quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O grande brinquedo que a Sociedade roubou à Criança… a Rua


Quantos de nós não nos lembramos do tempo que passava-mos na rua. De entre muitas brincadeiras que nos ajudaram a crescer e desenvolver as nossas capacidades, o futebol e o berlinde eram as atividades que mais agradava os moços, o elástico e a macaca, as moças.

Com a evolução dos hábitos e costumes as crianças começaram a ser empurradas para dentro de casa. O aumento da criminalidade, a ausência de espaços exteriores de lazer, o desenvolvimento dos brinquedos tecnológicos e a falta de tempo dos encarregados de educação, condicionam as brincadeiras em total liberdade espácio-temporal. Mas não só! Sobretudo o zelo exagerado que desencadeia um sentimento de protecionismo desmedido e o excesso de atividades ditas organizadas ou institucionalizadas, impedem que a criança tenha tempo para se exprimir em total liberdade. Como refere o investigador Alberto Nídio Silva, hoje há “… uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo conectado com o mundo - o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos, nem vizinhos, nem amigos informais”, explica o especialista em sociologia infantil.

Outrora, a rua era um local privilegiado de aprendizagem. Neste espaço a criança podia brincar livremente, sem qualquer tipo de supervisão. Brincar a “céu aberto”, promovia o desenvolvimento do saber estar em liberdade, da autonomia, da criatividade, da capacidade de adaptação ao inesperado, da responsabilidade de estar por sua conta, da capacidade de partilha, do desenvolvimento da capacidade relacional, um gasto energético que reduzia o aparecimento da obesidade infantil, etc. Segundo o investigador Carlos Neto, hoje, “o único sitio que resta para brincar em liberdade é o recreio da escola”. Desculpem-me a expressão, mesmo assim o recreio da escola não o considero total liberdade, mas sim “liberdade condicional”.

Sinto saudades de sentir o barulho do espírito infantil, desencadeado pelo último toque da campainha, no final do dia de escola. Jogos como as escondidas, saltar à corda, saltar ao elástico, jogar à bola, jogar ao berlinde… Tudo tende a acabar! E muito se perderá com isso.

Muitos estudos estão a surgir no sentido de contrariar a tendência de empurrar as crianças para as brincadeiras estáticas e individuais. Nas cidades mais evoluídas, estão a ser formadas equipas multidisciplinares, para que sejam tomadas medidas de promoção da brincadeira pelo jogo livre. Segundo Carlos Neto, a“…transformação dos espaços urbanos têm vindo a colocar o problema da conceção e implementação de áreas especiais no ambiente construído, ambientes projetados nos quais a criança tenha ocasião de explorar, crescer, adaptar-se e construir-se pessoal e socialmente através do jogo. Um espaço de jogo é mais que um espaço físico.” Esperamos que pegue moda e que chegue a todo lado! As crianças precisam de brincar livremente para crescer. Felizmente cá no interior, as crianças ainda podem disfrutar de espaços que permitem brincadeiras ao ar livre, de forma segura e equilibrada!

 Uma boa semana! Se tiver filhos, pense, de que forma lhe pode proporcionar espaços e tempos de brincadeira apropriados! Aproveite e divirta-se com ele! Existem tantas alternativas! Faça-o por ele e também por si…

 FRASE DA SEMANA "Não se deve interromper a concentração de uma criança que está a brincar"  (Nylse Cunha)

 Artigo publicado no Jornal Tribuna Desportiva de 2.10.2012