogadores avantajados por si só de nada vale. Considero um jogador como uma pessoa que deve ter um conjunto de características e um conjunto de competências. Portanto deve ser visto como um todo. Por vezes até me apetece exclamar: “Pequeno ou grande tanto me faz!”, mas na verdade a altura é um factor a ter em conta, como muitos outros que fazem parto do todo.
Questão: Muitos clubes de formação, colocam as medidas antropométricas como uma variável demasiado importante na selecção dos seus jovens desportistas. Sem dúvida que por vezes fazem a diferença nas competições onde participam, e têm grande influência na obtenção de títulos desportivos. Mas quando se pensa: “é grande, com ele vamos ser campeões na formação!”, estamos, sem dúvida, a esquecermo-nos que o principal objectivo da formação é “construir” um percurso. Esta etapa da formação deve acabar quando o jovem atinge o nível sénior (não esquecendo que enquanto o Homem é um ser vivo está constantemente em formação), e aqui sim, num nível sénior, tem de se apresentar com as suas capacidades e competências bem desenvolvidas, para que possa ganhar campeonatos e ter rendimento!
Finalmente a questão: Será que quando optamos pelos “grandinhos” unicamente por serem “grandinhos”, não estamos a perder “baixinhos”, com mais potencial para virem a ser jogadores competentes?
Afirmação 1: Penso que um jogador de “TOP”, além de ter que saber tirar partido do seu centro de gravidade, deverá também saber tirar partido do centro de gravidade do adversário, pois da análise deste (CG) pode obter informações determinantes para uma tomada de decisão bem sucedida.
Questão: Muitos clubes de formação, colocam as medidas antropométricas como uma variável demasiado importante na selecção dos seus jovens desportistas. Sem dúvida que por vezes fazem a diferença nas competições onde participam, e têm grande influência na obtenção de títulos desportivos. Mas quando se pensa: “é grande, com ele vamos ser campeões na formação!”, estamos, sem dúvida, a esquecermo-nos que o principal objectivo da formação é “construir” um percurso. Esta etapa da formação deve acabar quando o jovem atinge o nível sénior (não esquecendo que enquanto o Homem é um ser vivo está constantemente em formação), e aqui sim, num nível sénior, tem de se apresentar com as suas capacidades e competências bem desenvolvidas, para que possa ganhar campeonatos e ter rendimento!
Finalmente a questão: Será que quando optamos pelos “grandinhos” unicamente por serem “grandinhos”, não estamos a perder “baixinhos”, com mais potencial para virem a ser jogadores competentes?
Afirmação 1: Penso que um jogador de “TOP”, além de ter que saber tirar partido do seu centro de gravidade, deverá também saber tirar partido do centro de gravidade do adversário, pois da análise deste (CG) pode obter informações determinantes para uma tomada de decisão bem sucedida.
Aqui está uma problemática ainda mais interessante!
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João Sá Pinho
4 comentários:
Parabéns Sá Pinho!!
Quando trabalhamos o nosso valor deve ser reconhecido... E tu conseguiste...
Desejo-te muita sorte para esta fase de trabalho que te espera!
beijo
Bárbara Lóio
Olha olha boas noticias!!
Parabéns rapaz, bom trabalho ;)
Abraço e continuação, nao conhecia este blog, está apontado!!
Abraço
João Carneiro
Caros colegas,
Agradeço todo o apoio, espero que continuem a visitar o nosso blogue e que contribuam para o seu desenvolvimento.
Abraço,
João Sá Pinho
Parabéns Sá Pinho,
Vi este blog no "Já Agora" e despertou-me curiosidade pois sou aficionado do desporto em geral e do futebol em particular.
Convido.te desde já para visitares a m/ Academia Morangos /Covilhã (Ernesto Cruz) , um conceito abrangente de ATL onde incluimos a promoção e desenvolvimento de várias modalidades desportivaspara crianças dos 4 aos 15 anos, sendo a última delas a abertura da Escola de Judo Nuno Delgado a 04 de Maio.
Contacta-me para carrovassoura@hotmail.com , para trocar algumas "impressões".
Abraço, e Parabéns uma vez mais :)
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