Quantos de nós não nos lembramos do
tempo que passava-mos na rua. De entre muitas brincadeiras que nos ajudaram a
crescer e desenvolver as nossas capacidades, o futebol e o berlinde eram as
atividades que mais agradava os moços, o elástico e a macaca, as moças.
Com a evolução dos hábitos e costumes
as crianças começaram a ser empurradas para dentro de casa. O aumento da
criminalidade, a ausência de espaços exteriores de lazer, o desenvolvimento dos
brinquedos tecnológicos e a falta de tempo dos encarregados de educação,
condicionam as brincadeiras em total liberdade espácio-temporal. Mas não só! Sobretudo
o zelo exagerado que desencadeia um sentimento de protecionismo desmedido e o
excesso de atividades ditas organizadas ou institucionalizadas, impedem que a
criança tenha tempo para se exprimir em total liberdade. Como refere o
investigador Alberto Nídio Silva, hoje há “…
uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo
conectado com o mundo - o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É
certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos,
nem vizinhos, nem amigos informais”, explica o especialista em sociologia
infantil.
Outrora, a rua era um local privilegiado
de aprendizagem. Neste espaço a criança podia brincar livremente, sem qualquer
tipo de supervisão. Brincar a “céu aberto”, promovia o desenvolvimento do saber
estar em liberdade, da autonomia, da criatividade, da capacidade de adaptação
ao inesperado, da responsabilidade de estar por sua conta, da capacidade de
partilha, do desenvolvimento da capacidade relacional, um gasto energético que
reduzia o aparecimento da obesidade infantil, etc. Segundo o investigador Carlos
Neto, hoje, “o único sitio que resta para
brincar em liberdade é o recreio da escola”. Desculpem-me a expressão,
mesmo assim o recreio da escola não o considero total liberdade, mas sim “liberdade condicional”.
Sinto saudades de sentir o barulho do
espírito infantil, desencadeado pelo último toque da campainha, no final do dia
de escola. Jogos como as escondidas, saltar à corda, saltar ao elástico, jogar
à bola, jogar ao berlinde… Tudo tende a acabar! E muito se perderá com isso.
Muitos estudos estão a surgir no
sentido de contrariar a tendência de empurrar as crianças para as brincadeiras
estáticas e individuais. Nas cidades mais evoluídas, estão a ser formadas
equipas multidisciplinares, para que sejam tomadas medidas de promoção da
brincadeira pelo jogo livre. Segundo Carlos Neto, a“…transformação dos espaços urbanos têm vindo a colocar o problema da
conceção e implementação de áreas especiais no ambiente construído, ambientes
projetados nos quais a criança tenha ocasião de explorar, crescer, adaptar-se e
construir-se pessoal e socialmente através do jogo. Um espaço de jogo é mais
que um espaço físico.” Esperamos que pegue moda e que chegue a todo lado!
As crianças precisam de brincar livremente para crescer. Felizmente cá no
interior, as crianças ainda podem disfrutar de espaços que permitem brincadeiras
ao ar livre, de forma segura e equilibrada!
2 comentários:
Muito bom!
Muito Obrigado!
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